Guedes: Meus advogados orientaram a responder ‘não’ em Comissão de Ética

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta terça, 23, que foi orientado por seus advogados a dizer que nenhum de seus parentes atuava em áreas relacionadas à competência do seu cargo na sua declaração à Comissão de Ética Pública (CEP), apesar da participação da sua esposa e filha em offshores.

“Lemos exatamente o mesmo trecho: o declarante possui cônjuge ou parente que atue em área ou matéria afins da competência do seu cargo? A resposta é não. Não, não e não, o que eu faço aqui não atinge em nada isso”, disse, em audiência com as comissões de Trabalho, Administração e Serviço Público e de Fiscalização Financeira e Controle da Casa.

Guedes voltou a dizer que se desfez de todos os seus investimentos que poderiam estar relacionados ao cargo de ministro da Economia. Ele também negou ter operações no banco HSBC na Suíça e disse que não tem sócios na equipe econômica, incluindo o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

“O que tenho em comum com o presidente do BC é que, na verdade, eu era um admirador e amigo pessoal do avô, e sabia que ele era um excelente banqueiro e que seria um bom banqueiro central para o Brasil”, disse Guedes. O ministro também defendeu que a independência do BC faz com que a autoridade monetária se torne mais firme na sua missão de controlar a inflação.

CRÍTICAS E ELOGIOS

Pela liderança do governo, o deputado Sanderson (PSL-RS), disse que não teria nenhuma pergunta a fazer ao ministro da Economia, Paulo Guedes, por avaliar que o ministro já teria esclarecido todas as dúvidas sobre a sua empresa offshore. “O ministro Paulo Guedes é muito respeitado no exterior. É quase como um Ronaldinho da Economia a serviço do governo Bolsonaro”, chegou a afirmar o parlamentar.

Já pela liderança do PT, o deputado Rogério Correia (MG), citou a inflação, o desemprego e o “furo do teto” para questionar o apelido de “Ronaldinho da Economia” dado ao ministro instantes antes.

O parlamentar apontou que o dólar já vinha se valorizando em relação ao real antes mesmo da pandemia – culpada por Guedes pela subida do câmbio. “Em março de 2020, o dólar já tinha passado dos R$ 5,00. O senhor já tinha cometido várias besteiras. A alta do dólar vinha desde o início da gestão do senhor. O real tem o pior desempenho frente ao dólar entre as 30 moedas mais negociadas do mundo”, afirmou. “Agora o senhor foi pego coma boca na botija sonegando impostos com a offshore”, acusou.

’30 ANOS DE SUCESSO INCOMODAM MUITA GENTE’

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), saiu em defesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, lembrando que ele declarou seus investimentos em uma offshore a todos os órgãos competentes. Para o parlamentar, as acusações ao ministro têm o objetivo apenas de desgastar o governo Bolsonaro.

“São trinta anos de sucesso na vida privada e isso incomoda muita gente. A maior acusação que vi aqui foi indicando que o senhor é uma pessoa de sucesso. É comum pessoas de sucesso ter investimentos diversificados no exterior. Mas essa galera aqui, uma minoria, quando ouve falar em offshore lembram de roubalheira e de corrupção, que é o que eles faziam no governo”, afirmou. “O ministro tem tudo regular e declarado. Como falam em manobrar o dólar se o governo colocou o Banco Central independente?”, questionou.

Para Eduardo Bolsonaro os deputados da oposição criticariam o Ministério da Economia mesmo se ele fosse comandado pela “Madre Teresa de Calcutá”. “Eles iam chegar e iam perguntar: esse vestidinho de freira aí, custou quanto? E iam sentar o cacete na Madre Teresa de Calcutá”, completou.

ENTENDA O CASO

O ministro da Economia Paulo Guedes foi convocado para explicar movimentações financeiras no exterior por meio de empresas em paraísos fiscais para as comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.

Em outubro, a revista Piauí e o site Poder360 revelaram a existência de empresas offshore em nome de Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. As informações fazem parte da investigação dos Pandora Papers, coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).

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