Fernando Ringel
Neymar prometeu comemorar seu primeiro gol na Copa homenageando Jair Bolsonaro. Como fez o gol e não cumpriu o que disse, já há quem diga que o camisa 10 poderia pensar em carreira política. Piadas à parte, a questão é simples: “quem lacra não lucra” e como todo jogador tem patrocinadores, por que agradar uns para desagradar o resto dos consumidores? É a lógica da economia recolocando as coisas em seu devido lugar. Até tentam criar rivalidades, por causa das preferências políticas de cada jogador, mas conforme a “PEC da Transição” vai caminhando pelos lados de Brasília, o tempo passa, a seleção avança e o futebol vai voltando a ser apenas o esporte nacional.
E assim, jornais, rádio, TV e portais vão cobrindo os jogos, enquanto as redes sociais repercutem o que acontece no Catar. Aí, tem gente com tempo sobrando para criar memes, e os mais entendidos se divertem escalando como seriam seleções de países que não existem mais, como União Soviética, Checoslováquia e Iugoslávia. Para alegria geral, essa última sempre está representada por Sérvia ou Croácia, proporcionando infinitos trocadilhos com os nomes de seus jogadores: Modric, Petkovic, sinusite, apendicite ou gastrite? A lista é longa. Pela pronúncia do apelido, poderia ser, mas o técnico da Croácia não é o Tite. E o jogo segue parecido em outras seleções: famoso pela comida cozida, o Japão contou com o atacante Asano, e para os que gostam de matemática, a equipe oriental jogou também com o lateral Kubo. Apesar de contar com Carrasco, a Bélgica decepcionou e o Senegal foi pelo mesmo caminho, levando embora o craque Mané. Todos desclassificados. É como naquele samba, “Malandro é malandro…”.
“Pra lá de Marraquexe”
Mais irritada que um homem de Capanema, Paraná, preso por incendiar dois caminhões após ser demitido, só a seleção da Espanha. Entretanto, o mundo comemorou a classificação inédita de Marrocos, para as quartas de final, porque é muito mais emocionante torcer pelo azarão. É assim nos esportes, nas artes e até na política. Por exemplo, o governo atual tem como fechar as contas de 2022? Por que tantos cortes na Saúde e Educação se o próprio governo havia anunciado aumento na arrecadação?
Enquanto o Brasil avança na Copa, em Brasília, a novela segue surpreendentemente ágil e discreta. Mais lisa que o sósia do Neymar, que entrou no gramado de estádio da Copa e deu entrevista para a imprensa estrangeira, a “PEC da Transição” vai caminhando e mudando de forma. Quase uma miragem. Agora, já está sendo chamada de “PEC do Estouro”, mas é preciso refletir: por que o novo governo precisa de tanto dinheiro? Isso tem a ver com as contas que o governo atual vai deixar?
Com o recesso parlamentar no horizonte, a expectativa é de que a PEC deve ser aprovada por dois anos, e depois, possivelmente estendida até o final do mandato de Lula. É compreensível a justificativa de que é preciso ver resultados primeiro, para aí aprovar o restante da verba necessária para os últimos dois anos. Entretanto, é natural também que os deputados e senadores queiram um prazo curto, para manter o presidente sob controle, e assim ter mais poder para negociar com o governo. Eis o jogo, que não é de futebol, mas assim como na Copa, todo mundo quer ganhar. É como dizia Ulisses Guimarães, em Brasília tem gente de todo tipo, “só não tem bobo”.
Professor e comunicador
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