Jovem teve forma branda de covid-19 em fevereiro desde ano, mas seu quadro evoluiu para Diabetes tipo 1, o que a levou ficar 47 dias na UTI
Marcilei Rossi e Priscila Corteze
Que a pandemia da covid-19 fez o mundo parar isso já é mais do que clichê falar, porém, para algumas pessoas o mundo, a disseminação do vírus, o ano de 2021, mas principalmente as pequenas coisas da vida passaram a ter outro sentido neste ano.
No auge dos seus 17 anos, o diagnóstico de covid de Isadora Morais Valentini, em fevereiro deste ano, poderia ser só mais um dentre os 1.190 pacientes positivados no segundo mês do ano em Pato Branco.
Naquele mesmo mês, seu avô materno contraiu a doença e não resistiu as complicações, e outras perdas familiares foram registradas. Porém, a jovem que teve a forma mais branda da doença nem imaginava o que o vírus tinha causado em seu organismo.
Já fora do quadro evolutivo do vírus, Isadora começou a emagrecer de forma acelerada, o primeiro pensamento de todos em casa era de que a jovem estava abalada pelo falecimento do avô, com quem ela era muito ligada.
No entanto, o emagrecimento passou a ser acompanhado de fortes dores abdominais e no peito, o que fez a mãe Sandra Mari de Moraes, levar a filha pela primeira vez ao atendimento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), e onde as duas ouviram o diagnóstico de ‘ansiedade pós-covid’. “Voltamos para casa, e ela não comia mais, só vomitava”, recorda Sandra que preocupada com o quadro de saúde de sua filha buscou uma nova avaliação médica, e o diagnóstico persistiu.
Medicada com antidepressivos, alguns exames foram feitos, mas as dores persistiam, o que fez a família regressar a UPA, onde inicialmente foi cogitado um quadro de apendicite, mas com a realização de novos exames foi diagnosticado o quadro de Diabetes tipo 1.
No mesmo dia, Isadora foi internada na Policlínica Pato Branco. Tamanha a gravidade de seu caso, a jovem sempre ativa e alegre, não lembra até hoje de como foi sua internação, contudo, a mãe relata que ela, muito agitada precisou ser contida para iniciar o tratamento.
Logo na sequência foi feita a transferência para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde no segundo dia Isadora foi entubada e permaneceu por 47 dias.
“Os dois rins paralisaram, foram 15 dias fazendo hemodiálise e graças a Deus voltou”, recorda Sandra com os olhos marejados de lágrimas ao revelar, “o médico achou que ela irai ter que fazer transplante.”
“Ela usou sonda, fralda (…). O diagnóstico dos médicos foi Diabete tipo 1 pós-covid. Isso acabou com a gente. Eu parei de trabalhar para cuidar dela”, comenta a mãe recordando que mais do que os 20 quilos perdidos pela filha, Isadora teve que trainava em academia, fazia dança em CTG, perdeu tônus muscular.
Recuperação
Em suas redes sociais (Instagram @valentini.isa) Isadora mostra como vem sendo sua recuperação. A força de vontade da jovem, somada a dedicação diária as duas sessões de fisioterapia do início, possibilitaram a ela ter segurança e força para andar e se alimentar sozinha.
A aplicação é tanta, que até hoje, ela treina escrita diariamente, e faz pequenas atividades domésticas que contribuem para a sua recuperação. Isadora também voltou a praticar exercícios físicos, após receber todo o suporte na Move, e assim, em um novo ritmo a vida vem ganhando novo sentido.
Ela relata ainda que não tem como descrever como foram os primeiros momentos de higiene pessoal em casa, mesmo com muitas limitações. O banhar-se, escovar os dentes, e arrumar o cabelo hoje são vitórias diárias.
Gratidão
Devido ao tratamento hospitalar, Isadora que foi submetida a uma traqueostomia, para facilitar a chegar de ar até os pulmões, ainda convive com a cânula traqueostomica. Sua voz é fraca, mas repleta de amor e gratidão.
Além de todo o carinho pela atenção da mãe, Isadora, também destaca a dedicação da irmã Jéssica. “Ela também parou a vida dela para me auxiliar”, pontua.
Cerca de sete meses após a permanência na UTI, Isadora comenta que teve ciência de tudo o que aconteceu com ela, quando foi transferida para o quarto. “Minha irmã estava comigo e ela me contou tudo o que aconteceu”, afirma a jovem, sendo completada pela mãe, “o neurologista achou que ela ia ficar com problema cerebral por causa da parada cardíaca e cerebral”, afinal, foram três paradas.
Isadora tem muito para evoluir clinicamente, está em busca de mais qualidade de vida e sonha com o dia da remoção da cânula traqueostomica, para tanto vem realizando exames e procedimentos com equipe especializada.
Na lista de sonhos para 2022, a jovem que no início de dezembro concluiu o Ensino Médio e recebeu diversas homenagens de professores, colegas de turma, amigos e familiares, quer ingressar na faculdade. Nos planos cursar Enfermagem. “Com tanto cuidado que tive no hospital de pessoas que nem se quer conhecia, quero muito fazer o mesmo e ajudar outras pessoas assim como me ajudaram”, comenta Isadora, revelando que sua segunda opção para uma faculdade é Educação Física.
Mas também voltar a hábitos antigos, de dançar, sair para passear sem o olhar curioso das outras pessoas, enfim voltar, mesmo que aos poucos, a uma ‘normalidade’ de antes da pandemia ter virada sua vida do avesso.
Com tudo que Isadora passou em 2021, ao escolher uma palavra para definir seu ano, ela destaca gratidão, por estar viva.
Fotos: Arquivo pessoal