“As provas da Handroanthus são toras. Aquilo tem uma logística muito específica para ser movimentada e muito custosa. Aquilo não some da noite para o dia. Depois as caixas contando os documentos que foi ele mesmo [Ricardo Salles] que entregou. Tudo o que tinha que se provar, está provado. Os laudos estão prontos. São laudos contundentes. Está tudo ali”, disse em entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Saraiva foi exonerado após acusar o ministro de usar o cargo para patrocinar interesses privados na Operação Handroanthus, que mirou extração ilegal de madeira na Amazônia no final do ano passado. “A atuação dele é claríssima e inédita. Isso nunca aconteceu”, acrescentou ao comentar a pressão ministerial frente ao trabalho de investigação da Polícia Federal.
O delegado, que atua na Amazônia há uma década, disse que formalizou a notícia-crime junto ao Supremo Tribunal Federal por ‘obrigação’. “Ficou muito claro que havia ali um dever de informar o Supremo Tribunal Federal. Documentos que demonstravam a grilagem de terras de forma grotesca, mas ao mesmo tempo ardilosa”, afirmou.
Ainda segundo ele, a Polícia Federal é uma instituição sólida e sua substituição pelo colega Leandro Almada não deve comprometer os trabalhos de investigação da superintendência no Amazonas. “O meu substituto é pessoa de minha absoluta confiança. É uma instituição culturalmente e institucionalmente forte. Mesmo saindo uma pessoa, a engrenagem continua rodando. Não adianta você tirar um delegado”, comentou.
Questionado sobre a entrevista concedida por Ricardo Salles ao Estadão em abril do ano passado, quando o ministro do Meio Ambiente lançou dúvidas sobre a apreensão de madeira recorde feita pela PF no Amazonas e afirmou que as toras confiscadas eram regulares, Saraiva voltou a dizer que o material tem origem ilegal. “Isso não é verdade. Não está tudo certinho. Está tudo errado e muito errado”, afirmou.
O delegado também colocou sob suspeita a decisão judicial que liberou parte do material apreendido. “São decisões, essas especificamente, muito estranhas. Por exemplo, deste mesmo juiz que, de férias, determinou a devolução de maquinário, sob pena de multa de R$ 200 mil para mim e para os agentes que estavam no local”, afirmou. “São decisões que não são parâmetro.”
Doutor em ciências ambientais, Saraiva defendeu que, no estágio atual, a extração ilegal de madeira se tornou mais prejudicial à floresta do que a atividade agropecuária. Em sua avaliação, o avanço do desmatamento preocupa ainda mais pela inércia do Ibama. “O Ibama não está trabalhando. Isso é inegável”, criticou.
O delegado ainda fez críticas contundentes à Lei Complementar 140, que transferiu da União para os Estados a atribuição para autorizar planos de manejo florestal e corte raso. “Foi muito ruim, mas essa mesma lei complementar concede ao Ibama a possibilidade de fiscalizar subsidiariamente. E isso o Ibama não vinha fazendo”, disse.
Saraiva também classificou como ‘péssimas’ as mudanças promovidas por Salles nas regras para aplicação de multas contra crimes ambientais. “É uma coisa completamente desarrazoada. Não tem lógica”, disse ao opinar que nunca se viu uma situação pior da fiscalização ambiental. “Me parece que existe sim uma intenção clara em tornar a fiscalização menos eficaz. É inegável”, acrescentou sobre a gestão do ministro do Meio Ambiente.
Perguntado sobre as trocas no comando na corporação durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, o delegado afirmou não ver riscos ao trabalho das superintendências. “A Polícia continuou funcionando”, disse. Saraiva chegou a ser cotado para assumir o braço fluminense da Polícia Federal durante a crise aberta entre Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro, que deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir politicamente na corporação. Na avaliação do delegado, a produtividade na superintendência no Rio de Janeiro ‘melhorou bastante’ após a substituição no comando da unidade.
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