Ruth de Souza, ou Dona Ruth, como os amigos a tratavam carinhosamente, tem seu nome inscrito na história da cultura nacional. Em sua extensa carreira, teve participação decisiva na trajetória do teatro, cinema e TV. Ícone de toda uma geração, que a acompanhou nos mais diversos trabalhos, Ruth é exaltada por ter lutado pelo reconhecimento do artista negro no Brasil.
Expoente do Teatro Experimental do Negro, do multiartista Abdias do Nascimento, ela foi a primeira atriz negra a subir ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, encenando a peça O Imperador Jones (1945), do dramaturgo americano Eugene O’Neill. Ainda no teatro, em 1959, sua atuação em Oração para Uma Negra, de William Faulkner, foi tão impactante que ela ganhou uma bolsa da Fundação Rockfeller para estudar nos EUA. Quando retornou ao País, após um ano, trazia na bagagem o conhecimento sobre o movimento negro nos Estados Unidos, na luta por direitos civis. Traz sentimentos que vão nortear ainda mais sua trajetória.
No cinema, surgiu na telona no filme Terra Violenta (1948), de Edmond Francis Bernoudy, uma adaptação do romance Terras do Sem Fim, de Jorge Amado. Esse seria apenas o pontapé inicial, que teria ainda outros grandes trabalhos, como atuações em A Morte Comanda o Cangaço, O Assalto ao Trem Pagador, As Cariocas, O Homem Nu, Orfeu Negro. E foi na sétima arte que Ruth de Souza foi reconhecida lá fora, quando foi indicada para o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Veneza, em 1954, pelo filme Sinhá Moça, dirigido por Tom Payne. No entanto, quem levou o Leão de Ouro na edição foi a alemã Lilli Palmer.
Na televisão, Ruth participou de inúmeras novelas, sempre com presença marcante, mesmo que fossem papéis secundárioS. E a sua estreia foi em A Deusa Vencida (1965), de Ivani Ribeiro, da TV Excelsior. Passando para a Globo, em 1969, foi a primeira atriz negra a protagonizar uma novela. Em A Cabana do Pai Tomás, ao lado de Sérgio Cardoso, Ruth viveu importante personagem, no entanto, os créditos não davam destaque para ela. Participou de folhetins clássicos como O Bem Amado, Os Ossos do Barão e O Rebu. Sua última participação em uma produção televisiva foi na minissérie Se Eu Fechar Os Olhos Agora, exibida pela Globo em 2018.
Entre as homenagens que recebeu em vida, a grande atriz foi homenageada no carnaval carioca, em março de 2019, pouco antes de sua morte, em julho do mesmo ano. Ruth de Souza foi o tema do samba de enredo da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, Ruth de Souza – Senhora Liberdade.
Letra do samba Ruth de Souza – Senhora Liberdade
(Autores: Samir Trindade, Elson Ramirez e Júnior Fionda)
Dama, meu motivo de rara beleza
Acalanto a sua alteza
A estrela que brilha por nós
Oh, pérola negra!
Joia que emana a paz
Lapidada nas Minas Gerais
Seu destino: encantar corações
Canoas, um cortejo de saudade
A doce lembrança que ficou pra trás
No Rio, lindo mar de esperança
Refletindo a infância, acende os ideais
Talento é dom pra vencer
Preconceito não pôde calar
Foi preciso acreditar
Menina mostra a força da mulher
O negro pode ser o que quiser
Resplandeceu da humildade a sua glória
A emoção, pioneira no Municipal
E aprendeu, viveu a arte em sua história
Inspiração, no palco do meu carnaval
Divina musa, no esplendor se fez atriz
Um sorriso de uma raça não apaga a cicatriz
Voa, senhora mãe da liberdade
Em seu papel, a igualdade
De quem sentiu na pele a dor
Brilham Marias, Carolinas de Jesus
Você foi a resistência
E a resistência hoje é Santa Cruz
Ê Odara ê, Odara ê Odara Ê,
Oh, Sinhá Moça
Ê, Odara ê, o samba
A reverenciar Ruth de Souza
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