Estrutura do Ferroviário de União da Vitória vai a leilão

Por Wannessa Stenzel – Jornal O Comércio

A notícia surpreendeu boa parte da sociedade do Vale do Iguaçu. A estrutura do Ferroviário Esporte Clube  de União da Vitória, localizado na rua Demétrio Sokolowski, na área central, será colocado à venda no dia 05 de julho deste ano, às 10 horas, pelo maior lance – exclusivamente on-line no site do leiloeiro Simon Leilões. Há 88 anos o local é consolidado no Vale do Iguaçu e região pela prestação de serviço à comunidade e também como palco de inúmeras atividades esportivas.

O local é de responsabilidade do Fundo Previdenciário do Município de União da Vitória (Fumprevi) que se encontra em difícil situação financeira. A administração de União da Vitória sugere que esta alienação (que é a transferência para outra pessoa de um bem ou direito) poderá salvaguardar o déficit do Fundo. Até o momento não foi cogitado sobre qual será o destino do Ferroviário Esporte Clube.

Segundo o site Simon Leilões o lance inicial está em R$14.500.000,00. Segundo portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU) o leilão único, anunciado na semana passada, será dividido em três lotes: o primeiro na rua Marechal Deodoro, com área de 20.969,48m² e lance inicial de R$ 14.500.000,00; o segundo na Rua Marechal Deodoro, com área de 4.478,73m² e lance inicial: R$ 3.437.552,00; o terceiro na Rua Marechal Deodoro, com área de 1.962,22m² e lance inicial: R$ 1.553.088,00.

Patrimônio histórico

A decisão da venda do espaço que abriga o Ferroviário Esporte Clube causou insatisfação, em especial de seus entusiastas e apoiadores. O advogado e atual presidente da entidade, Nelson Pedroso, defende uma mobilização para suspender o leilão. “Não restam dúvidas de que fomos pegos de surpresa com esta notícia, pois a celeridade em que marcaram o leilão foi inusitada. Juridicamente estamos tomando todas as providências possíveis para salvaguardar este patrimônio que é de grande interesse público. Quanto ao leilão existem interesses diversos que o próprio ato irá demonstrar que alguém quer levar vantagem com à venda. A avaliação é totalmente fora da realidade imobiliária caracterizando-se em prática de preço vil (que é quando o valor da arrematação é muito baixo. Se algum bem do seu patrimônio foi leiloado por valor vil, isso pode gerar a anulação do leilão). A preservação deste patrimônio histórico necessariamente tem que ter a participação de toda a comunidade”, disse.

Durante a Reunião Ordinária da Câmara de Vereadores de União da Vitória na segunda-feira, 20, o leilão do Ferroviário foi um dos temas abordados. “Se desfazer de outros patrimônios não irá sanar o problema do Fumprev. A dívida do fundão irá acarretar problemas gravíssimos para o município”, disse o vereador Emerson Lourenço.

O vereador Anderson Cardoso também questionou o valor do lance inicial e acrescentou estar muito abaixo do que ele realmente vale. Pontuou ainda que o assunto deve ser resolvido junto ao Executivo e que os vereadores não poderão intervir no atual momento dessa situação.

Pelas redes sociais, o presidente do Ferroviário fez questão de tornar pública a sua opinião. “Primeiramente o que se deve esclarecer é que o terreno foi passado para a Prefeitura de União da Vitória pela União quando da privatização da Rede Ferroviária Federal e, por meio de Dação em pagamento o Município repassou o referido terreno para o Fumprevi como forma de amortização da dívida em face do Sistema Previdenciário dos Servidores Públicos Municipais, contudo, todo o patrimônio, benfeitorias, manutenção, glórias e história esportiva e cultural foram constituídos pelo suor, dinheiro e abnegação dos operários Ferroviários e, esses pressupostos não pertencem ao Município, mas sim ao povo de União da Vitória e, de forma alguma podem ser vendidos”.

Ferroviário Esporte Clube nasceu como entidade com a construção do espaço e com a inauguração dele em maio 1944 e posteriormente, em 1º de maio de 1964 a construção do Estádio Eneias Muniz de Queiroz. Entre outros momentos importantes na história de ambos estão as conquistas na Liga Esportiva Regional Iguaçu (Leri) e o título de campeão da Primeira Taça Paraná de Futebol Amador.

De acordo com Nelson Pedroso Ferroviário é apontado como um dos mais tradicionais espaços esportivos do Vale do Iguaçu. As atividades realizadas no Clube e no Estádio são abertas à comunidade, tendo a bocha como o carro-chefe das ações e das competições.

O jornalista Ricardo Silveira pontuou que o Clube Ferroviário foi palco de importantes competições de bocha, inclusive suas canchas foram consideradas por especialistas como uma das melhores do Sul do Brasil. Acrescentou que o complexo esportivo, que conta com o Estádio Eneias Muniz de Queiroz, contou com jogos da Liga Esportiva Regional Iguaçu (Leri), além do título de Ferroviário da Primeira Taça Paraná de Futebol Amador. Ali a Associação Atlética Iguaçu iniciou sua história no futebol profissional de União da Vitória. “Inúmeros jogos do Campeonato Paranaense lotaram as arquibancadas do estádio”.

Também foi no local que, com o apoio voluntário do advogado, entusiasta e desportista Valdir Gehlen, nasceu no Clube Ferroviário, a conhecida Escolinha de Futebol VG Ferroviário, que já treinou mais de três mil atletas. Além de proporcionar o esporte, a escolinha tem o papel importante na formação dos jovens como cidadãos.

Ricardo lembrou ainda que não foi apenas no esporte que o Clube Ferroviário se destacou. “Em um dos episódios mais tristes da história do Vale do Iguaçu, a enchente de 1983, o complexo abrigou pessoas que perderam seus pertences com a cheia do Rio Iguaçu”.


Administração

O prefeito de União da Vitória, Bachir Abbas, disse que essa discussão deveria ter acontecido anos atrás. Acrescentou que os pagamentos junto ao Fumprevi aconteceram em 2014, 2015 e 2018. “Foi aprovada uma lei na Câmara pela Comissão do Fundo e, que agora com o Fumprevi sem recursos, será necessária a venda do espaço para ser transformado em dinheiro. O imóvel é do Fumprevi e a discussão sobre o assunto deveria ter acontecido quando a comissão do fundo e os vereadores fizeram a doação e aceitaram o imóvel como pagamento para compensação do Fundo de Previdência”.

Administração de União da Vitória divulgou uma nota sobre o leilão no dia 15 de junho:

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