Exame de sangue pode facilitar diagnóstico do Alzheimer no Brasil

Pesquisadores brasileiros, apoiados pelo Instituto Serrapilheira, confirmaram o potencial de um exame de sangue com alta precisão para detectar Alzheimer, mostrando desempenho superior do biomarcador p-tau217 para distinguir pacientes saudáveis de portadores da doença.

O grupo liderado por Eduardo Zimmer (UFRGS) revisou mais de 110 estudos envolvendo 30 mil pessoas, validando que o exame de sangue, especialmente o p-tau217, pode servir de alternativa menos invasiva e muito mais acessível que os exames de líquor ou imagem, hoje usuais e caros – especialmente pensando em larga escala pelo SUS.

Resultado com alta confiabilidade e impacto na rede pública

Os testes realizados apresentaram taxa de acerto acima de 90%, alinhada ao padrão exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estudos em populações distintas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro confirmaram a eficácia independente da genética ou perfil sociocultural.

A pesquisa reforça, ainda, que o diagnóstico precoce é fundamental: cerca de 1,8 milhão de brasileiros vivem com Alzheimer, segundo estimativas de 2024, número que pode triplicar até 2050.

Baixa escolaridade agrava risco e aceleramento do Alzheimer

O estudo destacou que baixa escolaridade é um dos principais fatores de risco para declínio cognitivo associado ao Alzheimer. Pesquisadores concluíram que o cérebro estimulado por educação formal desenvolve mais conexões e maior resistência à doença.

Próximos passos: da pesquisa ao SUS e acesso gratuito

O exame já está disponível em laboratórios privados do Brasil e exterior, mas custa cerca de R$ 3,6 mil, tornando urgente o desenvolvimento de alternativa nacional acessível e gratuita pelo SUS.
O pesquisador Zimmer pondera que são necessários estudos adicionais para avaliar logística, desempenho e estratégia de implementação no sistema público – resultados definitivos devem sair em até dois anos.

A ideia é começar testes em pessoas acima de 55 anos, buscando mapear a prevalência e a fase pré-clínica do Alzheimer.

Reconhecimento internacional

O estudo foi publicado na revista Molecular Psychiatry e reforçado em revisão de setembro no Lancet Neurology, evidenciando o protagonismo da ciência nacional.