A cúpula do clima será o mais importante teste das relações entre os dois países desde Joe Biden assumiu a Casa Branca, em janeiro. Na semana passada, Jair Bolsonaro enviou uma carta ao americano, na qual se compromete em acabar com o desmatamento ilegal até 2030 – meta que consta no Acordo de Paris, assinado em 2015. Ainda que o compromisso já existisse, o governo americano considerou importante o sinal enviado pelo presidente brasileiro.
Mas sinais políticos não bastam, dizem os americanos envolvidos nas negociações. Segundo eles, é papel de todo país signatário do Acordo de Paris exigir que os demais cumpram suas obrigações. Por isso, representantes do governo Biden querem ver o plano de como o Brasil pretende atingir o fim do desmatamento ilegal até 2030. Eles esperam uma estratégia clara que mostre ações de curto prazo.
Os sinais dados pelo governo brasileiro até agora, segundo disseram ontem diplomatas americanos, mostram que há espaço para colaboração entre Biden e Bolsonaro. No entanto, eles garantem que não avaliarão “palavras”, mas resultados e querem ver a redução no desmatamento ainda neste ano.
Os americanos também consideram que a meta de redução de emissões do Brasil pode ser mais ambiciosa. O discurso de Washington é de que nenhum país tem feito o suficiente nessa área, nem mesmo eles. Mas os EUA pretendem anunciar ainda nesta semana a revisão de suas metas de redução de emissões de carbono, além de pacotes de regulação empresarial em diversas áreas para reduzir o impacto ambiental, com intuito de pressionar os outros países a seguirem pelo mesmo caminho.
O governo Bolsonaro reafirmou a meta de redução de 43% nas emissões até 2030, com base no que era emitido pelo Brasil em 2005. O compromisso havia sido assumido pelo governo de Dilma Rousseff, em 2015, no Acordo de Paris.
Apesar das constantes cobranças públicas e nos bastidores para que o Brasil se comprometa com ações imediatas e concretas, os EUA não indicaram objetivamente o que consideram o ideal de redução do desmatamento neste ano, por exemplo. Segundo americanos envolvidos nas discussões, não caberia a eles prescrever o que o Brasil precisa fazer ou impor metas, mas sim tentar impulsionar o governo brasileiro a assumir objetivos mais ambiciosos.
Em abril, em entrevista ao Estadão, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, disse ter pedido US$ 1 bilhão para reduzir a devastação da Amazônia em até 40% em 12 meses. Mas os EUA indicam que a verba deve ser atrelada à entrega de resultados primeiro – e ainda neste ano.
O Itamaraty tem defendido que o governo Bolsonaro anuncie mais verba para os órgãos ambientais, que foram esvaziados nos últimos anos e perderam capacidade financeira, como Ibama e ICMBio, além de mais dinheiro para o Ministério do Meio Ambiente.
A avaliação de diplomatas brasileiros é que isso seria entendido pelos americanos como um sinal de investimento no combate ao desmatamento ilegal. Negociadores do governo Biden consideram que é extremamente importante que os órgão tenham recursos necessários para trabalhar de maneira efetiva. No entanto, o Planalto considera que o imbróglio na discussão do Orçamento com o Congresso não permite o anúncio de mais gastos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.