O sistema de saúde indiano entrou em colapso. No domingo, oito pessoas morreram em Nova Délhi por falta de oxigênio. A maioria dos hospitais da capital não recebe mais pacientes. O país vem registrando 350 mil novos casos e 2,8 mil mortes por dia. Parte da culpa é de uma nova variante, mais contagiosa, mas muitas críticas também foram disparadas contra o premiê, Narendra Modi, que não adotou medidas restritivas e minimizou a pandemia.
O agravamento da crise indiana, no fim de semana, levou o governo de Modi a pedir ajuda. E o mundo atendeu. Oxigênio foi despachado ontem da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. Matéria-prima para vacinas foi enviada dos EUA. Equipamento médico e respiradores virão da França e do Reino Unido.
É pouco provável, no entanto, que a ajuda salve o sistema de saúda da Índia. A crise tem implicações globais, atrasa o retorno à normalidade em várias partes do mundo e afeta países que dependem da vacina da AstraZeneca, que é fabricada na Índia. “A situação é desesperadora”, disse Ramanan Laxminarayan, diretor do Centro de Economia, Política e Dinâmica de Doenças.
Até agora, quem mais se mostrou pronto para ajudar foi o presidente americano, Joe Biden. “Os EUA estão determinados a retribuir a ajuda que a Índia nos deu no início da pandemia, quando nossos hospitais estavam lotados”, disse Biden, no domingo. Por isso, o anúncio de ontem coloca a Índia no topo da lista para receber as vacinas.
Com três marcas disponíveis (Moderna, Pfizer e Johnson & Johnson), a Casa Branca considera que não precisará de mais uma vacina. “Não precisaremos usar a AstraZeneca nos próximos meses”, disse a porta-voz de Biden, Jen Psaki. Hoje, os EUA têm doses suficientes para imunizar toda a população e já aplicaram ao menos uma dose em 54% dos adultos.
Biden vem sendo pressionado a compartilhar doses com outros países.
Ontem, o governo americano disse que há 10 milhões de doses estocadas e outros 50 milhões que podem ser entregues entre maio e junho. Mas, antes de ser distribuída, a vacina precisa ser aprovada. Segundo Psaki, o processo será concluído “nas próximas semanas”. “No futuro próximo, daremos mais detalhes sobre quem receberá as doses”, disse.
O Brasil também está na fila e iniciou negociações com os EUA para importar vacinas em março. A movimentação aconteceu após pedido semelhante feito por outros países. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já se reuniu com o infectologista Anthony Fauci, chefe da força-tarefa da Casa Branca, e com o embaixador americano em Brasília, Todd Chapman. Até agora, segundo apurou o Estadão, os EUA alegaram limites legais para exportar vacinas.
Nos últimos meses, os americanos deram sinais de que o compartilhamento seria feito através do consórcio Covax, com o qual os EUA colaboraram com US$ 4 bilhões, para garantir uma distribuição equânime. Ontem, porém, a Casa Branca indicou que deve dar preferência à “relação direta” com aliados.
A estratégia do Brasil não é apenas tratar o tema como uma pauta humanitária, mas sinalizar a Biden que tem recursos financeiros para a compra das doses. Queiroga já afirmou que poderia realizar uma “permuta” com os EUA. A ideia é antecipar lotes de vacina que só chegariam no segundo semestre. Mais tarde, o mesmo volume seria entregue pela farmacêutica aos EUA, em vez de ao Brasil.
“Estamos empenhados em conseguir uma antecipação, uma troca. Os americanos não vão liberar vacinas antes que tenham vacinado toda a sua população, mas eles aceitam fazer permuta”, disse o ministro, em março, ao Senado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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