A decisão de priorizar a Coronavac no reforço para idosos tem encontrado resistência de parte do público e sido alvo de críticas de especialistas. O principal argumento é que essa vacina gera menos proteção no grupo, embora siga recomendada para as demais faixas etárias.
O governador João Doria, no entanto, voltou a defender o uso do imunizante em evento para anunciar medidas de combate à pandemia. “O governo de São Paulo reforça a eficácia da Coronavac como dose de reforço. É um esclarecimento importante diante de notícias díspares”, afirmou. “Não quero, com isso, fazer nenhuma acusação a cientista, médico ou especialista, mas é preciso repor de maneira clara a informação.”
O Estado começou a aplicar a terceira dose para pessoas com 90 anos ou mais na segunda-feira, 6. Até o momento, a Coronavac corresponde a 99% dos cerca de 16 mil reforços aplicados, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde.
A estratégia paulista acontece em desacordo à recomendação do Ministério da Saúde. Para idosos, o governo federal indica prioritariamente o imunizante da Pfizer e, quando disponível, da AstraZeneca e Janssen.
“Todas as vacinas dadas na segunda e terceira dose incrementam a chamada memória imunológica”, afirmou o secretário Estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, em apoio à Coronavac.”É isso que precisamos fazer, especialmente com idosos e imunodeprimidos, que tendem a diminuir o número de anticorpos ao longo de seis a oito meses.”
Para os cientistas destacados pela gestão Doria, não haveria evidência científica suficiente para associar a Coronavac, em si, com a perda de proteção contra a covid ao passar do tempo. Segundo argumentam, esse comportamento também seria observado em grupos mais vulneráveis para os demais tipos de vacina.
Diretora clínica do Hospital das Clínicas e integrante do Comitê Científico do governo, a médica Eloisa Bonfá disse que a terceira dose seria “muito bem vinda” e “representa um cuidado extra”. “Vale a pena fazer com a vacina disponível, que já se mostrou efetiva. É um time que está ganhando”, afirmou. “A falta de evidência não pode ser usada como evidência a favor ou contra.”
Para embasar sua posição, Eloisa citou análise de eficácia do imunizante. “A Coronavac reduziu 88% das internações e 86% mortes por covid em estudo com 10,2 milhões de pessoas, conforme trabalho publicado na New England Journal of Medicine, uma das maiores revistas científicas do mundo.”
Na visão da especialista, hoje a prioridade deveria ser completar a cobertura vacinal de outras faixas etárias. “É fundamental antecipar a segunda dose para a população adulta, em especial para proteção contra a cepa Delta que é predominante no nosso meio”, disse. “A vacinação completa de adultos significa proteção para os idosos.”
Coordenador executivo do Comitê, João Gabbardo afirmou que o uso da Coronavac no reforço ajudaria a ampliar a cobertura vacinal em geral. “Quem fez AstraZeneca ou Pfizer está aguardando há meses pela segunda dose e não está devidamente protegido para a variante Delta”, disse. “Quando colocamos a Coronavac como dose adicional, o objetivo é ter mais vacinas específicas para acelerar quem está aguardando.”
Também integrante do Comitê, o médico José Medina afirmou que a discussão sobre terceira dose é recente e ainda precisa de mais dados sobre a melhor forma de proceder. “Utilizar a mesma plataforma (tipo de vacina) ou misturar plataformas diferentes ainda é um assunto sem comprovação científica bem sedimentada.”
Atualmente, 54,68% da população adulta está com o esquema vacinal completo. Com o avanço da imunização, o Estado tem registrado semanas consecutivas de quedas de novos casos, mortes e internações por covid. Ao todo, São Paulo contabiliza 4.297.229 diagnósticos e 146.610 óbitos desde o início da pandemia.
Hoje, há 2.785 pessoas internadas por causa da doença. Isso representa uma taxa de ocupação de 33% das UTIs paulsitas, que ficaram lotadas nos momentos mais agudos da crise sanitária. “Vacinar mais é a única chance de proteger a população”, disse Jean Gorinchteyn.
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