Nos últimos anos, o município diminuiu a produção leiteira; jovens indo embora do campo e o alto custo da atividade são as principais causas
Hoje, Chopinzinho, um dos maiores produtores de leite no Sudoeste, sofre com a falta de mão de obra no campo. Isso porque, os jovens têm cada vez mais optado por não dar sequência ao trabalho dos pais — situação bastante comum na agricultura em todo o país.
Com a falta de sucessores interessados em dar sequência ao trabalho da família, produtores rurais buscam por profissionais com experiência na área. Esse, é mais um problema. No município, segundo agricultores, não existem pessoas qualificadas para trabalhar no campo que estejam disponíveis ou que tenham interesse em aprender.
Diante disso, construiu-se ao longo de anos um perfil bastante comum da população na zuna rural de Chopinzinho — casais com mais de 40 anos de idade e idosos, que tem, em sua maioria, a agricultura como sua principal fonte de renda.
O engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente de Chopinzinho, Vanderlei Crestani, que atua junto do programa de Desenvolvimento Rural, diz que o campo está ficando velho. Segundo ele, a evasão dos jovens na zona rural do município é tão grande que quase não se vê adolescentes nas comunidades.
Com os jovens indo embora, há uma diminuição da mão de obra. E, por consequência, em alguns casos, agricultores vem vendendo suas propriedades, pois não conseguem manter o local sozinhos.
“O que acontece, é que o produtor vai envelhecendo e acaba não tendo mais força de trabalho. Por isso, se vê obrigado a sair da atividade [no caso a produção de leite] e acaba vendendo o rebanho dele para outro produtor que vai aumentar o seu, para atingir a escala de produção. E por isso, alguns, por força disso acabam vendendo a propriedade”, explica.
Com o envelhecimento dos produtores do município e a diminuição deles no campo, a produção de leite foi diretamente afetada, sendo possível notar uma queda nos últimos três relatórios emitidos pelo Núcleo Regional do Departamento de Economia Rural de Pato Branco (Deral).
“Está diminuindo a nossa produção de leite, assim como está diminuindo de toda região sudoeste. Como é cada vez menor o número de produtores, a produção também está baixando. Os que estão ficando no ramo estão concentrando, ou seja, aumentando o tamanho do rebanho para atingir escala de produção, porque os custos são altos”, disse Crestani explicando que “como o lucro por litro de leite é muito pequeno, o produtor tem que ter um volume bastante significativo para ter uma renda que possa compensar a atividade.”
Produção leiteira em Chopinzinho
Na microrregião de Pato Branco, composta por 15 municípios do Sudoeste, Chopinzinho é o município que mais produz leite. Somente em 2020 foram mais de 54 milhões de litros, conforme dados do Núcleo Regional do Deral em Pato Branco.
De acordo com Crestani, cerca de 500 produtores do município, praticamente todos da agricultura familiar, trabalham em escala comercial com a produção de leite, ou seja, com grandes quantidades.
O leite de Chopinzinho é considerado de boa qualidade, pois, atinge os requisitos estabelecidos na normativa 78 pelo Ministério da Agricultura.
Para incentivar os agricultores a permanecerem na atividade, o município oferece diversos programas, como o de inseminação artificial, que foi responsável pela melhoria genética do rebanho ao longo dos últimos 25 anos; o de assistência técnica prestada por veterinários do município; o de fornecimento de insumos, como calcário, fosfato e cloreto, para aumento da produção de forragem animal e o programa oficial de sanidade animal, onde os veterinários fazem todos os exames de tuberculose, brucelose nas vacas de todas as propriedades.
Produtores também contam com um programa de subsídio horas-máquina para fazer a sistematização das áreas que vão produzir as forrageiras para a alimentação animal.
Casal faz adaptações para se manter no campo
Lutando para se manter na atividade leiteira, Gilmar Luiz Fortuna e Marli Fortuna, residentes na comunidade Capitel Santo Antônio, a cerca de 8 km do centro de Chopinzinho, contaram a reportagem do Diário do Sudoeste que por falta de mão de obra precisaram vender boa parte de suas vacas para conseguir dar conta da produção de leite sozinhos, uma vez que as duas filhas já adultas não moram com eles e não encontram pessoas para contratar.
“Antes dava cerca de 1.400 litros por dia. Depois que nós vendemos as vacas estamos tirando uns 200 litros”, disse seu Fortuna, homem com 49 anos de idade, dos quais sempre viveu no campo.
“Eu sempre trabalhei com leite. Eu gostava, tanto que agora vamos investir em um novo negócio, vamos trabalhar com novilha. O leite vamos continuar tirando, mas em menor quantidade porque não conseguimos dar conta de tirar sozinhos e também porque o custo para produzir é muito alto. Mas tem que tirar, só de grãos não dá para sobreviver.”
Os agricultores contam que o sonho da família era que a produção de leite, e da atividade agrícola como todo, seguisse presente na família nas gerações futuras. “Como nossos pais se criaram aqui e nós também, a ideia era passar de geração para geração o que aprendemos com eles mas, isso não aconteceu. Nós entendemos que nossas filhas querem seguir caminhos diferentes. Hoje as duas estão bem na vida, uma é esteticista e a outra fisioterapeuta, nos enchem de orgulho da mesma forma.”
Mesmo entendendo a não presença das filhas no campo, seu Fortuna fala preocupado que não sabe o que vai acontecer com o interior depois de sua geração, que segundo ele, é a mais nova presente no campo.
“Eu mesmo só saio daqui quando Deus quiser, porque para mim viver aqui é um sonho”, completa o produtor de leite que agora vai se aventurar na criação das novilhas e no plantio da soja, por serem ambas atividades que podem ser cuidadas em menos número de pessoas.