Estamos sós e nenhum de nós sabe onde vai parar

            A mudança epocal gritante, que estamos atravessando de corpo e alma, muito nos tem ensinado ou pelo menos deveria nos ensinar sobre muitas coisas que não funcionaram lá atrás e que teimosamente muitos ainda hoje trazem elas carregando nas costas, mesmo que isso venha a causar sacrifícios imensos para todos, como de fato vem acontecendo queiramos ou não admitir. Essa nossa viagem rumo ao desconhecido tem causado muitos estragos, não à toa, muitos dizem das tantas coisas que vivenciamos, sejam elas ou más, também vivemos a era do pensamento desértico, isto é, pensamos que pensamos seriamente, mas no fundo nosso pensamento conjugado com o agir imediato, não condiz em nada com a realidade que presenciamos; estar no deserto das vacuidades pode parecer à primeira vista que não se tem salvação, mas talvez seja aí que resida a nossa libertação.

            Uma dessas viagens, na qual estamos juntos, mesmo que sem sermos seriamente convidados, chama-se “Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024 ou Conferência das Partes da UNFCCC, mais comumente conhecida como COP29”, essa é já a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as amplas e profundas crises climáticas que atingem o Planeta de ponta a ponta. Nesse momento ela está em plena ebulição, se desenrolando em Baku, Azerbaijão, uma ex-república soviética, de 11 a 22 de novembro de 2024. Não causa nenhuma estranheza que essa reunião venha recebendo pouca atenção da nossa parte, pois no jogo de alta voltagem muitas peças são tidas como descartáveis, apesar de a ONU representar todos os países, temos a sensação que não somo representados e levados a sério como deveríamos; é apenas mais um detalhe solto.

             A COP29, com todas as suas esperanças e também seus defeitos, deve mesmo assim ser levada a sério por nós ou pelo menos deveria ser assim, levada em conta, mesmo que em míseros conta gotas, nossas vidas e destinos encontram-se em jogo, nosso futuro, nossa sobrevivência, nosso mundo, tudo , pois nada está desconectado de nada, tudo está ligado a tudo, onde quer que andemos, onde quer que coloquemos nossas mãos. Os integrantes da CPO29, tem nas mãos uma responsabilidade imensa, pois são muitas coisas acontecendo, que todos deveríamos prestar atenção, isto é, o atual momento político global com seus altos e baixos, guerras vergonhosas e criminosas, que mancham a humanidade inteira, a inteligência artificial passando-se por boazinha e inocente, quando ela deveria estar sendo avaliada de modo sério e não levianamente como vem acontecendo até agora.

            Todas as conferências sobre o clima que já aconteceram num passado recente, todas sem exceção deixaram um rastro por mínimo que seja de esperança, mas no mais das vezes ela deixou sim um gosto amargo de desilusão e pouca vontade política por parte dos envolvidos, os dilemas, ao invés de diminuírem, aumentaram, muitos deles chegando às raias do absurdo definitivo, causa estranheza e muita dúvida, que essas conferencias do clima sempre são presididas por pessoas que jamais deveriam presidir as mesmas, por outras palavras, são pessoas ligadas a grupos poderosos de energias poluentes, lobistas da engrenagem petrolífera, que no mais das vezes tentam dificultar ao máximo qualquer passo para a mudança de novos hábitos climáticos e existenciais; isso mostra claramente o quanto ainda estamos minúsculos diante da tarefa gigantesca que está bem aí na frente.

            Bioeticamente, a nova COP29, é mais uma oportunidade, mais uma ocasião para se alertar, o quão perigoso está viver nos dias atuais, otimismo sempre, mas com as devidas ressalvas, pois nesse terreno nebuloso e arenoso que é a política mundial, especialmente pelo atual momento conturbado que passamos, decisões são tomadas ao sabor dos ventos, quase sempre não levando em conta o interesse da maioria, não raro essas conferências que deveriam tratar nosso destino comum, com a máxima urgência e respeito que tal gesto merece, assistimos cenas lamentáveis de discursos totalmente desconectados, muitos mais empolgados com o sabor do cafezinho e champanhe servidos nos corredores desses eventos, do que com o destino da humanidade; que o nosso amado Brasil, também presente nesse evento épico, não seja mais uma vez, um figurante ou mesmo até frustrante.  

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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