Como se alguém quisesse ficar de fora da campanha de vacinação contra a covid, o Governo Federal lançou mão de um dos mascotes mais emblemáticos do Brasil: o nosso querido Zé Gotinha. Esse nosso velho conhecido, principalmente do público na faixa dos 40/50 anos, que viveu a infância nos anos de 1980, agora ganhou uma família.
Zé Gotinha aparece ao lado dos pais, Dona Gotinha (avó) e Seu Gotinha (avô); da esposa, Maria Gotinha; e do seu filhinho, Gotinha Júnior. Juntos, todos usando máscara, eles chamam a população para que preencham suas carteirinhas de vacinação, tanto contra a covid como as que previnem outras doenças e fazem parte do calendário vacinal do Sistema Único de Saúde (SUS). Doenças como a hepatite B, poliomielite, tuberculose, entre outras, são evitadas por meio de vacinas recebidas ainda na infância. Também, adultos podem receber reforços de vacinas como a febre amarela, tétano e HPV.
O reforço família é bem-vindo, já que, conforme o Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBI), houve queda de 60% a 70% na cobertura vacinal após o início da pandemia. “Nos últimos 5 anos, essa queda na imunização vinha se acentuando de ano a ano. Com a pandemia, em 2020, ela foi muito maior. Os dados baixam de 60% a 70% da cobertura vacinal, sendo a maior parte nas vacinas do primeiro ano de vida”, explicou o médico infectologista Renato Kfouri, presidente do SBI, ao IG. “Muitas pessoas adoecendo, a doença voltando a ocorrer com mais frequência na comunidade e o cenário favorável para a reintrodução dessas que já estavam controladas, esses são alguns dos riscos. Tem a questão individual e a de saúde pública também, que essas comorbidades podem voltar e figurar entre as causas principais de mortalidade infantil, hospitalização e todas as consequências delas”.
A volta do Zé Gotinha como protagonista de campanhas, “em sua imagem original, alegre, pacífica e motivadora”, foi um pedido da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que ainda em março publicaram uma nota com o pedido às autoridades brasileiras. A manifestação surgiu em meio a preocupação das entidades médicas com discussões partidárias e ideológicas, que, conforme a nota, ofuscou uma das ações que mais importam neste momento: a realização de amplas e massivas campanhas de vacinação.
As vacinas contra a covid, segundo as organizações, é uma conquista que resulta dos grandes avanços da ciência e trouxe a esperança de superação dessa crise sanitária sem precedentes. “Entretanto, esse motivo de celebração tem sido ofuscado no Brasil por discussões e disputas políticas que desrespeitam as vítimas dessa trágica doença”, criticam os médicos.
Campanha
Elaborada pelo Ministério da Saúde, a campanha traz como tema “O cuidado é de cada um. O benefício é para todos”. O objetivo é conscientização sobre medidas preventivas e incentivo à vacinação, e será veiculada de 12 a 31 de maio em TV, rádio, internet, rodovias, aeroportos, rodoviárias, metrôs e mídias exteriores.
Além de incentivar a vacinação, durante a ação os personagens da família Gotinha vão ressaltar as medidas de prevenção à covid-19, tais como o uso de máscara, higienização das mãos com água e sabão, distanciamento seguro e manter os ambientes ventilados.
Relembre o Zé Gotinha
Em 1986, devido à resistência da população adulta e do medo por parte das crianças em relação às vacinas, o Ministério da Saúde encomendou ao artista plástico Darlan Rosa, um mascote para a campanha de vacinação contra o vírus da poliomielite, de forma a deixá-la mais atraentes para as crianças. Lançado com vários vídeos de animação, exibidos em horário comercial das principais emissoras do Brasil, essa gotinha com corpo de garoto que combatia monstros e protegia as crianças das doenças chamou a atenção.
Até então, o mascote não tinha nome. Ele foi chamado de Zé Gotinha depois de uma mobilização nacional, realizada através de um concurso promovido pelo Ministério da Saúde, com alunos de escolas de todo o Brasil.
Nos anos de 1980 e 1990, o Zé Gotinha era protagonista das campanhas, chamando a toda população para o chamado “Dia D”, quando é feita uma força-tarefa pela imunização. Assim, o personagem estava em jornais, TVs e rádios, além de estar presente fisicamente nos locais de vacinação.
Considerado um símbolo histórico do Programa Nacional de Imunizações (PNI), foi capaz de dialogar com diferentes públicos para motivar e informar sobre a importância da vacinação e prevenção de várias doenças.