O Instituto de Saúde São Lucas e o Hospital Filantrópico Policlínica aderiram, ao longo da semana, ao movimento “Chega de silêncio”, como forma de protesto em prol da sobrevivência do setor filantrópico de saúde do Brasil e, por consequência, do Sistema Único de Saúde. A campanha, organizada pela Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), está sendo realizada em todo o país.
Com graves problemas financeiros aparecendo ao longo dos últimos seis anos, as Santas Casas e hospitais filantrópicos observaram a situação se agravar após a chegada da pandemia da covid-19, devido a elevada demanda e alta nos custos, gerando uma dívida para o setor em mais de R$ 20 bilhões.
Para diminuir o impacto das dívidas, o governo federal anunciou, em maio de 2021, um aporte de R$ 2 bilhões emergenciais, porém, não se efetivou até o momento e, atualmente, o setor enfrenta outra preocupação: tramita na Câmara Federal, com votação prevista para os próximos dias, o projeto de lei 2564/20, originário e aprovado no Senado, e que institui o piso salarial da enfermagem, o que elevaria ainda mais os custos, se outros reajustes não forem realizados. O impacto da proposta para os hospitais filantrópicos que atendem pacientes do SUS está estimado em R$ 6,3 milhões.
Cirurgias eletivas foram canceladas no Dia D
O Dia D da campanha aconteceu na terça-feira (19) e, como forma de chamar a atenção para o assunto, os envolvidos reagendaram todas as cirurgias eletivas que estavam da data, o ato foi seguido pelo Instituto de Saúde São Lucas, afirma o diretor do local, Sérgio Wolker, que não descartou a possibilidade de pausar outros atendimentos futuramente.
“Essa mobilização inicial é para que as pessoas e até os governos se sensibilizem e, se não houver uma sensibilização, a ideia é parar alguns atendimentos”, explica o diretor, falando ainda que a pausa na realização de procedimentos no SUS podem gerar grandes problemas para a população. “Imagina isso durante uma semana, vamos ter um grande caos na saúde pública do Brasil”, complementa.
As Santas Casas e os hospitais filantrópicos são grandes prestadores de serviço para o SUS, sendo que em Pato Branco, no Instituto de Saúde São Lucas, o diretor aponta que 71% de seus pacientes são do SUS e apenas os 29% restantes são divididos entre convênios e particulares. “Há instituições que trabalham exclusivamente para o SUS e a situação do sistema está agravando como um todo”, falou Wolker, ao explicar que esse alto índice se aplica também ao restante do país e mostrando a dependência da população desse sistema como garantia da saúde pública.
Os altos valores de insumos hospitalares, como medicamentos e materiais, também colaboraram para a ação no país, já prejudicada pela pandemia e, caso não seja solucionada a questão, o São Lucas deve trabalhar com prejuízo, comenta o diretor. “O equilíbrio das contas pode ser realizado porque o governo federal e o estadual injetaram um pouco de dinheiro em hospitais filantrópicos e Santas Casas. Agora aguardamos mais um repasse prometido no ano passado para fechar as contas desse ano”.
Atendimento em Pato Branco é referência na região
Os institutos localizados em Pato Branco, o São Lucas e a Policlínica, atendem a população de toda a 7ª Regional de Saúde, sendo referência em alguns casos também para 8ª Regional de Saúde, podendo ocasionar grandes problemas, caso o atendimento seja diminuído ou pausado.
Para a administradora do Hospital Filantrópico Policlínica, Gabriela Isidro Portes, o momento busca valorizar os hospitais que possuem uma grande demanda, com mais de 70% dos procedimentos de alta complexidade no Brasil voltados para a população que recebe atendimento do SUS. “Aderimos a essa campanha para mostrar que precisamos ser valorizados, principalmente na questão do financiamento do SUS”, afirma.
Gabriela explica que desde o início do plano real, a tabela SUS teve reajuste de 93%, sendo “uma tabela muito defasada, com procedimentos que não pagam nem o custa da medicação”. Para aumentar as chances de solucionar o problema, ela aponta ser necessários políticos públicas que subsidiem a saúde e permita que esses hospitais continuem atendendo toda a população.
De acordo com a administradora, os dados de 2021 da Policlínica apontam que 76% dos atendimentos são para o SUS. “Com 146 leitos, 102 são do SUS, então é o nosso carro-chefe e, por isso, aderimos a campanha Chega de silêncio”.
Das 650 cirurgias mensais realizadas na Policlínica, 50% são do SUS e, das mais de mil internações, mais de 60% são para pacientes do Sistema Único de Saúde. Por isso, um impacto relevante seria sentido pela população no caso do hospital deixar de atender por um dia ou por uma semana, “deixaria desassistida a população da região”.