O idoso morreu em 3 de setembro de 2019. Um dia depois da morte, a gerente-geral da agência bancária, Ana Gabriela Saloto, ligou para a central de atendimento do banco e disse estar ao lado do cliente, que desejava resgatar todo o valor aplicado no plano de previdência privada. “Eu estou com um cliente aqui porque ele está tentando fazer uma movimentação na aplicação dele, tá? Ele está indo para Portugal”, afirmou a gerente, que então passou o telefone para uma pessoa que se passou pelo cliente morto. A atendente então perguntou: “O senhor confirma o resgate total?” e o suposto cliente respondeu: “Pode fazer, pode fazer. Eu estou muito chateado, eu não queria, para mim estava aplicado tudo em poupança isso, já tem um tempo. A gente acaba deixando as coisas… Meu Deus, é muito alto esse imposto.”
Para confirmar esse tipo de operação, o banco também liga para o cliente perguntando se ele realmente quer fazer a transferência. A gerente geral da agência forneceu à central de atendimento do próprio banco um telefone celular de Rafael de Souza Ferreira, que era gerente da conta do idoso morto. Acionado pelo telefone, ele confirmou o desejo de resgatar o valor investido. Na tarde de 4 de setembro, após uma fraude praticada por dois gerentes do banco, todo o valor da aplicação (R$ 8.546.069,96) foi transferido do plano de previdência privada para a conta do cliente morto.
Em 9 de setembro, por ordens dos próprios gerentes, foram emitidos dois cheques administrativos, cada um no valor de R$ 4.273.000,00, para transferir dinheiro da conta do idoso. Um cheque foi em nome de Michell Carneiro Saloto, marido da gerente Ana Gabriela, e outro em nome de Wanessa Christiny Coutinho Ferreira, mulher do gerente Ferreira. Do total de mais de R$ 8,5 milhões a que a viúva teria direito, restaram na conta do marido morto R$ 69,96.
Com o dinheiro furtado, os funcionários do banco compraram carros e outros bens, segundo o MP-RJ. Ferreira comprou uma casa de luxo na zona norte do Rio, por R$ 900 mil. Em 2020, ele e Ana Gabriela pediram demissão do banco.
Além da viúva e de seu advogado, também um mecanismo de segurança do próprio banco identificou a fraude e acionou a Delegacia de Roubos e Furtos do Rio de Janeiro, que iniciou a investigação e indiciou o grupo.
Ao saber que a polícia investigava o golpe, Ferreira foi à casa da viúva e tentou convencê-la a assinar um documento reconhecendo que seu marido havia decidido doar a quantia investida no plano de previdência privada para os gerentes do banco. Ela se negou a assinar e, junto com seu advogado, foi ameaçada. Essa conduta foi informada à Polícia Civil, que abriu novo inquérito contra o ex-gerente, agora por coação, e pediu à Justiça a prisão de Ferreira. Ele foi preso na quinta-feira, na casa que comprou possivelmente com o dinheiro do cliente morto.
O Estadão tentou localizar os advogados dos acusados, sem sucesso até a publicação desta reportagem.
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