Produtores de café arábica dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, que abrigam algumas das principais regiões produtoras do Brasil, contabilizam os prejuízos causados por duas geadas consecutivas que atingiram as lavouras. De origem africana, o cafeeiro é sensível ao frio e, dependendo da intensidade, a geada pode até matar a planta. O governo federal tem usado imagens de satélite para dimensionar o tamanho do estrago, mas já admite o impacto na safra de 2022.
O preço do café arábica disparou no mercado internacional. A saca de 60 kg, que era vendida a R$ 606 em dezembro de 2020, atingiu R$ 960 ontem em São Paulo – alta de quase 60%.
Muitos produtores terão de arrancar os cafezais mais danificados. É o que pode ter acontecido em algumas lavouras de Lopes. “Ainda não temos certeza, mas é possível que tenhamos de fazer a recepa (corte baixo do tronco, com perda da copa) em alguns talhões”, disse. Ele mantém tratores e pessoal a postos para, eventualmente, enterrar outra vez os cafeeiros novos. “Há outra previsão de geada para o fim do mês.”
O pesquisador José Donizeti Alves, especialista em café da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas, disse que essa última geada foi mais severa do que a anterior, na noite de 30 de junho. “Desta vez, a extensão da área foi muito maior, atingindo 15% do cerrado mineiro, 20% das lavouras do sul de Minas e 10% na região da Mogiana, com variável alta de queima, entre 50% e 100%. Ainda é preciso aguardar até duas semanas para conhecer a extensão dos danos, mas a quebra é irreversível e deve passar de 4 milhões de sacas”, disse. O Brasil produz uma média de 60 milhões de sacas de café por ano.
Na região cafeeira da Alta Mogiana, que abrange sete municípios do sudoeste de Minas Gerais e 15 paulistas, a quebra na safra de 2022 poderá chegar a 35% devido às condições climáticas adversas. “Já prevíamos uma perda de 25% em função da seca e agora, com as geadas, podemos ter até 10% a mais de quebra”, disse o presidente do Sindicato Rural de Franca, José Henrique Mendonça. Ele contou que a primeira geada, mais fraca, havia atingido de 1,5 mil a 1,8 mil hectares de café, causando a queima das folhas e danos superficiais – a chamada geada de capote, que atinge mais a parte externa da planta.
A segunda, entre a noite de 19 e madrugada do dia 20, foi mais severa e deixou prejuízos maiores. “Infelizmente, essa última foi grave. Na região, este ano é de produção baixa, devido à bienalidade da lavoura. Por isso, a maioria dos produtores usou a técnica do esqueletamento do cafezal (corte dos ramos laterais), apostando em uma boa produção no ano de 2022. Essas lavouras foram pegas em cheio pela geada e pelo frio intenso.” Com o esqueletamento, a planta fica mais exposta às intempéries.
A região da alta Mogiana produz em média 5 milhões de sacas de café arábica por ano.
O produtor Luís Clóvis Gonzaga, de Pedregulho (SP), conta que, após uma colheita em 2020 prejudicada pela estiagem e pelo calor intenso, ele e outros cafeicultores da região decidiram preparar a lavoura este ano para uma boa produção em 2022. Não contavam com geadas tão fortes. “Tivemos uma geada em 1994 que afetou bastante os cafezais, mas tenho certeza de que esta foi muito mais forte e intensa”, disse.
No Paraná, a primeira geada havia atingido a região central do Estado, enquanto a segunda pegou com mais força os cafezais do chamado norte pioneiro, segundo o especialista em café do Departamento de Economia Rural (Deral), Paulo Sérgio Franzini. “Estamos com quase 50% da safra atual já colhida, então o impacto será pequeno, com perda na qualidade do café. Já a safra de 2022 terá um comprometimento maior, porém ainda é cedo para quantificar”, disse. Segundo ele, a geada pegou as plantas estressadas pela seca e pela colheita, o que pode potencializar os danos. “Mais de 50% da nossa área do café foi atingida, mas só a partir de agosto é que aparece o efeito canela, então precisamos aguardar.” A chamada geada de canela é provocada pelo vento que sopra morro abaixo em noites de frio intenso, congelando a seiva que passa pelo caule do cafeeiro, que são necrosados e ficam escuros. A planta precisa ser cortada.
Equipes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, enviou equipes ao campo para avaliar os estragos. “Pelo que já sabemos, entre 150 mil e 200 mil hectares de cafezais foram afetados”, disse o diretor de Política Agrícola e Informações, Sérgio De Zen. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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