De veto em São Paulo ao pódio em Tóquio, skate travou luta contra preconceito

As duas medalhas de prata obtidas pelo skate nos primeiros dias de competição nos Jogos de Tóquio foram suficientes para colocar a modalidade em evidência aos olhos dos brasileiros que estão acompanhando o evento por aqui. A proeza de Kelvin Hoefler e Rayssa Leal popularizou um esporte que, estreante nesta Olimpíada, está sendo muito bem representado pelo Brasil. Mas nem sempre foi assim. Marginalizado nos anos 70 e até proibido por lei no fim da década de 80, o esporte sobre rodinhas começa, agora, a marcar uma reviravolta em sua trajetória. São anos de luta de seus praticantes.

Em tempos de redes sociais, o feito obtido do outro lado do mundo foi comemorado por quem ajudou a dar luz aos skatistas em tempos complicados. A deputada federal Luiza Erundina (PSOL_SP) foi quem liberou a prática do skate durante o seu mandato à frente da prefeitura de São Paulo (1989 e 1992).

“E a nossa primeira medalha na Olimpíada de Tóquio veio justamente do skate, com o atleta Kelvin Hoefler. Hoje um esporte olímpico, no passado, discriminado e proibido em São Paulo, que Erundina liberou! Parabéns Kelvinho”, citou a postagem feita em seu Twitter.

A postagem nos remete a um tempo em que o skate não era bem visto no Brasil. De origem americana, a modalidade teve o seu boom inicial no fim dos anos 70. Nessa época surgiram as primeiras pistas em São Paulo. Grandes cidades como Rio e Porto Alegre também seguiram a onda.

Sem forte apelo nos anos seguintes, os praticantes paulistanos passaram a se reunir no Parque do Ibirapuera. Logo, o local tornou-se um ponto de encontro para esses adeptos. Algumas publicações especializadas como a Overall e a SKT News, que surgiram a partir de 1985, ajudaram a dar visibilidade para a modalidade.

Mas foi justamente uma proibição em 1988 que acabou dando mais força para quem se empenhava na prática de se equilibrar sobre as quatro rodinhas. Inicialmente, o prefeito Jânio Quadros vetou o uso de skate no Parque do Ibirapuera. Um protesto de skatistas contra essa medida aumentou o rigor da prefeitura e, por meio de um decreto de junho de 1988, o veto se estendeu para toda a cidade.

A medida provocou uma manifestação que juntou cerca de 200 pessoas na altura do metrô Paraíso. Entre as reivindicações dos skatistas, estava o pedido da construção de um espaço para que os esportistas pudessem praticar a modalidade. Apesar da restrição, campeonatos continuaram a ser organizados e eram comuns os atritos entre praticantes e a guarda municipal da prefeitura. Essa rusga só terminou com o ato de Erundina a partir do seu mandato.

O surgimento de campeonatos com maior visibilidade nos anos 90 atraiu nomes como os norte-americanos Tony Alva e Tony Hawk. O intercâmbio foi fundamental para o surgimento dos primeiros skatistas da história do país como Lincoln Ueda, Sandro Dias e Bob Burnquist. O movimento veio a partir daí. A modalidade street, que se caracteriza por simular a paisagem urbana, tornou o skate ainda mais forte e a evolução de manobras mais diversificadas foi bem assimilada no Brasil. O apoio da mídia ajudou a popularizar o esporte e os documentários especializados tiveram papel importante para melhorar a imagem do skate.

Pioneiro e um dos grandes nomes dessa prática, Bob Burnquist foi eleito, em 1997, o melhor skatista do mundo. A criação da CBSk (Confederação Brasileira de Skate) a partir de 2000 alavancou a construção de centenas de pistas no Brasil. Com mais de 2,5 milhões de adeptos e o surgimento de novos valores como Rayssa Leal, Pâmela Rosa e Kelvin Hoefler, o Brasil passou a ser uma referência no esporte. Desde o fim de semana, começou a fazer história na Olimpíada.

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