Segundo contou ao La Nación o vice-presidente do Argentinos Juniors, Adrián Peréz, a decisão de criar uma sequência de pinturas de Diego surgiu com a intenção de tornar o caminho de peregrinação dos fanáticos de Maradona um lugar “mais representativo”. O interesse pelos seus passos sempre houve, mas, após sua morte, em 25 de novembro do ano passado, isso cresceu assustadoramente.
E foi assim que se encomendaram os primeiros retratos pintados por Marley, artista que se autodenomina também um “maradoniano”. Ele já vinha ‘aerografando’ o camisa 10 argentino em vários bairros de Buenos Aires, em projeto no qual se propôs a pintar dez murais do craque. Seu projeto só fez crescer com tamanho interesse. Poucos vão a Buenos Aires e não se envolvem com Maradona. Talvez não haja lugar na cidade que Diego não esteja representado. Os murais com suas imagens estão por todos os lados.
A ideia surgiu ainda antes do falecimento de Diego. “Pensava fazer 10 murais do Maradona como um presente para que ele visse o carinho que lhe temos”, conta Marley, justificando a decisão de colorir Buenos Aires com imagens de Maradona.
Quando estava por começar o terceiro mural da série que chamou de “Dez do 10”, veio a notícia de sua morte. Logo depois de fazer um mural no bairro do Argentinos, foi convidado para dar forma aos primeiros retratos da rua Juan Agustín García. A ideia era que o rosto de Diego ocupasse todo o contorno do clube onde ele surgiu no estádio que hoje leva seu nome.
“Ao ter saído das bases, das divisões inferiores, sentimos que somos um pouco mais donos do que o resto”, confessou o dirigente sobre Maradona. A verdade é que Diego nunca pertenceu a ninguém. É possível perceber essa tendência nos momentos escolhidos para serem reproduzidos. Há Diego no Argentinos, em passagem pelo Barcelona, Napoli e pela seleção, mas nada de suas trajetórias pelo Boca Juniors ou pelo Newell’s Old Boys de Rosário.
Sobre a oportunidade, Marley agradeceu a oportunidade de eternizar Maradona por meio de seu trabalho, eternizando também seus traços. “Obrigada a @aaajoficial por confiar na minha arte. Espero que se note que o faço com todo meu coração”, postou o artista nas redes sociais.
DETALHES DAS OBRAS – A rua se chama Juan Agustín García, mas as placas de identificação foram alteradas há um ano, após a morte do craque, e o nome que se lê agora é o de Diego Maradona. Os enormes retratos de Maradona feitos em aerógrafo ocupam dois lados do estádio, nos quais o artista trabalha a técnica do hiper-realismo e sugere, em tom de desafio, estar trabalhando para produzir o maior mural do mundo. E assim Maradona cresce e se espalha em Buenos Aires, sob sol e chuva, calor e frio. Ele resistirá ao tempo.
“A dirigência do clube ia me pedindo fotos e eu ia lhes aconselhando segundo a imagem que melhor se via, dizendo também para não centrar-se nas imagens mais conhecidas dele, senão em outras que ainda não tivessem sido transformadas em murais”, conta Marley sobre a seleção dos momentos a serem pintados.
Há vários Diegos nas pinturas de Marley, mas todos dentro de um só. Diego inspira Maradona em cenas inéditas e algumas mais conhecidas, como o gol de mão, ‘Las Manos de Deus”, na Copa do Mundo contra a Inglaterra, em 1986. Mas há também um garoto cabeludo em sua estreia na base dos Cebollitas ou ainda com a camisa da seleção. O abraço em Caniggia após um gol está diretamente ligado ao Brasil, pois aquele gol eliminou a seleção brasileira da Copa do Mundo da Itália, em 1990. Ao abraço, seguiu-se um beijo.
Os Diegos do grafiteiro não param por aí, segundo ele adiantou ao Estadão.
Ainda faltam 100 metros para serem cobertos de tinta no trabalho no Argentinos, e logo o artista irá começar a pintar um novo mural em Bajo Flores, perto do estádio do San Lorenzo. Questionado sobre o que o aproxima de Maradona, o artista não titubeia e responde rapidamente: “a personalidade”. “Nós, os argentinos, somos todos um pouco parecidos ao Diego. Bem argentino era ‘o gordo’, como lhe chama carinhosamente. Se já me emocionava, quando ele estava vivo, pintar um mural com sua imagem, imagine agora!, depois de morto”, confessa Marley.
A CAPELA DE D10S E NOVAS HOMENAGENS – No dia 10 de dezembro de 2020, pouco depois da morte de Maradona, foi inaugurado um santuário nas imediações do clube Argentinos, onde os fãs iam depositar oferendas ao ídolo. Hoje, o local se transformou numa capela, com direito a banco de igreja e tudo, onde esses objetos estão reunidos em volta de um altar, onde também é possível fazer uma prece ao jogador mais querido do país. Virou lugar de peregrinação, de argentinos e não argentinos.
Para o aniversário da morte de Diego, estão sendo preparadas várias homenagens, uma delas é a inauguração de um mosaico com a imagem do craque imortalizada com o uniforme do Argentinos. A iniciativa foi de uma loja de cerâmicas especializada na técnica que é vizinha do clube, no bairro de La Paternal.
“Estamos fazendo um mosaico para homenagear Maradona. A ideia surgiu porque temos uma loja de azulejos aqui no bairro e também somos torcedores do Argentinos Juniors, então propusemos ao clube fazer a doação. Há 12 pessoas envolvidas nesse projeto, todos doando sua força de trabalho. Vamos inaugurá-lo no dia 25″, conta Maria Angélica Aya, idealizadora da iniciativa. Ela, que é colombiana, explica que o camisa 10 é algo que faz parte da cultura argentina. Maradona é uma figura conhecida mundialmente, então vivê-lo, ter vivido ano passado a morte dele e ver o que ele significa para o povo me parece algo muito emocionante”, diz.
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