Nos últimos dez anos, graças também ao aumento substancial das cotas de TV, houve crescimento das receitas, batendo o valor mais alto em 2017, com R$ 734 milhões. O diretor da Sports Value, Amir Somoggi, reconhece que o coronavírus e, por consequência, a suspensão de campeonatos e a ausência de público em estádios, influenciaram nessa queda histórica. Mas, para ele, o problema no número vai além disso.
“O patrocínio no futebol pelo mundo não para de crescer nos últimos dez anos. As ligas, não só no futebol, estão faturando alto. E aqui nosso futebol fatura menos do que Dinamarca, Portugal e Bélgica. É inadmissível”, diz. “O extracampo afetou muito a imagem do clube brasileiro. As principais marcas não estão colocando dinheiro no futebol brasileiro. Esse impacto do que acontece nos bastidores é que definem se um patrocinador vai fazer o investimento ou não.”
Segundo Somoggi, o futebol brasileiro ficou preocupado em encher a camisa de patrocinadores e não se preocupou em buscar parceiros para outras áreas, de explorar melhor as plataformas digitais: as redes sociais, a produção de conteúdo por streaming, o aplicativo.
“Quanto mais poluiu o uniforme, menos retorno o patrocinador tem. Quanto mais marcas expostas, pior a visibilidade”, diz o especialista. “O mercado fragmentou. Tem muito patrocinador que não está disposto e não precisa pagar R$ 30 milhões para exibir sua marca na camisa. Mas essa marca tem interesse em movimentar seu negócio, ativar clientes e isso não está sendo explorado pelos clubes brasileiros.”
O Palmeiras lidera a lista de clubes com maior receita em 2020, com R$ 115 milhões, segundo a Sports Value. O Flamengo vem logo atrás com R$ 95 milhões e o Corinthians aparece em terceiro lugar, com R$ 71 milhões. “Fora esses três, o potencial dos outros é muito baixo. Cruzeiro, Grêmio e Inter faturam um terço do Palmeiras. O Santos teve receita de R$ 24 milhões. O São Paulo, de R$ 16 milhões…”
MERCADO EUROPEU – Outra ação que os clubes europeus fizeram para aumentar sua receita foi pensar na equipe de maneira global. “O Barcelona fica em uma cidade que tem 1,5 milhão de habitantes. Há 20 anos, o clube tinha 8 milhões de torcedores. Mudaram a estratégia para escala mundial e hoje têm 400 milhões de fãs que consomem os produtos do clube.” O clube espanhol tem 104 milhões de seguidores no seu Facebook, por exemplo, onde vende vários artigos e peças do time.
Segundo a Sports Value, os times europeus movimentaram mais de US$ 7,7 bilhões (R$ 37,7 bilhões) em marketing no último ano. Só os 20 times do Campeonato Inglês, da Inglaterra, faturaram US$ 1,9 bilhão (R$ 9,3 bilhões). Os 18 times do Campeonato Alemão, na Alemanha, fizeram juntos US$ 1,6 bilhão (R$ 7,8 bilhões) de receitas. Enquanto isso, o Brasil, feita a conversão, teve receita de US$ 109 milhões (R$ 535 milhões).
CBF ESTÁVEL – O estudo também mostra a arrecadação da CBF com patrocinadores. De 2019 para 2020 se manteve estável. Mas o que preocupa é que desde 2016, quando alcançou R$ 506 milhões, a entidade máxima do futebol nacional não consegue aumentar o investimento. Nesse ponto alto, clubes e CBF somados chegaram a arrecadar R$ 1,2 bilhão. Hoje essa soma está em R$ 900 milhões.
Somoggi acredita que o futebol brasileiro tem potencial para dobrar suas receitas. Mas, para isso, precisa repensar o modelo e buscar todos os setores da economia. “Escolher um plano de saúde para representar o clube, um supermercado com uma linha exclusiva de produtos do clube, posto de combustível, uma empresa de imóvel, alimentação. As grandes empresas mundiais, Uber, Airbnb estão investindo no esporte. Não faltam oportunidades. O clube precisa ser uma plataforma completa de marketing e ativação, bem estruturado que demonstre confiança aos investidores.”
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