Flori Antonio Tasca
Um dos motivos pelos quais agressores praticam bullying contra os seus colegas é a homofobia, isto é, o preconceito contra uma orientação sexual diversa da “convencional”. Na verdade, a vítima sequer precisa ser homossexual, por vezes já é suficiente para a agressão que ela não atenda aos estereótipos sobre o que é “ser homem” e “ser mulher”. Foi para estudar essa relação entre bullying e homofobia que Jackeline Maria de Souza, Joilson Pereira da Silva e André Faro fizeram o estudo “Bullying e homofobia: Aproximações teóricas e empíricas”, publicado na revista “Psicologia Escolar e Educacional” no ano de 2015.
O estudo estabeleceu, inicialmente, uma aproximação entre bullying e preconceito. A homofobia é vista como uma forma de preconceito dirigido a todos aqueles que não se encaixam no dualismo masculino/feminino e que, em razão disso, são estigmatizados. O preconceito é uma questão mais ampla do que o bullying, presente nas variadas fases do desenvolvimento humano, mas as duas situações acabam se relacionando na escola.
Os pesquisadores ouviram 808 estudantes de escolas públicas em Sergipe e identificaram 32% como alvo de bullying, 12% como autor, 22% com alvo e autor e 34% como testemunha. Doze participantes se disseram homossexuais e observou-se que, entre esses, era mais comum ser alvo. Em relação à motivação para o bullying, a homofobia foi a terceira razão mais usada, atrás apenas da aparência física e do racismo. Mas há uma diferença entre os gêneros. Se considerarmos apenas os meninos, a homofobia passa a ser a segunda maior motivação para o bullying. Já as meninas pesquisadas praticamente não mencionaram a homofobia.
Foi verificado um número maior de preconceito justamente entre os meninos. Também se observou que o fato de um aluno não ter em seu círculo familiar ou de amizades uma pessoa de orientação homossexual tornava mais provável que ela apresentasse índices elevados de homofobia. Os meninos foram vistos como menos propensos à amizade com um aluno homoafetivo. E o grupo que mais manifestava homofobia foi exatamente o que mais praticava bullying. Os resultados em geral confirmam pesquisas anteriores.
Os autores observaram que o agressor pretende dominar o alvo usando recursos tidos como hierárquicos, como a orientação sexual. Ao chamar o outro de homossexual, ele está tentando colocá-lo em um patamar considerado por eles como inferior. Entretanto, para pessoas que não compreendam a homoafetividade como algo negativo, a ofensa pode não ser vista como tal. Até por conta disso os autores sustentam que a escola deve ser cenário de intervenções para o relacionamento com grupos minoritários, assumindo a diversidade existente e não mais a desconsiderando.
Eles também ponderaram que o maior desafio para a prevenção do bullying homofóbico é abordar a questão da masculinidade hegemônica e da “heteronormatividade” dentro do contexto escolar, pois, mais do que qualquer relação afetiva entre estudantes do mesmo sexo, o que prevalece é uma influência dos supostos papéis destinados a cada um dos gêneros. Mais estudos são sugeridos para comparar a vitimização dos heterossexuais.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br