Dirceu Antonio Ruaro
Às vezes penso que é pura perda de tempo querer explicar certas coisas aos adolescentes e jovens de hoje.
Não que eu esteja “absolutamente decepcionado” não é isso. Mas estou, sim, “absolutamente preocupado”.
Tenho observado adolescentes e jovens, para ser mais exato, adolescentes e jovens que estão no ensino médio e universitário, respectivamente, que não sabem ouvir uma crítica, um “não” ou seguir regras, sem “choramingar”.
Deus do Céu, que tipo de pessoas serão no futuro?
Não se pode mais dizer nada que tudo é levado para o chororô. Estava refletindo sobre isso e, ao pesquisar, encontrei uma categoria ou, se quiserem, uma classificação, para esse tipo de pessoas “ geração floco de neve”.
Segundo especialistas, a “geração floco de neve” (“snowflakes”), “milênio” (“millenial”) ou geração “Y”, é uma geração formada por pessoas extremamente sensíveis em pontos de vista que desafiam sua visão de mundo, jovens adultos que se acham melhores e mais especiais que os outros e são tratados como flocos de neve, pois “derretem” com muita facilidade.
É interessante entender de onde vem, ou qual a origem dessa denominação. Essa expressão teve origem no filme “Clube da Luta”, quando Brad Pitt fala “vocês não são especiais, não são um floco de neve, o único, o singular. Vocês são feitos da mesma matéria de que vai se decompor como todo mundo”.
De acordo com os especialistas do estudo do comportamento, essa geração geralmente tem a atitude de filtrar e só permitir entradas de opiniões que não irão ferir sua sensibilidade, tendo como suas possíveis consequências à preparação de mentes frágeis do ponto de vista da saúde mental e maus profissionais para o mercado, já que sempre vai existir a diversidade de pensamentos e comportamentos entre as pessoas.
E por que essas pessoas são assim? E como estamos educando os filhos, hoje, para atuarem num mundo adverso e competitivo como é o atual e, pior ainda, como será no futuro próximo?
Ninguém é melhor do que ninguém. Ninguém é especial. Lógico que, somos singulares na nossa maneira de ser, mas somos todos iguais, com a mesma dignidade humana.
E esta é uma preocupação imensa. Tenho visto que muitas famílias tratam os filhos como se fossem a oitava maravilha do mundo, “os melhores” de todos.
Não é bem assim. Quando tratada como “a melhor” a criança vai crescendo com muita pressão vinda das pessoas ao seu redor, tanto para sobrevivência financeira quanto para suas ações, que devem ser sempre extremamente legais, amáveis e corretos, havendo assim certo determinismo sócio histórico pressionando e fazendo com que essas crianças cresçam como uma grande projeção narcísica dos pais, que sempre se enchem de expectativas sobre os filhos, imaginando e, criando, assim, uma personalidade que seus filhos devem seguir.
Ao idealizar a vida e o mundo para os filhos, os pais não percebem o quanto os estão prejudicando, pois não saberão nunca lidar com problemas e desafios reais, quando a vida se apresentar nua e crua, como ela é.
A dependência dos pais não pode ser eternizada. É preciso ensinar responsabilidade aos filhos. É preciso ensinar os filhos a entenderem que um “não” não é o fim do mundo. É preciso ensinar aos filhos que a vida vai lhes trazer frustrações. É preciso prepará-los para enfrentar a vida real.
Pais que criam os filhos na visão da chamada “geração floco de neve” estão criando pessoas que se negam às frustrações da vida cotidiana, buscando sempre estarem em suas zonas de conforto, na “mesmice” não há espaço para novas experiências e, portanto, novos possíveis fracassos.
Ora, os filhos precisam aprender a capacidade de reconhecer e conviver com o diferente e a diversidade, pois esse é o discurso das atuais gerações. Mas é só o discurso. Quando se deparam com qualquer negativa, se melindram, se retraem e correm para os braços do pai e da mãe.
Ah, estava esquecendo de dizer que “a geração floco de neve” dá uma de frágil, de vítima. Ofendem-se por qualquer coisa e buscam as compensações e a culpabilização dos outros, porque não sabem lidar com as suas próprias frustrações.
Cuidado, pai e mãe, é preciso ensinar aos filhos que os outros são pessoas como eles, que sentem, têm ideias, têm capacidades, têm sonhos e tomar cuidado para não criar um filho “dodói”: Tudo dói, tudo ofende, tudo é preconceito.
Quero me dizer aos adolescentes e jovens, que por ventura possam estar lendo esse texto e com ênfase aos pais: nem tudo dói, nem tudo ofende, nem tudo é preconceito.
Ensine seu filho a ter uma vida melhor, mais humana, mais humanizada e tente entender que, na vida, há lugar para todos, não só para os que se julgam “os melhores” e “sensíveis”.
Ensine seu filho a dar o mesmo respeito que ele exige dos outros. Ensine que a vida é um caminho de mão dupla: para ser respeitado é preciso aprender a respeitar, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, psicopedagogo Clínico-Institucional e pró-reitor Acadêmico Unimater
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