“Buscamos mesclar a modernidade com a manutenção da estrutura histórica. Afinal de contas, é um estádio com muita história no futebol internacional”, diz, com orgulho, ao Estadão o diretor do Centenário, Ricardo Lombardo. “O Centenário tem essa magia e agora é mais moderno”. Ele cita como elementos que provam que a essência do local foi preservada o fato de não ter havido alteração na fachada e na Torre das Homenagens, monumento de 100 metros de altura declarado patrimônio histórico de Montevidéu. Em seu gramado, Palmeiras e Flamengo vão decidir o torneio mais importante da América do Sul, repetindo a fórmula da Conmebol das últimas edições de partida única num local previamente escolhido.
“Temos ao redor do mundo estádios com estruturas modernas, mas que não têm história. Seria um crime para nós se fosse construído um novo estádio no lugar do Centenário, como fizeram com o Wembley, em Londres, por exemplo”, compara Lombardo, fazendo referência ao famoso estádio inglês situado em Londres, fundado em 1923 e depois demolido em 2003, para que um novo campo fosse erguido ao custo de mais de R$ 2 bilhões.
O Centenário ganhou um gramado novo, os assentos nas arquibancadas foram restaurados, assim como a área de imprensa, a cabine principal de transmissão, os banheiros e as tribunas onde a Conmebol acomodou camarotes. Os vestiários foram ampliados e ganharam uma área para os jogadores se aquecerem. As arquibancadas onde ficarão torcedores de Flamengo (tribuna Colombes) e Palmeiras (tribuna Amsterdã), atrás dos gols, foram pintadas. No campo, pode-se notar a presença de um novo banco de reservas. A obra foi encerrada no início deste mês.
A maior mudança foi feita onde a bola rola, com a colocação de um novo gramado. O sistema de drenagem foi alterado e foi instalada grama sintética ao redor do campo. Uma empresa brasileira ficou responsável pelo serviço de remoção do antigo piso desgastado e do novo campo. Todo o processo durou quatro meses.
“Modificamos totalmente o gramado, que era muito antigo, para novas plantações, o que nos permite ter melhor nivelamento, maior resistência e densidade, e torna o campo de jogo apto para o futebol profissional”, explicou Maristela Kuhn, engenheira agrônoma brasileira que trabalhou na troca da grama.
Grande parte da reforma foi bancada pela Conmebol, que geralmente financia melhorias pontuais em estádios que usa, mas desta vez a ajuda foi maior como sinal de agradecimento ao governo uruguaio, que intermediou a doação de vacinas contra a covid-19 do laboratório chinês Sinovac para a entidade sul-americana repassar aos jogadores e funcionários de seleções e clubes do continente. Foi uma das primeiras iniciativas nesse sentido.
Também há, agora, rede wi-fi que alcança todo o Centenário, fruto da instalação da rede de fibra óptica no local. Foram instalados refletores de LED, que duplicaram a luminosidade em relação à antiga. A parte elétrica e hidráulica foram renovadas. Tudo para deixar o lendário estádio apto a ser palco de jogos importantes. E isso inclui partidas da Copa do Mundo de 2030 que o Uruguai pretende organizar junto com Argentina, Chile e Paraguai. A “cancha”, apesar de carregar esse nome, se tornará centenária daqui a nove anos. O nome se deve à celebração do 100º aniversário da Primeira Constituição do Uruguai.
“Para 2030, temos que fazer mais um bocado de coisas, mas é certo que poderíamos receber com competência a Copa do Mundo mais uma vez”, considera Lombardo. O Centenário, aliás, foi o primeiro estádio a abrigar uma final de Mundial. Em junho de 1930, 93 mil pessoas assistiram à vitória do Uruguai sobre a Argentina na decisão. O fato é um dos momentos mágicos do Centenário.
PELÉ E MARADONA JÁ ATUARAM NO CENTENÁRIO – Neste sábado, o Centenário, que já viu desfilar em seu gramado Pelé, Maradona e tantos outros craques, será palco de uma final de Libertadores pela oitava vez. Atualmente, o local, com capacidade para 61 mil espectadores, se mantém com recursos próprios da renda proveniente de eventos. Lá, são realizados jogos do Campeonato Uruguaio, Sul-Americana, Libertadores, e também atividades culturais, como shows de artistas locais e internacionais.
“Tivemos muita dificuldade em virtude da pandemia. Não podemos fazer espetáculos e sofremos muito com ele fechado. Fizemos uma economia de guerra. Agora, com o aporte da Conmebol, as coisas melhoraram”, relata Lombardo.
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