Para o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, “as forças vivas da sociedade brasileira, seja a academia, a ciência, as ONGs e os setores produtivos mais desenvolvidos, que têm maior clareza do momento atual, estão hoje dissociadas da posição do governo”. Como mostrou o Estadão/Broadcast, 24 governadores entregaram uma carta assinada ao embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, com uma proposta de negociação direta sobre o clima. O documento foi elaborado pela coalizão Governadores pelo Clima.
“Quando um país está completamente dividido entre as forças vivas da sociedade e seu governo, não há nenhuma confiabilidade possível com as atitudes do governo”, analisa Bocuhy. “A confiança é a base da diplomacia”, pontua.
No evento, o Brasil deve pedir aos Estados Unidos uma ajuda de cerca US$ 1 bilhão para medidas de combate ao desmatamento ilegal. No entanto, a aprovação dos repasses deve sofrer forte pressão do Congresso norte-americano. De acordo com Bocuhy, existe uma posição crescente de que qualquer tipo de auxílio envolvendo o país deverá contar com uma política ambiental clara.
Luiz Mourão, do Coletivo Fórum das ONGs Ambientalistas do Distrito Federal e Entorno, acredita que é muito difícil, dentro do que está sendo apresentado como política ambiental do Brasil, “que o governo possa convencer os demais países de sua boa-vontade no assunto, uma vez que tudo demonstra o contrário”.
Na avaliação de Yara Schaeffer-Novelli, professora sênior da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Instituto Bioma Brasil, estamos diante de dois Brasis. “Um, onde a sociedade civil se manifesta em defesa do Estado brasileiro, sua Constituição e a integridade de seus recursos naturais; e de outro lado um governo que não se reconhece no papel de Estado, mais associado aos interesses setoriais causadores do aquecimento global”, afirma.
A Cúpula do Clima ocorre entre hoje e sexta-feira (23) e reunirá 40 líderes mundiais a convite dos Estados Unidos. O Brasil será representado pelo presidente Jair Bolsonaro, que chega à cúpula sob forte cobrança pelo desmatamento ilegal na Amazônia.
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