Dirceu Antonio Ruaro
Prezados leitores, falei, na semana passada, sobre questões de relacionamento escola-família. Afirmei que a relação precisa ser repensada. Disse isso, tendo como base o contexto social da escola e das famílias de hoje.
Tenho afirmado, também, que a família, ou melhor, os pais, precisam exercer a autoridade parental.
O exercício da autoridade parental, nesse tempo que estamos vivendo, reflete diretamente na autoridade escolar.
A família que não tem o exercício da regra, das normas, do respeito aos outros, cria, no seu interior e nos seus membros, a ideia de que tudo se pode, que o importante é “aquilo que eu quero”, “aquilo que eu desejo”, “eu posso”, “eu quero”, ou seja, “eu sou o centro de tudo”.
Esse tem sido o sentimento que mais se desenvolve nas famílias/sociedade e, como consequência, temos vivido o maior período de “naturalização” da pessoa como “centro do universo”.
Por isso, quando disse, semana passada, que é preciso repensar a relação família/escola, estava justamente, referindo-me a ideia de que o relacionamento interpessoal precisa ser discutido e reavaliado.
É preciso que as famílias discutam, avaliem, repensem nos relacionamentos interpessoais. No valor das pessoas. De todas as pessoas. Na humanização das relações.
Tenho dito que se percebe que, nas famílias e nas escolas, as relações interpessoais estão simplesmente desrespeitadas, desvalorizadas, desumanizadas.
A educação de berço deixou de ser importante. Não se percebe mais o empenho e o esforço das famílias nas relações interpessoais de respeito, de valorização das pessoas. Não se percebe mais que cada uma das pessoas tem sua importância. Não se percebe mais que não se pode “passar por cima do outro” só porque eu quero ser mais importante que o outro.
A educação de casa, que ensina regras, normas, respeito às regras e às normas. A educação de casa que se constrói pelo diálogo, pela valorização de todos os membros da família. A relação da equidade, ou seja, da igualdade de todos.
A educação de casa que ensina que a escola é local de construção de conhecimento, mas que é também o local em que se aprende os maiores e melhores relacionamentos interpessoais. É o local no qual é possível entender que “ninguém é melhor do que ninguém”.
Por isso é de extrema importância que tanto família quanto escola resgatem sua importância para educar seus filhos/alunos para os melhores relacionamentos humanos. Ou melhor dizendo, para a reaprendizagem dos relacionamentos interpessoais humanos.
O ser humano precisa, por meio dessas duas instituições seculares e fundamentais para a sociedade, aprender regras e normas próprias e específicas do relacionamento humano.
Precisa reaprender que todos nascemos iguais em dignidade, que ninguém vale mais do que ninguém. Que o ser humano não nasce ruim. Não nasce violento. Não nasce desrespeitoso.
Que são as vivências/experiencias, especialmente na família, que nos constroem do jeito que somos. Que complementamos essas vivências e experiências na escola. Que aprendemos a ser bons na família e repetimos nossas vivências e experiências familiares na escola e, depois, na sociedade.
Que somos diferentes em vários aspectos e que todos merecemos, respeito. Que a cor, a religião, o gênero, os gostos, enfim, nos diferenciam, mas não nos desmerecem.
Que a violência quer seja física, moral, psicológica não pode fazer parte dos nossos relacionamentos humanos. Que precisamos entender que tanto a família, quanto a escola e, por via de consequência, a sociedade, precisam funcionar com regras e normas de convivência social.
Que na família e na escola não temos permissão para sermos violentos. Que nenhuma forma de violência pode vigorar entre nós.
Precisamos reaprender, também, que temos de evitar toda e qualquer ação que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de qualquer um dos membros da família.
Precisamos reaprender que na escola somos uma mini sociedade na qual todos os membros têm direitos e deveres. Que temos de respeitar uns aos outros e aprender que agressões físicas, verbais, materiais, cyberbullying social e psicológico são ações que nos diminuem como seres humanos, ou melhor são ações que nos desumanizam e nos tornam algozes de nossos semelhantes. Enfim, é preciso reaprender que a família e a escola não são terra de ninguém, na qual podemos fazer o que quisermos sem pensar nas consequências, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER