No momento, não na Broadway, onde uma grande parte dos maiores shows, como Hamilton, Wicked, O Rei Leão, só volta a partir da terça-feira, 14, depois de 18 meses sem apresentações, por causa da covid-19. Mas no streaming e no cinema, a oferta tem sido grande – um alívio em mais um tempo de tanta obscuridade. Desde o início da pandemia, chegaram a versão gravada de Hamilton, a adaptação de In the Heights, com o título Em um Bairro de Nova York, e a animação A Jornada de Vivo, isso só para ficar no departamento Lin-Manuel Miranda. Na televisão, há o musical animado Central Park e a homenagem aos musicais do passado Schmigadoon!. E poucos dias atrás, entrou a Cinderela de Camila Cabello.
Hoje chega ao Apple TV+ Come From Away, de Irene Sankoff e David Hein, como homenagem aos 20 anos da queda das Torres Gêmeas. É uma versão filmada ao vivo do espetáculo, tendo como plateia sobreviventes do ataque e trabalhadores da linha de frente contra a covid-19. O show se baseia em uma história real daqueles dias de terror e caos. Quando ficou claro que os Estados Unidos estavam sob ataque, o espaço aéreo foi fechado. Todos os voos tiveram de pousar em algum lugar. A pequena Gander, na província canadense de Terra Nova e Labrador, recebeu 38 aeronaves, adicionando de repente quase 7 mil pessoas assustadas à população de cerca de 11 mil habitantes. Os 12 atores se revezam entre papéis de moradores locais e passageiros.
Hein explicou que ele e Sankoff tiveram muito cuidado ao escrever Come From Away, que teve seus primeiros workshops em 2012, porque estavam em Nova York naquele dia dos atentados. “Nós sempre dizemos que não queríamos fazer um musical sobre o 11 de Setembro, mas sobre o 12 de setembro”, disse ele em entrevista com participação do Estadão, por videoconferência. “Não trata da tragédia. É a história do que aconteceu em Terra Nova em resposta àquela tragédia. Fala de como as pessoas se uniram, como sua reação foi de generosidade.” Sankoff acrescentou: “Sempre temos a escolha de ajudar os outros em vez de reagir com medo e raiva”.
Além desses musicais já disponíveis, há muitos outros que chegam em breve ao streaming e aos cinemas. Claro que não dá para creditá-los à pandemia. Alguns projetos estavam em andamento havia anos, outros estavam prontos e foram adiados por causa do fechamento das salas. A verdade é que, bem antes da covid-19, os Estados Unidos – e o globo – estavam divididos, tumultuados, cheios de ódio. Como Josh Gad disse ao Estadão na época do lançamento da segunda temporada de Central Park, o mundo teve nos últimos tempos cinismo suficiente para múltiplas gerações. “As pessoas estão famintas de pureza e de algo que provoque sorrisos em vez de caretas”, afirmou. Billy Porter, que faz o Fado Madrinho em Cinderela, vai pela mesma linha. “Musicais trazem alegria”, disse ao Estadão. “E é disso que precisamos agora. Precisamos ser lembrados do que é a alegria.”
Gad acha que estamos em uma era de ouro de musicais, que credita a peças como The Book of Mormon (2011), na qual, por acaso, ele atuou, e Hamilton (2015), claro. Ambas trouxeram jovens de volta à Broadway. Mas também não dá para ignorar o sucesso da Disney com Frozen (2013), de Jennifer Lee e Chris Buck, e que, por acaso, também tem Gad como uma das vozes originais.
A popularidade fez com que os musicais se tornassem bacanas novamente, por mais que alguns ainda insistam em rejeitar o gênero. “Engraçado que ninguém tem problemas com a suspensão da descrença quando se trata de Star Wars ou do Batman”, disse Portman. “Para mim, os musicais sempre foram espaços do realismo mágico. E eles salvaram a minha vida.” Para a atriz Astrid Van Wieren, de Come From Away, o mundo está com as emoções à flor da pele. “E nada expressa melhor isso do que os musicais: quando você não consegue dizer o que pensa, canta.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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