Padre Judinei Vanzeto
No domingo (28), a Igreja Católica deu início ao novo Ano Litúrgico. Este início é marcado com o 1º Domingo do Advento. O Advento é o tempo da esperança que se desenrola entre as duas grandes vindas de Deus até nós, conforme bem resume o Prefácio da missa de domingo: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido e sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos”.
São dois movimentos e duas atitudes que se sobressaem neste tempo: A vinda do Senhor e a vigilância operativa. O primeiro movimento é sempre o de Deus: ele é por definição “Aquele que vem”. Aliás, não somente neste caso, mas sempre, Deus vem ao encontro de sua obra prima que, dentro da bondade da criação, culmina na criação dos seres humanos. Neste sentido, toda a história da salvação, desde a criação à parusia, poderia ser lida e vivida na chave das “vindas” de Deus ao homem. A Igreja deve sempre estar “em saída” que se encontra com o Deus também “em saída”, justamente em nossa direção! São dois amantes se atraem e encontram.
O Evangelho, de caráter apocalítico, abre com palavras que, se tomadas ao pé da letra causa pânicos e medos: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com o pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar o que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas” (Lc 21, 25-26).
Diante destas expressões dramáticas, seria um equívoco pensar que se trata de informações jornalísticas sobre o fim do mundo. Seria outro mal, não ler esta linguagem com a chave da simbologia apocalítica, cuja se usa de figuras e expressões fortes e interpelantes.
Tentemos, então, perguntar-nos o que Jesus queria realmente nos ensinar: ele tem o objetivo de causar temor medo ou despertar a alegria e a confiança? Anuncia um futuro tenebroso e angustiante ou um acontecimento venturoso e consolador? Convida-nos ao isolamento ou abrirmos nossos corações aos horizontes da esperança?
Nas primeiras linhas do Gênesis se fala de um caos primordial, que é ordenado pela Palavra do Criador. No Evangelho se descreve a volta deste caos inicial. A história da humanidade caminha efetivamente para uma inevitável catástrofe? Ao contrário, quando tudo parece se inclinar ao caos dos males e pecados, nós veremos “o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21, 27-28).
Portanto, as suas palavras vão muito além de ameaças e infortúnios; não querem incutir terror, mas uma mensagem de alegria. Com Jesus Cristo, dentro do mundo dominado pelas injustiças e ideologias excludentes, surgirá um “o novo céu e uma nova terra” (Ap 21, 1). Não devemos nos deixar abater pelas muitas dificuldades: “levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21, 28).
Com o Advento, a Igreja nos reconduz às atitudes da esperança, pois Cristo, outra vez, como se fosse sempre a primeira vez, quer vir na casa de um de nós, junto às nossas famílias e comunidades. Pois neste período, Jesus nos convida à vigilância e à oração. Não a uma oração ingênua e infantil, que nos afasta de realidade e refugia nas nuvens. A oração autêntica, porém, nos conduz aos caminhos da conversão, cuja estimula um compromisso corajoso e amoroso de serviços à vida de nossos irmãos e irmãs. É um estilo de vida que não cria ansiedades por aquilo que acontecerá no fim do mundo, mas transmite sensibilidade às carências e aos dramas dos que hoje estão ao nosso lado. Somente quem reza autenticamente e tem confiança filial, pode cultivar e testemunhar a “vigilância” que interpreta os acontecimentos alegres e tristes da vida e do mundo com os olhos do Evangelho de Jesus Cristo.
Jornalista, Pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida, gestor do Polo da Universidade La Salle/Fapas e diretor administrativo da Rádio Vicente Pallotti.