Gilberto Santos Andrade
Muitos devem ter passado pela experiência ou conhece alguém que utilizava um inseticida e com o tempo esse produto já não funcionava como antigamente. Na verdade, a probabilidade disto acontecer com todos os produtos a longo prazo é de 100% e por mais que tenhamos desenvolvido produtos mais modernos, as perdas provocadas por pragas não vêm reduzindo em todo o mundo. Pelo contrário! Isso é a resistência que tantos falam.
Insetos são animais antigos com 360 a 400 milhões de anos de evolução. Portanto, eles passaram pelas mais adversas situações, adaptando-se a vários compostos químicos de plantas, sobrevivendo a mudanças na composição do ar atmosférico, temperatura e umidade ao longo desses milhões de anos, levando a necessidade de adaptações fisiológicas para sobreviver, como resultado dessa interação química e física.
Quando tratamos de resistência de insetos a inseticidas, devido a utilização de um único modo de ação de um produto ou uso constante de um conjunto de mecanismos ao longo do tempo, deve-se entender que indivíduos possuem mecanismos que podem impedir que a quantidade adequada de produtos atinja o local ação do inseticida no corpo dos insetos. Esses mecanismos podem ser elencados como comportamental, menor penetração cuticular, destoxificação metabólica, reclusão em estruturas insensíveis e redução da sensibilidade do sítio de ação.
Para que insetos se alimentem de uma planta, ele precisa reconhecer as substâncias químicas ali presente. Se o estímulo é positivo ao inseto, ele inicia a alimentação. Caso contrário, ele irá se deslocar desse local ou não irá se alimentar. Isso ocorre devido a presença de receptores no aparelho bucal, pernas e em outras partes do corpo que reconhecem compostos químicos. Assim, quando aplicamos um produto, alguns indivíduos irão perceber o inseticida e se deslocarão do local de maior para menor concentração do produto. Isso é um mecanismo comportamental. Sendo adultos, poderá voar desses ambientes até que as concentrações químicas voltem ao estado de não reconhecimento pelos receptores químicos dos insetos.
Os insetos possuem um exoesqueleto, uma proteção natural externa do seu corpo que o protege de fatores naturais de mortalidade. A espessura e natureza química deste tegumento pode variar ligeiramente entre indivíduos da mesma espécie numa população. Isso pode evitar que inseticidas atinjam a parte celular do corpo dos insetos e, inevitavelmente, provocará falhas no controle. Mas, ainda, o inseticida pode atingir partes internas do corpo dos insetos, mas mecanismos de reconhecimento de substâncias diferentes das que são produzidas pelo organismo podem modificar o inseticida para uma forma pouco ativa ou totalmente inativa. Portanto, a concentração do produto que deveria atingir órgãos específicos no inseto fica comprometida, não controlando esses insetos, os quais irão sobreviver e passar essa resistência para sua progênie (prole).
Insetos possuem uma série de predadores. Uma das estratégias de evitar a ser predado pode ocorrer em algumas espécies da seguinte forma: substâncias nocivas ao predador são obtidas através da alimentação do inseto. Essas são depositadas em locais como no corpo gorduroso do inseto (um órgão que funciona como se fosse um fígado digamos). Mais e mais substâncias vão se acumulando sem que isso provoque qualquer mal ao inseto. No entanto, quando um predador (um pássaro, por exemplo) tenta se alimentar deste inseto sentirá os efeitos negativos da substância que foi produzida na planta e acumulada no corpo do inseto. O predador, assim, evitará aquela presa na próxima vez. Por um acaso, alguns indivíduos na população de pragas irão fazer essa mesma estratégia com compostos inseticidas. Ao aplicar um inseticida, elas serão carreadas para pontos ativamente insensíveis, não provocando a morte do inseto, pois não é o local de ação do inseticida.
Por fim, uma outra forma do inseto ser resistente aos inseticidas será divido a uma mudança na estrutura de ligação do inseticida no corpo inseto, chamado de receptor. Essa alteração em alguns indivíduos não provocará a morte deles por falhas na ligação química necessária para desencadear seus efeitos.
Portanto, os insetos possuem diferentes estratégias de resistência que evoluíram com o tempo. O problema começa a se agravar quando os insetos sobreviventes se acasalam e aumentam a frequência de insetos na população mais e mais resistente, chegando ao ponto que esses resistentes são tão comuns que começamos a perceber falhas no controle que não são explicadas por questões climáticas ou operacionais. Dessa forma pode ocorrer uma resistência chamada cruzada, quando um desses mecanismos citados acima irá conferir resistência a dois ou mais compostos químicos, geralmente relacionados em seu modo de ação. Mas pode piorar. A resistência pode ser múltipla, quando mais de um mecanismo de resistência coexiste conferindo resistência a dois ou mais compostos químicos.
O que fazer? Esse processo é chamado de evolução, uma mudança de frequência gênica na população de pragas ocasionada por uma pressão de seleção. Mas há como retardar seus efeitos através da rotação de produtos químicos com mecanismo não relacionados, seguir os preceitos do Manejo Integrado de Pragas, utilizando-se das mais diversas táticas e estratégias de controle e, neste mesmo sentido, monitorar esses insetos, seguir as recomendações do fabricante dos inseticidas contidas na bula do produto e sempre se valer de Engenheiros Agrônomos que possam orientá-los na melhor forma de manejo das pragas em suas lavouras.
Dificilmente novos mecanismos de ação de inseticidas serão lançados a curto/médio prazo. Portanto, o controle de pragas deve ser conduzido também por métodos preventivos de redução dessa resistência para minimizar as perdas crescentes ocasionadas por pragas.
Laboratório de Entomologia, Departamento Acadêmico de Ciências Agrárias – UTFPR/PB