Ariano! “Eu adorava as aulas-espetáculo do Ariano, e o elogio dele à boa mentira. Nessa era de fake news, acho que o que era motivo de riso virou material para reflexão, e importante. Estamos vivendo esse processo das mentiras que machucam, que dificultam o andamento do Brasil e do mundo. Não me lembro quem disse primeiro, mas o Ariano assumia a boa mentira e dizia que o mentiroso precisa acreditar na própria mentira para torná-la verdadeira.” O Helder, personagem que Hassum interpreta em O Auto da Boa Mentira, é um cara sem graça. Como é fazer um personagem desses?
“Acho o jogo do filme muito gostoso e, para criar o Helder, o filme incorpora imagens dos shows que faço. Gosto muito desse humor do ‘loser’, o cara que não é notado, que é deixado de lado. Jerry Lewis, que era um mestre, o meu mestre, gostava de duplos e era atraído por esse tipo de personagem. Então, o Helder é esse loser, um perdedor, derrotado, que consegue dar a volta por cima assumindo um papel de celebridade, que não é.” Sobram elogios de Hassum para o diretor. “Belmonte é um cara incrível, supertalentoso e, embora o filme curto seja atípico na minha carreira, ele nos deixou à vontade. Digo nós porque a Nanda (Costa), o Rocco (Pitanga), todos trabalhamos com muita interação e liberdade, e eles são ótimos.”
No filme, o personagem que se faz passar por outro é cobrado pelo emagrecimento, como ocorreu com o Hassum na vida. Ele se sente mais confortável como esse novo Hassum? “Vivemos um tempo em que o correto é respeitar o corpo de quem quer que seja. Nunca me senti desconfortável com meu corpo, nem antes nem depois da cirurgia. Nunca encarei o corpo como problema, a reação estava no público. Teve gente que vinha me perguntar se eu não queria mais fazer humor. O ator tem de ser mutável, tem de se colocar no espaço do outro. Como gordo, muitas vezes fazia piadas que seriam para um personagem magro.”
O Auto não é da Compadecida. É um Ariano que não é regional: “Não é mesmo, e eu acho que, na realidade, o humor da Boa Mentira é universal. A mentira tem pernas curtas, a gente sempre ouve dizer. Meu sonho é que tudo isso passe e a gente se encontre para um abraço, para rir. Nas condições de hoje, permito-me ser triste, às vezes, porque a situação não está fácil. Sou otimista e a diferença com o pessimista é que ele sempre acredita que o fundo do poço é mais embaixo. Eu vejo as coisas com esperança. Acredito num mundo pós-pandemia e que o cinema vá voltar. Teremos de novo as salas cheias para o cinema brasileiro.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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