Nove atiradores e homens-bomba atacaram com poucos minutos de diferença vários locais nos arredores da capital francesa, em 13 de novembro de 2015, espalhando terror por todo o país. Foi o episódio violento mais letal na França desde a Segunda Guerra e um dos piores ataques terroristas a atingir o Ocidente.
A maior carnificina ocorreu na boate Bataclan, onde três homens armados com rifles de assalto e explosivos atiraram em dezenas de pessoas e fizeram outras de reféns. Outros terroristas visaram o estádio nacional de futebol, onde o então presidente François Hollande assistia a um jogo da seleção, e também cafés lotados de clientes.
No total, 20 suspeitos foram acusados, mas cinco deles foram dados como mortos e um está preso na Turquia. Do grupo de supostos terroristas que tiveram participação direta nos ataques, apenas um sobreviveu: o cidadão francês Salah Abdeslam, nascido na Bélgica. Na noite dos ataques, ele fugiu após abandonar seu carro e um colete suicida com defeito. Seu irmão estava entre os homens-bomba que participaram dos atentados.
Até agora, Abdesalam se recusou a falar com os investigadores, negando-lhes respostas para muitas das perguntas restantes sobre os ataques e as pessoas que os planejaram. Ele apareceu vestindo uma camisa preta de mangas curtas e calças pretas, com o cabelo comprido amarrado para trás. Quando solicitado a declarar sua profissão, ele declarou que era “um guerreiro do Estado Islâmico” após entoar uma oração.
Abdeslam estará presente no tribunal durante o julgamento, que deve durar mais de oito meses. Mais de 300 advogados vão representar cerca de 1.800 partes civis, incluindo sobreviventes, em meio a rígidas precauções de segurança.
Para acomodar o grande – e incomum – número de participantes, os procedimentos ocorrem em uma sala de tribunal temporária, especialmente construída dentro do Palais de Justice, no centro de Paris, onde foram julgados Maria Antonieta e Emile Zola. O espaço é construído em madeira clara, escolhida para criar “uma sensação de calma”, com uma área de vidro onde os réus se sentaram na quarta-feira. Estátuas clássicas de mármore observam a cena.
O juiz presidente do caso, Jean-Louis Peries, reconheceu a natureza extraordinária dos ataques, que mudaram a segurança na Europa e no cenário político da França, e do julgamento que está por vir. A França só saiu do estado de emergência declarado na sequência dos atentados em 2017, depois de incorporar na lei muitas das medidas mais duras.
“Os acontecimentos sobre os quais vamos decidir estão inscritos na sua intensidade histórica entre os acontecimentos internacionais e nacionais deste século”, afirmou.
Entre os convocados para depor está Hollande, que além de estar presente em uma das cenas do ataque, deu a ordem final para que as forças especiais policiais invadissem o Bataclan. Hollande disse na quarta-feira que falaria “não pelo bem da política francesa, mas pelas vítimas dos ataques”. Ele disse que sentiu profundamente o peso da responsabilidade naquela noite e pelos dias e semanas posteriores ao ataque.
“Quando as câmeras são desligadas, você volta para a solidão do Elysée (palácio presidencial)”, disse Hollande ao France-Info. “Você pergunta o que eu posso fazer? … O que aconteceu vai mudar a sociedade?”.
Nenhum dos procedimentos será televisionado ou retransmitido ao público, mas será gravado para fins de arquivamento. A gravação de vídeo só foi permitida para um punhado de casos na França considerados de valor histórico, incluindo o julgamento do ano passado pelos ataques de 2015 contra o jornal Charlie Hebdo em Paris e um supermercado kosher.
Os principais réus do processo em Paris só serão interrogados sobre os atentados a partir de janeiro, o que coincide com um momento decisivo das eleições presidenciais, que ocorrem em abril. Tanto o presidente Emmanuel Macron quanto o líder de extrema direita Marine Le Pen concentram o discurso em temas de segurança nos últimos meses – levantando a perspectiva de que o julgamento se tornará uma questão de ano eleitoral. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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