Flori Antonio Tasca
Na edição de dezembro de 2012 da “Intercom – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação” foi publicado um artigo com reflexões acerca das estruturas psíquicas e a prática do cyberbullying no contexto da escola. O trabalho é da autoria de Jefferson Cabral Azevedo, Fabiana Aguiar de Miranda e Carlos Henrique Medeiros de Souza.
O objetivo do estudo foi refletir sobre a potencialização do bullying por meio dos ambientes virtuais e relacionar essa situação com as estruturas psíquicas dos sujeitos envolvidos. Com o advento da internet, o cyberbullying, isto é, o bullying cometido por meio eletrônico, se tornou uma nova forma de agressão e ameaça, além de um problema cada vez mais sério para as escolas e para a sociedade. Os autores refletem sobre a violência no âmbito escolar, sugerindo que ela decorre também da violência social.
Na opinião deles, o cyberbullying tem particularidades que o tornam um fenômeno ainda mais cruel que o bullying em geral. Diferentemente do assédio presencial, nas agressões virtuais não é necessário que haja repetição da ofensa. Uma única agressão já se estende rapidamente para mais pessoas, devido à velocidade da propagação das informações. Como não é necessário mais um local físico, até mesmo o lar deixa de ser um refúgio para a vítima, pois ela acessa em casa a internet e ali recebe as ofensas.
O ambiente digital seria uma extensão do pátio da escola, permitindo que as agressões continuem por longas horas após o horário de aula. Eventualmente, algumas vítimas também passam a usar a internet como forma de se vingar das agressões sofridas na escola. A isso se soma a questão do anonimato e o fato de alguns jovens entenderem que não existem normas, regras e nem moralidade a regular a vida em ambiente virtual. Isso sem contar que muitas das agressões virtuais são vistas como “normais”. E tudo isso com um número de espectadores muito superior ao que teria uma agressão física.
Diante disso, é evidente que o cyberbullying é capaz de provocar problemas de ordem psíquica. Ao tratar dos problemas psicológicos associados a esse problema, o estudo lembra que o bullying remonta às bases da formação da personalidade e sua relação com os fatores ambientais. Segundo a psicanálise, o agressor é um sádico, no sentido de que exercita a violência ou o poder contra outra pessoa. Pode-se dizer que o agressor se identifica com a vítima e necessita dela para que possa ser reconhecido. O agressor seria inclusive dependente da vítima, pois somente por meio dela é que pode se sentir seguro.
A vítima, por sua vez, por ser exposta a situações de humilhações e agressões físicas ou psíquicas, como no caso do bullying virtual, pode adquirir vários transtornos, como a baixa autoestima, depressão, pensamento e ações suicidas e violência explícita contra o agressor ou o meio social. Apesar desses entendimentos, os autores observaram que não se pode reduzir os processos sociais e psicológicos a um simples sistema baseado em causa e efeito. Mas concluíram que a propagação extremamente rápida da violência, por meio de redes sociais, traz impactos irreparáveis ao psiquismo e vida social das vítimas.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br