Fim de ano: cansaço, ansiedade e frustração

Síndrome de fim de ano, neste ano a dezembrite tem um agravante: já iniciamos 2021 em meio a um cenário desanimador

Estamos na reta final de 2021, e é comum que, com a aproximação do fim do ano, sejam aflorados sentimentos como a angústia, a frustração e o desânimo. Nesta época, a sensação de ansiedade vai aumentando conforme crescem os fatores de estresse, que vão de cobranças por metas pessoais não atingidas, trabalhos a serem entregues antes das festas, insegurança do que está por vir, carências não preenchidas, mudanças não alcançadas. Essa espécie de síndrome de fim de ano é conhecida como “dezembrite”, um fenômeno relacionado ao aumento dos casos de ansiedade e depressão que acontecem do fim de novembro até o último dia de dezembro, desencadeando depressão, ansiedade, pânico, insônia, falta de energia e de tempo, burnout, fadiga da decisão.

O sentimento de não ter completado todos os planos e o sentido de urgência para fazê-lo a toque de caixa fazem com que esta seja uma época de depressão sazonal, doença que foi incluída no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM) como o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), que são episódios afetivos recorrentes em relação temporal com um período particular do ano. Perto do Natal, já é considerado um problema de saúde pública.

Contudo, neste fim de ano a dezembrite está ainda mais acentuada. Isso porque, geralmente no início de cada ano, nos enchemos de esperança e expectativa por dias melhores, com a renovação de metas e zeragem do cronômetro. No entanto, 2021 já teve início com o peso da pandemia e, por isso, é natural que não tenha sido fácil para (quase) ninguém. A disseminação da covid-19 trouxe, a nível global, incerteza, segurança, além de luto e isolamento social. A falta de estrutura de programas de prevenção e até acesso difícil ao tratamento fizeram com que os índices sobre saúde mental no Brasil atingissem níveis alarmantes.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo, com 18,6 milhões de pessoas afetadas pela ansiedade, sendo ainda o quinto país mais depressivo do planeta. Também, 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito em 2021, segundo pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial. Essa porcentagem só é maior em quatro países: Itália (54%), Hungria (56%), Chile (56%) e Turquia (61%). A mesma pesquisa Ipsos mostrou que, para 40% dos entrevistados brasileiros, a saúde mental é um dos maiores problemas sanitários que o país enfrenta na atualidade.

Foi assim que a saúde mental, algo antes relegado pelo tabu que o assunto ainda o envolve, ganhou destaque e esteve entre as pautas mais relevantes.

Traumas coletivos

O volume de notícias ruins sobre problemas de ordem sanitária, política e econômica que recebemos durante o ano todo sobrecarregam ainda mais a carga mental. Ao menos é o que apontou um estudo realizado na Universidade da Califórnia, em Irvine (UCI), nos Estados Unidos, sobre traumas coletivos.

É normal que, diante de eventos excepcionais, como a pandemia, todos procurem por informações para se manterem seguros, assim como uma cobertura midiática com ciclo de 24 horas. Mas o fácil acesso à tecnologia faz com que a circulação de informação seja grande e repetitiva, com imagens e histórias sensacionalistas.

“A curiosidade humana sobre a tragédia é algo comum, mas deve existir um equilíbrio sobre o volume de informação consumida”, disse uma das pesquisadoras, a psicóloga Roxane Cohen Silver. Caso contrário, o excesso de notícias negativas pode levar a um ciclo de tristeza. “A exposição repetida à cobertura noticiosa de traumas coletivos tem sido associada a consequências ruins para a saúde mental — como flashbacks — nas consequências imediatas, e respostas ao estresse pós-traumático e problemas de saúde física ao longo do tempo, mesmo entre indivíduos que não experimentaram diretamente o evento”, alertou a psicóloga.

Incongruência

Se por um lado a imprensa sensacionalista bombardeia as mídias com notícias trágicas, por outro o mercado publicitário mostra o Natal e Ano Novo com datas felizes, em que as famílias se reunem para compartilharem um sentimento de confraternização. Porém, nem sempre essa é a realidade.

Conforme o neurologista e escritor best-seller, Leandro Telles, disse em entrevista a EBC, “dezembro já é um mês complicado. Mês curto, mês que muitas pessoas se sentem bastante solitárias. Existe uma incongruência entre essa alegria que a gente vê na televisão, nos comerciais de margarina, pra vida real. É um mês onde as pessoas se esgotam, estão em multitarefas”. Assim, é preciso considerar que este não é um momento feliz para todo mundo, assim como em outras datas comemorativas, mas que a depressão sazonal existe e precisa ser cuidada.

Telles avalia que a falta de amigos e entes queridos que foram à óbito devido à covid-19 deve fazer subir os indicadores de antidepressivos e calmantes do tipo tarja preta.

Busca por ajuda

Seja a busca por apoio, consolo, autoconhecimento ou espiritualidade, a procura por ajuda aos poucos vai deixando de ser um tabu para se tornar uma necessidade, e muito desse movimento se deve a esse ano.

A dica de Telles é que “é preciso tomar cuidado com essa de o ano vai acabar, tem que estar tudo resolvido”. O ideal é que cada pessoa faça um balanço do que foi feito durante o ano, desde pequenas conquistas no dia a dia, refletindo sobre seu mérito em cada uma destas ações. E se a ansiedade invadir os dias, é preciso respirar fundo e reavaliar seus objetivos, considerando metas possíveis de serem alcançadas em duas semanas. Mesmo que com um toque de incompletude, esse é apenas um fechamento de ciclo, e novos dias estão por vir.

Dicas para lidar com o estresse no fim do ano

  • Procure não se cobrar tanto: alivie as críticas excessivas que faz consigo
  • Planeje a curto prazo, definindo o que irá fazer durante esse período, pensando sobre o que lhe faz bem, acolhendo a si
  • Faça atividades simples, como se aproximar da natureza ou ouvir uma boa música que lhe tragam motivação e prazer
  • Reúna-se com aqueles que lhe fazem bem, pois família são as pessoas significativas que escolhemos ter por perto
  • Evite excessos nas comemorações, busque lidar com a sua tristeza de uma forma saudável
  • Cuide da sua saúde física e mental, separando momentos para relaxar, respirar fundo e entrar em contato com seus sentimentos
  • Não deixe de fazer terapia, pode ser uma forma de ter suporte durante os momentos difíceis nesse período
  • Avalie por que o momento lhe traz tristeza e melancolia, com uma postura de curiosidade acerca de si mesmo
  • Prepare suas comidas preferidas desta época, ainda que não se reúna com a família
  • Caso sinta saudades de alguém que está longe ou que não pode ver devido à pandemia, faça videochamadas

*Rodrigo Huback é head trainer de practitioner PNL, Master PNL, Método B2S e Hipnose Clínica

você pode gostar também
Deixe uma resposta