No plano, Johnson sugere que a França receba de volta todos os imigrantes apreendidos em praias britânicas após a travessia do Canal da Mancha. Gabriel Attal, porta-voz do governo francês, chamou a carta do premiê britânico de “medíocre em termos de conteúdo e inapropriada no que diz respeito à forma”. “Estamos cansados dessa conversa fiada e da terceirização de problemas do Reino Unido”, disse Attal, em entrevista à BFM TV.
A irritação de Macron fez o tom de agressividade entre os dois vizinhos subir ontem mais um degrau. Mas não ficou apenas na retórica. A França também retirou o convite à ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, para participar de uma discussão com vários países sobre o assunto no domingo. O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, disse que a reunião com Holanda, Bélgica e Alemanha está de pé, mas sem a presença dos britânicos.
TRAGÉDIA
A mais nova troca de acusações entre os dois países começou na quarta-feira, após a morte de 27 imigrantes que se afogaram perto de Dunquerque, a caminho da Inglaterra. Paris reclama que o Reino Unido atrai imigrantes ilegais com uma política frouxa de fiscalização. Londres diz que autoridades francesas não têm se empenhado em conter os botes que partem de suas praias.
Macron e Johnson, segundo analistas, estariam se aproveitando da crise para marcar pontos políticos. O presidente francês disputa a reeleição em abril e precisa conter o avanço da extrema-direita, que deve explorar a questão migratória na campanha.
O premiê britânico enfrenta um fogo cerrado de radicais conservadores e nacionalistas, como Nigel Farage. Para eles, o objetivo do Brexit era retomar o controle das fronteiras. Em vez disso, milhares de imigrantes têm chegado às praias do país sob o olhar perdido de Johnson.
A oposição aproveitou a crise para atacar o premiê. Nick Thomas-Symonds, um dos líderes do Partido Trabalhista, disse que publicar uma carta no Twitter foi um “erro de julgamento grave”. “Retirar o convite à ministra do Interior é uma humilhação para o primeiro-ministro, que perdeu completamente o controle da situação no Canal da Mancha”, disse.
DISPUTAS
A questão migratória é apenas um capítulo na rápida deterioração da relação entre os dois vizinhos. Nos últimos meses, França e Reino Unido vivem às turras em disputas relacionadas ao Brexit, principalmente sobre licenças de pesca.
Nesta sexta, pescadores franceses ameaçaram bloquear o acesso a três portos no Canal da Mancha, e também ao Eurotúnel, para exigir a concessão rápida de autorizações pesqueiras, previstas após a saída dos britânicos da UE.
Macron também não engoliu o acordo militar que Johnson costurou com os EUA para fornecer submarinos nucleares para os australianos. A França, que tinha um contrato para a venda de submarinos convencionais à Austrália, teve um prejuízo de US$ 66 milhões. Paris considerou o episódio uma “punhalada pelas costas”. (Com agências internacionais)
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