O que explica os protestos?
A principal razão é o desespero econômico. Há carência de alimentos, medicamentos, eletricidade e combustível. O governo cubano está basicamente quebrado, não tem mais fontes de moeda estrangeira. A pandemia acabou com a indústria do turismo, o governo Trump cortou as remessas dos cubano-americanos, os embarques de petróleo venezuelano caíram 50%, por causa dos problemas na Venezuela. Todas as principais fontes de moeda estrangeira de Cuba estão bloqueadas agora. E, assim, o governo não consegue importar alimentos, remédios e combustível. Acrescente a isso, é claro, a própria pandemia. Cuba tinha feito um bom trabalho na contenção do vírus. Fecharam a ilha completamente no ano passado, tinham medidas de quarentena obrigatórias muito restritas para pessoas com teste positivo. E como eles têm um sistema de saúde preventiva, puderam fazer o rastreamento de contatos. As coisas estavam relativamente bem, sob controle, e começaram a se abrir novamente. Agora, a variante Delta foi detectada e há propagação comunitária, sem que o sistema de saúde tenha recursos para lidar com isso.
Qual o papel do maior acesso à internet nesse processo?
Por muito tempo, os cubanos tiveram pouco acesso à internet, por razões econômicas e políticas. Mas, nos últimos anos, a disponibilidade se expandiu muito rapidamente. Em Cuba, onde as associações voluntárias independentes não são legais, as redes sociais tomaram esse lugar e se tornaram um instrumento de mobilização para a ação no mundo real.
Como o sr. vê a política do presidente Biden para Cuba?
Até agora, o governo de Joe Biden não fez absolutamente nada. Eles deixaram todas as sanções de Trump em vigor. O Departamento de Estado disse que aplaude os cubanos por tentarem ajudar uns aos outros. Ainda assim, os Estados Unidos mantêm de pé a proibição de remessas que impede os cubanos-americanos de ajudarem suas famílias na ilha. Simplesmente não faz sentido. Sobre as manifestações, o governo Biden disse o que já se esperava: que apoia o povo cubano e pede que o governo não use força contra manifestantes pacíficos. É perfeitamente compreensível, mas não há reconhecimento por parte do governo de que suas políticas contribuíram para a crise que está ocorrendo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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