“A aproximação das empresas com os empreendedores vem crescendo ano após ano, mas ganhou ainda mais impulso com a pandemia e a necessidade de digitalização”, diz o cofundador da plataforma de inovação, Rafael Levy.
Esses números mostram uma clara mudança de perfil. Se, no passado, o desenvolvimento de novos produtos e de soluções vinham de programas de P&D e laboratórios criados dentro das companhias, hoje boa parte das inovações adotadas vem de fora.
A velocidade das mudanças tecnológicas tem sido um dos motores desse movimento. Nos últimos anos, as empresas entenderam que, se ficassem fechadas em seus ambientes, teriam mais dificuldades para inovar e poderiam perder competitividade diante dos concorrentes. Normalmente, o tempo e o dinheiro gastos dentro dos centros de pesquisa das empresas são maiores quando comparados à exploração do ecossistema de startups, formado por mais de 15 mil empresas, dizem especialistas.
Neste ano, o número de companhias que buscou startups para fazer parcerias saltou de 2.825 para 4.982 – aumento de 76%. “Ficamos bem impressionados com o crescimento. E agora percebemos que não são só multinacionais e grandes corporações. Começamos a ver médias empresas iniciando esse processo”, diz Levy.
Isso traz mais competitividade para o mercado, cria novas oportunidades e incentiva a abertura de startups. É um círculo virtuoso.
Jornada
Os números evidenciam que, daqui para frente, a jornada da inovação não será feita mais sozinha. Os executivos e empresários descobriram que é mais fácil inovar junto do que separado, e que o caminho é mais curto. “Hoje acredito que quase a totalidade das empresas de médio porte para cima vai ter uma experiência com startup nos próximos meses”, avalia Luiz Ponzoni, sócio da PwC Brasil.
No caso da gigante das bebidas Ambev, essa experiência se repetiu mais de 200 vezes no ano passado, o dobro dos contratos fechados nos cinco anos anteriores. A empresa ficou em primeiro lugar no ranking da 6.ª edição do “100 Open Corps 2021” como a companhia que teve o maior engajamento com as startups – em 2020, a campeã foi a Natura.
“Essa liderança vem de um contexto de transformação dentro da companhia, seja digital ou cultural. Estamos num mundo em que precisamos ter as portas abertas para a inovação”, diz o diretor de tecnologia da Ambev, Eduardo Horai.
Ele afirma que a Ambev tem hoje 11 programas de parcerias, aceleração e inovação. Num deles, a estratégia foi ouvir o que as startups tinham a oferecer de soluções, sem limitações de áreas e temas.
Em outro, chamado de Aceleradora 100+, o objetivo é focado em ESG – sigla em inglês para as práticas ambientais, sociais e de governança.
As startups precisam trazer soluções envolvendo questões de mudanças climáticas, agricultura sustentável, embalagem circular e gestão de água. Só nos dois programa, 26 empresas foram escolhidas para continuar desenvolvendo as soluções, diz Horai.
O executivo conta que a ideia de fazer as lives de música no ano passado, durante o isolamento social, surgiu da parceria com a startup Winnin. “Por meio de inteligência artificial, ela ajuda a dar insights que permitem acompanhar o que está ocorrendo no mundo. Foi a partir daí que tivemos a ideia de fazer as lives.”
Contratação
Na Ambev, como em todo o mercado, não há um modelo padrão de parceria com as startups. Horai diz que, às vezes, as empresas só querem um suporte para desenvolver seus produtos e ideias. Mas pode ser uma cocriação e um acordo comercial também. Há ainda outras opções, como prestação de serviço e aquisição do produto.
Segundo a “100 Open Startup”, cerca de 80% dos acordos de inovação aberta (com parcerias) implicam transferência de recursos da empresa maior à startup. O valor médios dos contratos aumentou de R$ 140 mil em 2020 para R$ 270 mil neste ano.
“Esse processo é simples, genial e dinâmico. Mas exige não só acompanhamento como uma integração maior com a startup”, diz Marcus Ayres, diretor de indústria e inovação da consultoria Roland Berger.
Segundo ele, a inovação aberta tem um caminho de forte crescimento no Brasil nos próximos anos. Isso porque, até então, esse era um mundo limitado a grandes corporações e que agora começa a ser descoberto por mais empresas. Para muitas delas, no entanto, o modelo terá de ser um pouco diferente, diz Ayres.
Nem todas as companhias têm condições de montar estruturas grandes para isso. “Mas temos Sebrae, Fapesp e Senai, além das câmaras de comércio, que podem ser um canal para encontrar parceiros.” Além disso, completa ele, é possível procurar outros grupos que tenham o mesmo problema e tentar uma solução em conjunto. O importante é buscar a inovação.
Rodolfo Santos, presidente do BMG Uptech, braço de inovação do Grupo BMG, concorda. “Temos de unir forças e aproveitar o melhor de cada um. Uma grande empresa é como um transatlântico, difícil de manobrar. A startup é como um iate, mais flexível.”
A empresa, que ocupa a terceira posição do ranking da 100 Open Corp pelo segundo ano consecutivo, já investiu em mais de 80 startups. E deve continuar nesse ritmo nos próximos anos.
Essa também é a previsão da siderúrgica ArcelorMittal. A empresa manteve a segunda posição no ranking com soluções focadas nos problemas dos clientes, como crédito; em logística para varejo; e também na área de saúde para os funcionários.
Segundo Paula Harraca, diretora de Estratégia, ESG, Inovação e Transformação do Negócio da companhia na América Latina e Mineração Brasil, hoje 70% das inovações feitas em parcerias são voltadas para o “core business” da empresa. Outros 30% estão relacionados a novos mercados e fronteiras de negócios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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