Padre Judinei Vanzeto
Nesses dias encontrei uma pessoa que conversou comigo por mais de duas horas. Na verdade, essa pessoa não sabia que eu sou religioso. E por quase duas horas falou muito de si. Parecia que buscava alguém para escutá-la. Falou das angústias do ambiente de trabalho. Comentou sobre seu relacionamento e também desabafou sobre sua religiosidade.
Contou que foi batizado na Igreja Católica e fez catequese em preparação para os Sacramentos da Eucaristia e da Crisma. Participou de retiros e colaborou por muito tempo em equipes de cantos e liturgia na Paróquia de sua cidade. Depois ingressou em estudos acadêmicos e viu sua fé sendo confrontada com os questionamentos das ciências modernas. Mas, mesmo assim, continuou participando de sua Paróquia. Depois de um tempo entrou numas crises existenciais e se decepcionou com o coordenador da equipe de música da comunidade onde participava.
Movido pela decepção, aceitou convite para conhecer uma igreja evangélica. Lá foi muito bem acolhido, recebeu orientações e pediu para ser batizado. Como tinha dom para a música, logo foi introduzido ao ministério de música. Foram momentos muito bons de amadurecimento na fé, conhecimento das Sagradas Escrituras e boas amizades.
Porém, com o tempo, também lá se decepcionou com uma liderança da comunidade. Percebeu que nem todos vivem conforme pregam. E não quis mais seguir participando dessa igreja. Resolveu, então, voltar para o “berço de sua fé”. Começou a estudar um pouco mais os ensinamentos católicos e está redescobrindo a beleza e a profundidade do rito da missa. Nessa fase da vida, contou ele, que está buscando um equilíbrio na vida cristã. Apreendeu muito sobre a Bíblia e o Espírito Santo na igreja evangélica, mas sentia falta da eucaristia, na Igreja Católica.
Essa pessoa não sabia que sou religioso, mas de minha parte o escutei com empatia e fui também fazendo certas conexões mentais. Lembrei que a Igreja é santa e pecadora. Se fosse apenas santa, não poderia fazer parte dela. Por isso, ela é santa e pecadora. Acolhe minha fragilidade e me convida à santidade.
Na igreja sempre vamos ter decepções, pois os seres humanos, apesar da marca do divino recebido no dia do batismo, carregam a própria concupiscência. O Papa Francisco falou que apesar de nossos pecados e fragilidades, Deus, por sua vez, continua fazendo do ser humano instrumento de salvação.
Decepções sempre haverá, o perfeito e o imperfeito caminham juntos. Há, porém, a liberdade para fazer escolhas. Não dá para exigir das pessoas um passo maior que as pernas alcançam. Cada um vai fazendo seu processo de conversão. Os confrontos na fé e na vida são necessários para o próprio amadurecimento, é uma certa purificação do ser cristão.
O importante na vida é seguir em frente, perdoar e acolher. Respeitar as decisões e o tempo de cada pessoa. As experiências, frustrações, decepções, descobertas, buscas e inquietudes acompanham o ser humano. O ser humano tende para o infinito e só acalma seu coração quando se encontra com Deus, o Infinito Amor.
Deus não é uma ideia, uma doutrina, mas uma pessoa: Jesus Cristo. E o encontro com Ele muda a vida de qualquer pessoa. A igreja, por sua vez, existe para continuar a missão de Cristo, mas o Reino de Deus é bem maior que a igreja. O Reino de Deus abarca as igrejas e as religiões e se expande como sementes do Verbo encarnado.
Jornalista, diretor administrativo da Rádio Vicente Pallotti, gestor da Unilasalle/Fapas Polo Coronel Vivida e pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida-PR