Por isso, a HBO exibe nesta terça, 22, às 22h, um episódio especial de Eu Terei Sumido na Escuridão. “Foi muito satisfatório”, disse a diretora Elizabeth Wolff em entrevista com a participação do Estadão, por videoconferência. “Eu pude vê-las confrontar o perpetrador no tribunal. E, assim, elas tiveram a palavra final. Por isso, quis incluir este momento na nossa história. Por muitos anos, elas viveram com a vergonha e o trauma. Agora, elas devolveram a vergonha e o peso para DeAngelo.”
Este momento não teria sido possível não fosse Michelle McNamara, que é, junto com as sobreviventes e os parentes das vítimas, a verdadeira protagonista de Eu Terei Sumido na Escuridão, ao contrário de outras séries de “true crime” que escolhem focar no criminoso.
McNamara começou um blog sobre casos não solucionados em 2006. Logo, ela ficou fascinada com o criminoso então chamado EAR/ONS (East Area Rapist e Original Night Stalker) – graças aos exames de DNA, a polícia tinha feito a conexão entre crimes cometidos em duas áreas diferentes. Mas a investigação estava parada. A jornalista começou a vasculhar, encontrou outras pessoas tão empenhadas quanto ela e publicou reportagens em 2013 e 2014, cunhando o apelido Assassino de Golden State (uma referência ao Estado da Califórnia). “Michelle trouxe a atenção da mídia”, disse Wolff. “Não acho que a polícia teria sentido tanta pressão para resolver os casos se não fosse ela. Isso é muito comum. A triste realidade é que a polícia trabalha mais para solucionar aqueles que recebem um pouco de atenção.”
A própria diretora admitiu que não teria tido interesse em contar a história se não fosse pelo trabalho de McNamara. “Eu não gosto de séries que mostram apenas os detetives e fazem encenações de criminosos com lanternas invadindo uma casa. A investigação da Michelle em si trazia uma camada adicional que tornava tudo intrigante”, disse Wolff. “A série trata das pessoas que este assassino e estuprador afetou, uma delas sendo a Michelle. Ela fala de como um crime violento reverbera não apenas na vítima e seus familiares, mas na comunidade, na polícia.”
Michelle McNamara não chegou a ver o Assassino de Golden State preso. Ela morreu em 21 de abril de 2016, de overdose acidental de medicamentos. O livro que estava escrevendo sobre o caso foi terminado por Paul Haynes, Billy Jensen e seu viúvo, o ator e comediante Patton Oswalt, e publicado em fevereiro de 2018. Dois meses mais tarde, a polícia identificou DeAngelo como o Assassino de Golden State, depois de refazer sua árvore genealógica.
Elizabeth Wolff disse que entendeu de cara a obsessão da jornalista por esses casos. Mas acha que há algo um pouco mais sombrio no fascínio que o “true crime” exerce nos seres humanos. “É mais fácil ver a escuridão na história do outro. Eu acho que a própria Michelle podia tornar evidentes esses sentimentos que queria evitar.”
Para Wolff, é compreensível que tantas mulheres acabem investigando esses crimes em série, que em geral vitimam outras mulheres. “Eles não recebem a atenção que merecem”, disse Wolff. “As mulheres sofrem todos os dias, com agressões mínimas, ataques invisíveis e violência em uma sociedade dominada por homens. Nós queremos ser ouvidas, que essas coisas recebam a atenção que devem.”
O episódio adicional de Eu Terei Sumido na Escuridão serve também para isso. O caso do Assassino de Golden State está fechado, mas milhares continuam abertos. Por exemplo, o assassinato de Kathleen Lombardo, que aconteceu na cidade natal de Michelle McNamara, Oak Park, subúrbio de Chicago, quando ela tinha 14 anos, a marcou para sempre. “Nem sempre uma história de ‘true crime’ na televisão tem o final certinho que esperamos. Eu gostaria que outros investigadores continuassem onde Michelle parou e pressionassem a polícia.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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