Com o objetivo de contribuir para a melhoria do controle do câncer no país, a partir dos aprendizados com a pandemia de covid-19, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) lançou no último dia 7, em evento online, um documento inédito, com informações e recomendações. O Documento de Posição apresenta caminhos para políticas públicas e para melhorar a governança da saúde na área oncológica.
Para a sua concepção, a entidade reuniu representantes de públicos estratégicos para discutirem experiências e visões distintas sobre os aprendizados da pandemia da covid-19 para serem, também, trabalhadas para o controle do câncer, não necessariamente o de Mama. O documento sintetiza essas discussões e aponta recomendações para que o governo, as entidades do setor privado e da sociedade civil se unam em defesa da redução da morbimortalidade pela doença.
“Estamos entregando um documento para ser uma referência em um cenário preocupante que temos acompanhado. A oncologia precisa ser vista como uma questão de alta prioridade em saúde, e queremos que as soluções apresentadas possam contribuir para a união de esforços que resultem em inovações e adaptações para controlarmos a doença, assim como tivemos no enfrentamento a pandemia”, afirma a Drª Maira Caleffi.
A Femama considera o câncer uma crise de saúde pública que, se não enfrentada de forma assertiva e com a tempestividade e estrutura necessárias para tratá-la como uma prioridade, pode se tornar uma séria emergência em saúde pública, como já foi declarado em outros países.
Diante desse contexto, a Femama promoveu uma reflexão sobre o cenário da saúde na pandemia, reforçando o seu compromisso com a qualidade de serviços de saúde disponíveis aos pacientes oncológicos. O estudo foi realizado após uma série de encontros virtuais com lideranças da entidade e das suas ONGs associadas, que somam mais de 70 membros do Governo, pacientes, profissionais da saúde, representantes da indústria farmacêutica e operadoras de saúde e de entidades do setor. Foram estruturados questionamentos prévios para serem abordados durante os encontros seguindo uma estratégia baseada na metodologia usada na Iniciativa de Controle Integrado do Câncer na América Latina (ICCI-LA). “Provocamos um debate aberto a os públicos de interesse para buscarmos envolvimento e engajamento que resultasse em ações viáveis e concretas”, complementa Maira.
Lições da pandemia
Entre as lições que puderam ser retiradas da pandemia, o documento lista:
Com união de esforços é possível ter dados em tempo hábil para a tomada de decisões
Houve um esforço de muitos setores e para a criação de sistemas de informação que permitissem a notificação dos casos e a tomada de decisão em tempo oportuno, o que possibilitou um melhor controle na pandemia.
Integração de sistemas de informação e níveis de atenção permitem um melhor acompanhamento do paciente
Além da notificação de casos em tempo real, houve uma maior capacidade de comunicação entre os sistemas de informação, o que possibilitou o acompanhamento do paciente de acordo com sua condição.
Adequação de recursos financeiros e infraestrutura de acordo com as necessidades promovem maior equidade no cuidado
Na pandemia, a disponibilidade de recursos foi um fator determinante para melhor adequação da infraestrutura às necessidades do momento, porém ressaltou as enormes inequidades do sistema no país, destacando as diferenças nos desfechos para os pacientes quando o acesso não é equitativo.
Transparência e comunicação do governo sobre processos e critérios de decisão possibilitam maior controle social e adesão da população a recomendações de saúde
A comunicação sobre a doença, sobre produção de tecnologias, formas de prevenção e sobre processos de tomada de decisão foram frequentes e amplamente divulgados à população por diferentes meios, ampliando o acesso das pessoas a tais informações, e maior adesão a recomendações de saúde. Por outro lado, houve grande circulação de notícias sem comprovação científica, ou notícias falsas (fake news), e falta de uma coordenação central da comunicação, ocasionando consequências negativas na saúde de muitas pessoas e na sociedade, de forma geral.
A tecnologia pode ser uma aliada importante do setor saúde, mas é preciso discutir também seus limites
Durante a pandemia de Covid-19 a tecnologia possibilitou maior integração de pessoas, desburocratizou processos e ampliou possibilidades de controle social. Na assistência à saúde, pacientes puderam ter acesso à telemedicina e outros bens e serviços de suas casas. Questões relacionadas à qualidade do cuidado, no entanto, além do acesso equitativo à internet, são pontos pertinentes e necessários na discussão do uso da ecnologia em saúde.
Atuação interdisciplinar e intersetorial permite olhar para o contexto em que cada indivíduo está inserido, e não apenas para a doença
A atuação entre diferentes setores possibilitou um cuidado maior com o indivíduo a partir do olhar sobre os determinantes sociais da saúde. Parcerias público-privadas e maior integração de equipes multiprofissionais e interdisciplinares foram fundamentais para um enfrentamento mais rápido e resolutivo do problema.
*Femama