Iniciado em abril de 2022, o programa Família Acolhedora conta com três famílias aptas em Pato Branco para realizar o acolhimento de crianças ou adolescentes que foram afastadas pelo poder público de sua família, como medida de proteção por sofrer algum risco à vida ou situação de vulnerabilidade. Diferente da adoção que é um método definitivo e irrevogável, o acolhimento proposto no programa é uma medida de proteção temporária.
De acordo com a psicóloga e responsável pelo Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora de Pato Branco, Sarah Cristina Kusma da Luz, o acolhimento é uma medida prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente e não deve ultrapassar 18 meses.
“Diferente dos abrigos institucionais (em que há educadores contratados), trata-se de uma modalidade em que a criança ou adolescente é cuidada temporariamente por uma outra família: a família acolhedora. Essa família é parte do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA) e, durante o período de acolhimento, assume todos os cuidados e a proteção da criança e/ou do adolescente”.
Ao se cadastrar no programa, as famílias selecionadas são preparadas e acompanhadas por equipes de profissionais para que recebam essas crianças e adolescentes que passam pela situação de vulnerabilidade, até que possam retornar para sua família de origem ou, caso não seja possível, são encaminhadas para adoção.
“O acolhimento familiar é uma situação distinta da adoção, inclusive no tempo de duração, sendo o acolhimento temporário e a adoção definitiva”, comenta Sarah.
Das três famílias habilitadas pelo programa atualmente no município, duas famílias estão acolhendo crianças ou adolescentes atualmente, entretanto, o número de famílias cadastradas é insuficiente para a demanda existente em Pato Branco. Segundo a psicóloga, o programa tem como meta atingir ao menos oito famílias inscritas no serviço.
Como se tornar uma Família Acolhedora
A responsável pelo serviço afirma que “ser família acolhedora é cuidar, dar colo, proteção e muito carinho em um momento de vida fundamental para uma criança ou adolescente que precisou ser afastado de sua família de origem. É um trabalho gratificante par quem acolhe e, com certeza, transformador para a criança ou adolescente que é acolhido”.
Mesmo com toda a gratificação que o acolhimento traz, Sarah destaca que não é uma tarefa simples, já que muitas dessas crianças e adolescentes em medida de proteção passaram por violências de rupturas, traumas e perdas em suas histórias pessoais, necessitando então de famílias que estejam emocionalmente disponíveis, que sejam afetuosas e abertas para novas aprendizagens e experiências de cuidado e proteção.
“É importante que a família esteja disponível para oferecer acolhimento temporário, entendendo que a medida de acolhimento é provisória e não constitui vínculo de filiação com a criança e/ou adolescente”, comenta Sarah.
Entre os pré-requisitos para participar do programa, as famílias que estão aptas atualmente precisaram passar por um curso inicial de formação, com duração de 16 horas. As famílias também passam por formações continuadas.
O serviço prevê, ainda, que as crianças e adolescentes acolhidos e suas famílias de origem permanecem recebendo acompanhamento de uma equipe técnica que é formada por assistente social e psicóloga, levando as particularidades do processo de cada criança.
Sarah informa que a família acolhedora recebe uma bolsa-auxílio no valor de um salário mínimo para cada criança que está em acolhimento e, quando é um caso de acolhimento de irmãos, são acrescidos 75% do valor de um salário mínimo. O recurso é destinado para a manutenção do acolhido e atendimento de suas necessidades.
Caso tenha interesse em ser uma família acolhedora, entre em contato com o serviço através do telefone (46) 3220-6002 ou preencha o formulário através do link https://forms.gle/QW1iQ8647SA24W9e9 para que a equipe entre em contato.
Além do telefone, mais informações também estão disponíveis de forma presencial, na rua Tamoio, 873, Centro.
Os critérios necessários para participar do programa Família Acolhedora são:
- Ter idade maior que 21 anos, sem restrições quanto ao estado civil;
- Não estar em processo de habilitação ou habilitado no Sistema Nacional de Adoção, conforme Art.34, § 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);
- Concordância de todos os membros da família que residem no domicílio em fazer parte do SFA;
- Residir no município há pelo menos 2 anos;
- Não ter antecedentes criminais, comprometimento físico ou psiquiátrico e/ou dependência de substâncias psicoativas (regra para todos os membros da família que residem no domicílio);
- Comprovar estabilidade financeira;
- Ter espaço físico adequado para receber o(s) acolhido(s);
- Disponibilidade para participar do processo de formação inicial;
- Tempo para comparecer às atividades programadas pelo SFA e para o acompanhamento sistemático da equipe técnica;
- Disponibilidade para atender às necessidades de cuidados da criança e/ou adolescente (levar e buscar na escola, visitas ao médico e outros profissionais, atividades extracurriculares, reuniões escolares, entre outros);
- Comprometimento com a função de proteção até o encaminhamento da criança e/ou adolescente para a família de origem e/ou extensa ou família por adoção.
- Ter parecer psicossocial favorável, apresentado pela equipe técnica do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora.
Confira o depoimento de uma integrante de uma família acolhedora de Pato Branco:
“O que eu posso lhe dizer sobre a experiência como família acolhedora é que, embora a gente tenha bastante desafios, principalmente no início, na convivência, muito rapidamente a criança já se incorporou a nossa família, já se sente parte da família, e é muito bom a gente ver isso, porque a alegria que está no olhar dela, no jeito que ela vive, de ter a gente como um apoio, porque sabe que não se trata de uma adoção e sim um período que vai ficar com a gente e tá aproveitando muito bem.
Ele tem algumas dificuldades no aprendizado, tanto pelas experiências que ele viveu, quanto pela pandemia, que veio tudo junto, mas é uma criança que tem capacidade, e para mim só prova que a oportunidade é essencial para qualquer pessoa, principalmente para as crianças em situação de vulnerabilidade, sempre dando oportunidade, um acompanhamento, um lar seguro, um lugar que ele pode voltar sempre que vai ser bem recebido, vai ter o alimento para ele, onde ele importa, tem sido fantástico por esse ponto, a gente está muito feliz, a gente sente também que ele está bem, está feliz, ele já chama a nossa casa de “minha casa”, isso é uma prova de que ele está bem integrado.
É muito importante a gente devolver um pouco para a sociedade as oportunidades que a gente teve, porque nem toda a criança teve, nem todo o adulto e adolescente tem, então a gente dividir um pouco do que tem, para que mais uma criança, mais uma pessoa tenha acesso às coisas melhores, a uma convivência melhor, entender que o mundo é bom, tem pessoas boas, que a vida vale a pena, que viver honestamente vale a pena, eu acho que fica esse exemplo para ele.
A gente está muito feliz, e por mais que ele não vá ficar aqui com a gente para sempre, a gente sempre que tem oportunidade que surge, a gente vai ser meio que para sempre agora, não tem mais jeito, essa experiência tem feito muito bem para a gente como família, na nossa convivência, desde a formação, como a convivência, a gente pensa que a gente está só ajudando, mas a gente está ajudando e sendo ajudado também, tendo nossa vida melhorada”, depoimento de uma família acolhedora de Pato Branco.
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