“Não se trata de redesenhar Teela, pois seu brio guerreiro já estava lá. Era só uma questão de valorizar e honrar toda a bravura que ela sempre demonstrou, deixando a personagem seguir seu destino”, explica David em entrevista via Zoom ao Estadão, explicando que a série da década de 1980 já apostava em mulheres empoderadas. “Basta vocês se lembrarem da Feiticeira. Ninguém era mais poderosa que ela. Era ela quem tinha o caminho da magia.”
Mágica é a palavra essencial aos roteiros dirigidos por Smith, pois o que move os episódios é uma cruzada em prol do que havia de metafísico em Eternia. Logo nos minutos iniciais, uma peleja entre Esqueleto e He-Man (lá fora, a voz é de Chris Wood, o Mon-El de Supergirl; aqui a dublagem é de Glauco Marques) termina numa espécie de desaparição de ambos, o que põe em xeque a vigência de tudo o que existe de místico em Eternia, criando um processo mecanicista que ameaça afogar aquela realidade em uma era de tecnologia, avessa a tudo o que é metafísico – inclusive valores afetivos. Em meio a essa ameaça, Teela – que se afastou do reino e de seu pai, o misto de inventor e soldado Mentor, para trilhar uma espécie de caminho de samurai – é convocada para salvar seu mundo. A seu lado, há dois velhos conhecidos do público: o tigre Pacato (alter ego do Gato Guerreiro) e o mago Gorpo (Orko nos Estados Unidos), famoso entre os fãs brasileiros pela voz de Mário Jorge (um dos maiores dubladores do País) e pela musiquinha O Bem Vence o Mal, Espanta o Temporal.
“Essa nova série é uma carta de amor aos anos 1980, honrando e preservando o passado, de modo a rever o conceito central dos Mestres do Universo: o brado “Eu tenho a força” é um indício de que o poder está em nós mesmos. He-Man é uma metáfora de virtudes que existem em nós todos. Assim como acontecia na década de 1980, a série fala sobre enfrentarmos nossos medos e abraçarmos o que somos, como acontece com Teela”, diz David, que escreveu a série animada As Tartarugas Mutantes Ninja, de 2008, também baseada em um hit Ploc. “O que temos como maior novidade agora, em relação às séries de desenhos do passado, é o fato de os streamings permitirem (com a opção de se maratonar os produtos) que as narrativas sejam serializadas, ou seja, contínuas, como uma saga, e não mais procedurais, ou seja, com enredos que começavam e acabavam num mesmo episódio. Isso permite que o espectador possa seguir um arco durante toda uma temporada, sendo que cada episódio é um trecho dessa saga. Antes, o máximo que conseguíamos era dividir um episódio em Parte I e II.”
Eternamente associado a um projeto de filme do Superman, com Nicolas Cage, nunca filmado, Kevin Smith deu a Mestres do Universo: Salvando Eternia um status de superprodução, a julgar por seu elenco de vozes. No Twitter, o diretor de Dogma (1999) e Pagando Bem, Que Mal Tem? (2008) disse que a série da Netflix é uma “sequência espiritual” para os desenhos de outrora. Além de Sarah Michelle Gellar, Chris Wood e Hamill, ele escalou Lena Headey (a Cersei de Game of Thrones) como Maligna; a eterna Patricinha de Beverly Hills Alicia Silverstone, como Rainha Marlena; Dennis Haysbert (o presidente Palmer de 24 Horas), para ser o Rei Grayskull; e seu atores fetiches, Justin Long (de Tusk: A Transformação) e Jason Mewes (o Jay de O Império do Besteirol Contra-Ataca), como Roboto e Stinkor.
“Quando Lena chegou para dar voz a Maligna, ela brincou: ‘Não acredito que estarei ao lado de Luke Skywalker!’. Ficamos todos felizes quando Hamill chegou para emprestar a sua voz ao Esqueleto. E, com Lena e ele, um grupo de grandes atrizes e atores entraram no projeto”, diz David, ressaltando o toque de diretor autor que Kevin Smith deu à série. “Ele é alguém que ama as narrativas de gênero e sabe o valor que essas sagas de aventura podem ter. Os filmes de Kevin são calçados em embates sentimentais. E a gente percebe essa linha em Mestres do Universo em monólogos cheios de emoção.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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