Em 48 horas, o município chegou a registrar mais de 130 focos de incêndio, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Tornou-se impossível andar por Corumbá sem sentir o cheiro e a fuligem das queimadas. Uma camada de fumaça cobre o céu, deixando o sol alaranjado e o ar “pesado” mesmo no meio do dia. Enquanto os incêndios nos campos e matas seguem no bioma e cercam Corumbá, pelos bairros as queimadas urbanas se proliferam. Terrenos baldios e morros que compõem a cidade de pouco mais de 109 mil habitantes ardem dia e noite.
Segundo o Corpo de Bombeiros local, só este ano foram 293 chamados de incêndios em vegetação no município pantaneiro. E como se não bastassem os problemas ocasionados pelo fogo, a estiagem no Estado já dura mais de 75 dias. Em Corumbá, a umidade relativa do ar vem variando entre 11% e 20% nos últimos dias, sendo que o ideal, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um valor entre 50% e 80%.
O motorista de aplicativo Johonie Midon, que tem rinite e sinusite, diz que sente dificuldades para respirar. “Por si só, quem tem esses problemas de saúde já sofre pela cidade ser quente, mas isso aumenta ainda mais com queimadas e o tempo seco”, conta. “Nesta época do ano, é certeza de sentirmos alguns sintomas, como garganta seca, arranhando, nariz entupido, parecendo ser coriza, mas não é. Nessa hora, ingerir muito líquido ajuda a amenizar, mas não é o suficiente. Até mesmo umidificador de ar tenho em casa, fica ligado praticamente o dia todo por causa de mim e do meu filho pequeno que também sofre com esse tempo.”
Já a servidora pública Luciana Maria Espinoza tem sinusite e bronquite asmática. “Apesar de a gente saber que etsa época do ano é de seca, parece que está ficando mais difícil, com a umidade mais baixa. Para quem tem problemas respiratórios é pior ainda. Ao mesmo tempo temos receio, ficamos na dúvida se é realmente problema respiratório, se é covid-19… dá medo. E para piorar a nossa situação, temos as queimadas. Até febre por causa desse tempo já tive.”
Calor. Além das queimadas e da falta de chuvas, contribui para o aparente clima de deserto o forte calor característico da região, com os termômetros chegando aos 40ºC em alguns dias, com sensação térmica de 44°C, como foi o caso do dia 18, quando a cidade pantaneira registrou a maior temperatura do ano, segundo o Inmet, com umidade relativa do ar em 11%.
De 1º de janeiro de 2021 até 21 de agosto, já foram consumidos pelo fogo um total de 261.800 hectares no Pantanal. Em 2020, foram 1.368.775 no mesmo período. Os dados são do Monitoramento do Centro de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar (CPA) e da Operação Hefesto, que reúne militares que atuam no combate e no monitoramento dos incêndios florestais.
Hoje, o combate dentro da operação Hefesto continua entre as regiões do Abobral e Rio Miranda, já desaguando no Rio Paraguai, onde há duas guarnições empenhadas para combate naquele local para evitar que o incêndio ultrapasse o Rio Miranda e atinja a Rodovia BR-262. Atualmente são 103 militares a pronto emprego, seis viaturas e três aeronaves que estão disponíveis, além de duas embarcações designadas no combate a incêndios florestais.
Nesta semana, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) anunciou o repasse de mais de R$ 8,6 milhões para ações de combate a incêndios florestais em Mato Grosso do Sul. Os recursos serão destinados a sete cidades: Aquidauana, Bodoquena, Bonito, Jardim, Miranda, Porto Murtinho e Corumbá.
O repasse será usado na compra de combustível para viaturas, barcos, aeronaves e equipamentos utilizados no combate aos incêndios florestais. Além disso, os recursos também serão usados em alimentação e hospedagem de 150 bombeiros militares envolvidos na operação de combate aos incêndios no Estado, além de contratação de aeronaves que darão apoio ao trabalho e locação de veículos para transporte de pessoal.
A prefeitura de Corumbá pediu ao governo de Mato Grosso do Sul e ao governo federal apoio principalmente para instalar uma base permanente do Ibama no município. Isso daria mais suporte ao trabalho das equipes do Corpo de Bombeiros e de Prevfogo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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