Padre Judinei Vanzeto
A Igreja Católica, neste último domingo, dia 21, celebrou a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Celebração esta que marca a conclusão do Ano Litúrgico. Nesta celebração o Evangelho proposto para reflexão foi exatamente o de João 18, 33-37, ou seja, o relato do último debate entre Jesus e Pilatos, entre um homem ferido e dilacerado e o poder imponente e cruel de Roma.
Por que diante de Pilatos, Jesus, sozinho, desarmado e derrotado, afirma: “eu sou rei” (v. 37)? Como compreender esta afirmação paradoxal? Pilatos somente conhece os reinos deste mundo, com seus poderes e domínios autoritários. Não consegue entender do que Jesus está falando. O Mestre lhe explica: “O meu reino não é deste mundo” (v. 36). É então um reino projetado a um paraíso do futuro; é puramente espiritual, sem incidir na história?
O reino de Jesus não elimina ninguém, ao contrário, ele se apresenta para morrer; não manda nos outros, obedece ao Pai e à dinâmica do amor, que sempre se doa; não faz aliança e conchavos com políticos poderosos, mas se põe ao lado dos humildes, dos fragilizados, dos enlutados e desalentados.
Neste sentido, ao afirmar que é um rei de identidade tão diferente, confirma que seu reino busca a verdade; e é, efetivamente, a verdade. Não como uma teoria que se ensina e aprende com a mente nas escolas e universidades ateias, mas para testemunhar o projeto de um mundo novo. Ele era prenunciado pelos profetas, agora mostrado presente na vida e na obra em prol do bem comum.
Afora destes paradigmas, a solenidade de Cristo rei pode ser entendida com muita ambiguidade. O Reinado de Cristo se estabelece e cresce onde há manifestação de atitude de serviço, a doação gratuita e generosa doação em prol dos irmãos e irmãs a margem da periferia humana, onde cresce o respeito pelos outros, pelos diferentes, o encontro, o diálogo, onde se estabelecem pontes e não muros entres as pessoas, as nações e vizinhos.
Conta uma parábola que um homem, durante a noite escura e ventosa, tentou, mais vezes, acender uma lamparina, mas o vento a apagou. Então ele concluiu: esperarei o sol nascer! Entre os tropeços e quedas de nossa vida e seus sonhos, mesmos com as dolorosas consequências da pandemia do Covid-19 para os diversos segmentos da sociedade, mesmo acendendo nossas pequenas lâmpadas da fé, esperamos sempre o nascer do sol da esperança.
Portanto, o evangelista João esclarece em que consiste o Reino de Deus encarnado em Cristo. Com a mesma palavra “reino” podem ser interpretadas realidades complemente opostas. Para os homens significa domínio, glória, vitórias; para Cristo, é unicamente a aceitação do espírito de serviço e doação. Não obstante, entre os próprios cristãos, em pleno século XXI existe uma dificuldade enorme de seguir os ensinamentos do Mestre que colocou a sua vida a serviço da humanidade.
Por fim, é muito comum entre os batizados, membros de comunidades, a presença do individualismo, fruto de uma sociedade líquida e descartável. Pessoas que não entenderam que ser batizado é seguir os mesmos passos de serviço de Cristo Reino do Universo.
Jornalista, diretor administrativo da Rádio Vicente Pallotti, gestor da Unilasalle/Fapas Polo Coronel Vivida e pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida-PR
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