A assembleia dos credores, que já tinha sido adiada, ganhou novo prazo – e mais suspense. Antes prevista para ocorrer na tarde desta quarta-feira, 3, o evento foi prorrogado por mais 30 dias, o que poderá ajudar a colocar panos quentes em um clima bastante nervoso que antecedia o encontro por conta da proposta de compra que chegou no fim de semana.
A determinação ocorreu para que o Hopi Hari entregue documentação pendente referente aos anos de 2016 a 2019, o que, segundo a empresa deverá ser regularizada em um período de até 10 dias.
Até lá, a proposta de compra será digerida pela administração e acionistas do parque. Na visão do presidente do Hopi Hari, Alexandre Rodrigues, trata-se de uma tentativa de levar o parque à falência, o que ocorre em um exato momento em que o grupo conseguiu provar sua viabilidade econômica após um longo período de crise e em um ano que a empresa vai ter seu melhor resultado em dez anos – voltando a operar no azul, diz.
“Entendemos que essa intenção – não chega a ser uma proposta – veio para buscar a falência do parque. Você não pode atravessar o processo um dia útil (a proposta foi feita antes do adiamento) antes da assembleia e dizendo que é o salvador da pátria”, afirmou o executivo à reportagem, em entrevista feita antes de seu conhecimento sobre a postergação da assembleia. A proposta, destaca o executivo, não poderia ser feita por um grupo que não é credor.
Dessa forma, o presidente do parque afirma que a proposta não será levada à assembleia, a exemplo do que ocorreu em agosto, quando a empresa recebeu uma proposta alternativa de um grupo que não estava entre os credores. A decisão da Justiça foi de que a proposta não poderia ser avaliada porque o grupo não estava falido e que era preciso votar a proposta da recuperação. “Estão querendo tumultuar”, diz.
O executivo salienta que sua crítica não é em relação à proposta em si, mas sim à forma como foi feita. O projeto apresentado pelo grupo inclui R$ 250 milhões para o pagamento de dívidas e R$ 150 milhões para investimentos. Procurado, o Beto Carrero não respondeu ao pedido de entrevista.
O executivo do Hopi Hari, que passou os últimos dias em reuniões com os credores da companhia, afirma que em nenhum momento houve qualquer tipo de aproximação prévia do grupo com os acionistas do Hopi Hari. Atualmente, o grupo Ongoing, dono do Portal IG, possui 75% do parque, e o investidor José Luiz Abdalla detém 20%. O restante está nas mãos de José Davi Xavier, que já comandou o parque.
Essa não é, contudo, a primeira oferta de compra recebida pelo parque em meio ao imbróglio da recuperação judicial. Uma delas veio da operadora americana de parques Six Flags, mas que acabou não evoluindo.
Interesse
“O Hopi Hari virou a noiva que todo mundo quer”, diz Rodrigues. Essa leitura, segundo ele, está baseada nos próprios números do parque. Depois de passar meses fechado por conta da covid-19, o parque está reaberto desde abril. Segundo o executivo, deve fechar o ano com um faturamento de R$ 100 milhões e um lucro, revertendo anos de prejuízo, de R$ 40 milhões, prevê. Uma situação distante da vivida em 2017, quando parque teve de ficar um período fechado por conta de uma equação de fatores que incluiu luz cortada e seguro vencido. O clima da crise ficou mais do que claro quando um dos credores pediu a montanha-russa do parque à Justiça – uma atração que o parque comprou e acabou ficando sem dinheiro para montar.
O interesse na “noiva” tem por trás um pano de fundo econômico. Na região de Vinhedo, onde está o parque, o governo de João Doria vai lançar o distrito turístico Serra Azul, exatamente nos municípios do entorno do parque. O lançamento será feito no próximo dia 30, ao lado do Hopi Hari, no seu vizinho Wet´n Wild, um movimento para atrair mais investimentos para o Estado.
Injeção de capital
No meio da reviravolta ao longo do fim de semana, o Hopi Hari anunciou que fechou um acordo de R$ 2,8 bilhões (US$ 500 milhões) para reestruturação das dívidas com os credores e também para expandir as atrações. A injeção de capital, liderada pelo banco Whitehall, é uma linha já liberada e não precisa passar pelo aval dos credores, lembra Rodrigues.
Na prática, contudo, o desfecho desse imbróglio que se arrasta há anos está nas mãos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é detentor, segundo Rodrigues, de 90% dos R$ 500 milhões da dívida do parque. É uma relação tumultuada e imersa em uma enxurrada de processos judiciais, incluindo execuções da dívida, com o pedido de venda de ativos, até mesmo do terreno em Vinhedo onde está construído o parque. Sobre a relação atual com o banco, Rodrigues afirma que a situação está apaziguada desde a mudança da administração – o executivo assumiu as rédeas da empresa em 2019.
A proposta da empresa aos credores segue a mesma, diz o executivo. Para o BNDES, dono da fatia majoritária da dívida, o plano é pagar em 19 anos, sem corte do valor devido. O BNDES tem o próprio parque como garantia de suas dívidas.
O presidente do Hopi Hari diz que a empresa já está pensando no futuro e retomou o projeto de reforma de sua torre, uma de suas principais atrações. Ela está parada desde 2012, quando um acidente matou uma visitante adolescente.
O Hopi Hari foi inaugurado em 1999, construído com recursos da gestora de private equity (que compra participação de companhias) JP e quatro fundos de pensão: Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Sistel.
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