Pouco conhecido no mundo dos motores, Adler assumiu o comando do GP no início deste ano. Ele ocupou a função executada por Tamas Rohonyi ao longo dos últimos 30 anos. Mas sua ligação com o GP começou ainda em 2019, quando se apresentou à Prefeitura de São Paulo para ajudar na renovação do contrato da cidade com a F-1. O vínculo se encerrava no fim de 2020. E a renovação estava “emperrada”, nas palavras de Adler. O acerto, por cinco anos, foi fechado em dezembro.
“As coisas não andavam. Demoramos para perceber que a F-1 estava engatada com o Rio de Janeiro”, afirmou, em entrevista ao Estadão. “Acreditava muito na continuidade da F-1 em SP por N motivos. E fiquei muito feliz quando assinamos o contrato porque é um evento que tem a sua raiz aqui em Interlagos, em São Paulo. Sei que ficou dez anos no Rio. Mas, hoje, entendendo um pouco mais, vejo como os pilotos e equipes são apaixonadas por Interlagos. Tem uma história. Eu sou muito de tradição.”
O empresário carioca ajudou a resolver a disputa interna entre São Paulo e Rio com sua experiência em marketing esportivo e também por contar com o apoio do grupo Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, parceiro da F-1 na organização do GP de Abu Dabi. Se a experiência com automobilismo esportivo é quase zero, a bagagem na área de eventos é grande.
Adler levou a famosa banda The Police para o Maracanã em 2007, promoveu eventos de skate, maratona aquática, golfe, futevôlei, NBA, UFC e Volvo Ocean Race, a regata de volta ao mundo. A badalada prova de vela oceânica foi o grande impulso em sua trajetória no marketing esportivo. Ao criar o barco Brasil 1, ele trocou de vez o lado esportista pela carreira de promotor de eventos em 2005.
“Foi ali que entrei neste mundo. Não entendia nada de marketing. Conquistei muita credibilidade porque entregamos um projeto incrível, complexo. Tinha tudo para dar errado e deu certo. Acabamos em terceiro lugar, do lado de equipes com muito mais dinheiro que nós”, explicou Adler, que foi velejador dos 10 aos 46 anos de idade.
O carioca disputou três edições dos Jogos Olímpicos: Los Angeles-1984, Seul-1988 e Barcelona 1992. Não subiu ao pódio, mas foi duas vezes campeão mundial, na classe Star em 1989, e na J24 em 2006, e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo-2003.
A experiência no esporte e os bons contatos que cultivou facilitaram a transição para o marketing. A Volvo Ocean Race é sua grande referência, não apenas por ser um sonho realizado. Lá seu barco foi capitaneado por ninguém menos que Torben Grael, um dos maiores atletas olímpicos da história do Brasil. O projeto contou com o apoio de diversos patrocinadores e até do governo federal. Os resultados do chamado Brasil 1 saíam até no Jornal Nacional.
A postura tranquila e o jeito simples e acessível de ser sempre ajudaram Adler a conquistar simpatias e apoios para seus projetos. Os bons contatos facilitaram seu trânsito tanto na Rede Globo quanto diante de patrocinadores e empresários poderosos. Foi assim que vendeu sua empresa de eventos para Eike Batista e para o grupo IMG, que contratou o próprio carioca para ser o CEO da nova organização, que deu saltos maiores.
A IMX comprou a data do Rio Open no calendário do circuito de tênis, adquiriu parte do Rock in Rio, fez uma joint-venture com o Cirque du Soleil e virou representante de jogadores como Neymar e Thiago Silva e do surfista Gabriel Medina. Quando Eike quebrou, a Mubadala assumiu a empresa, trocando o nome para IMM e mantendo Adler como gestor e também acionista. Hoje ele divide suas atenções e o seu tempo entre o GP de F-1 e a função de CEO da IMM, que organiza eventos como a SP Fashion Week e a SP Oktoberfest na capital paulista.
A empresa de Adler que administra o GP de São Paulo é a MC Brazil Motorsport, que vai receber do governo municipal R$ 100 milhões ao longo dos cinco anos de contrato entre a F-1 e a prefeitura. Por se tratar de dinheiro público para promover um evento privado, o valor é contestado na Justiça e já se tornou alvo do Ministério Público e de duas tentativas de abertura de CPI na Câmara de Vereadores. E também é novidade na história recente do GP, cuja gestão costuma se manter apenas com valores de bilheteria e patrocinadores.
Questionado sobre valores, o carioca se esquiva. “O que me dá muito conforto é ter um acionista como a Mubadala, que atua em vários países da forma mais transparente e profissional possível. Você acha que iríamos fazer alguma coisa errada, fora da legalidade? Isso é impossível. Quem quer ter problema? Eu não quero ter problema. Fizemos tudo certinho”, afirmou. “Respeito qualquer pessoa que queira contestar, que queira interpelar. Não tem problema nenhum. Mas a F-1 tem visibilidade, faz parte.”
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