Para gerações de militares americanos, a Base Aérea de Bagram foi uma porta de entrada e saída de uma guerra que atravessou mudanças constantes no campo de batalha e nas presidências americanas. Mas a retirada final, durante a noite de quinta-feira, ocorreu discretamente, sem nenhuma cerimônia pública e em uma atmosfera de grave preocupação com a capacidade das forças de segurança afegãs de conter os avanços do Taleban em todo o país.
A saída silenciosa da base, semanas antes da planejada retirada das tropas americanas – dentro de 15 dias -, e meses antes de o presidente Joe Biden anunciar a saída do Afeganistão, em 11 de setembro, destaca os esforços de Washington para sinalizar duas mensagens diferentes. Uma para os americanos: a de que a mais longa guerra do país está acabando, e outra para o governo afegão: que os EUA não estão abandonando o país no meio de uma ofensiva do Taleban e manterão alguma capacidade de realizar ataques aéreos, se necessário.
A retirada segue uma ordem emitida em abril pelo presidente americano para encerrar o envolvimento dos EUA na Guerra do Afeganistão. Mais de 2.400 soldados americanos morreram em 20 anos de conflito e pelo menos 20 mil ficaram feridos. Cerca de 47 mil civis também morreram no Afeganistão, assim como dezenas de milhares de integrantes das forças de segurança afegãs.
Autoridades militares americanas chegaram a considerar manter Bagram ativa por mais tempo, em resposta a uma ofensiva do Taleban, que cercou várias capitais de províncias. Mas, no fim, o governo Biden decidiu continuar seu plano de retirada. A base será entregue ao governo afegão, que enfrenta um conflito crescente com o grupo fundamentalista. “Estamos no caminho certo, exatamente onde esperávamos estar”, disse Biden ontem a repórteres na Casa Branca sobre a retirada.
Bagram estava operando em plena capacidade até quinta-feira. Caças, aviões de carga e aeronaves de vigilância usaram as duas pistas do aeródromo até que não fosse mais viável mantê-los no país.
Agora, o apoio aéreo às forças afegãs e a vigilância serão realizados de fora do Afeganistão, de bases no Catar e nos Emirados Árabes Unidos, e até mesmo de um porta-aviões no Mar Arábico. A Base Aérea de Bagram foi construída nos anos 50 pelos EUA em apoio aos afegãos e tornou-se um centro militar vital durante os dez anos da ocupação soviética do Afeganistão. Depois que os soviéticos se retiraram, em 1989, o Taleban e o que ficou conhecido como Aliança do Norte lutaram pelo controle da base.
Em 2011, no auge da guerra americana, a base aérea se transformou em uma pequena cidade, com dezenas de milhares de ocupantes, lojas e uma prisão militar dos EUA.
Proteção
Um contingente de 650 soldados permanecerá no país para proteger a embaixada americana na capital. Por quanto tempo esse tipo de apoio continuará não está claro, mas o Pentágono tem até 11 de setembro – quando a missão militar americana deve ser formalmente concluída – para decidir.
A partida ocorre em um momento perigoso para o Afeganistão. Algumas estimativas da inteligência dos EUA preveem que o governo afegão pode cair nas mãos de seus rivais do Taleban em seis meses a dois anos, após os americanos completarem sua retirada.
O Taleban está se aproximando cada vez mais de Cabul, depois de ter conquistado cerca de um quarto dos distritos afegãos nos últimos dois meses. Centenas de membros das forças de segurança afegãs se renderam nas últimas semanas, enquanto seus contra-ataques recuperaram pouco território do Taleban.
À medida que as forças afegãs se dividem, as milícias regionais aparecem com destaque renovado, em um eco do caminho que levou à guerra civil na década de 90. Há tempos teme-se um retorno à era turbulenta dos senhores da guerra.
A Guerra do Afeganistão começou em outubro de 2001 com a missão de caçar o líder da rede Al-Qaeda, Osama bin Laden, mentor dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA. O terrorista saudita foi morto em 2011 em uma operação dos EUA no Paquistão, onde ele estava foragido. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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