HTLV: entenda o vírus e o foco nas gestantes no Brasil

Embora o HTLV tenha sido o primeiro retrovírus humano identificado, ainda permanece pouco conhecido pela população. Integrante da família do HIV, causador da aids, o HTLV ganhou novas atenções por parte das autoridades sanitárias brasileiras, especialmente no controle da transmissão entre gestantes e bebês.

Quatro subtipos do HTLV circulam no mundo, sendo o HTLV-1 e o HTLV-2 os mais comuns. Apenas cerca de 5% dos infectados pelo HTLV-1 desenvolvem doenças associadas, principalmente complicações neurológicas e hematológicas graves. O vírus infecta as células de defesa conhecidas como linfócitos T CD4+. No Brasil, estima-se que 2,5 milhões de pessoas vivam com o vírus, tornando o país um dos que têm mais casos no mundo.

A maior parte dos portadores permanece assintomática. Segundo a infectologista Marina Roriz Pedrosa, do Hospital Israelita Albert Einstein, existe um equilíbrio imunológico que impede a ativação excessiva do vírus. Diferente do HIV, que destrói os linfócitos, o HTLV-1 depende do estado de saúde do hospedeiro e aspectos genéticos e imunológicos. Apenas uma pequena parcela dos infectados desenvolve doenças, como a paraparesia espástica tropical e tipos específicos de leucemia e linfoma de células T, além de outras manifestações infrequentes, como dermatite, uveíte e infecções recorrentes.

Transmissão do HTLV: por que gestantes são o foco das campanhas

A transmissão do HTLV acontece de forma sexual, sanguínea e vertical. Entre as formas mais preocupantes está a passagem de mãe para filho, especialmente durante a amamentação. O risco de contaminação aumenta com a exposição prolongada ao leite materno, principalmente acima de seis meses. Por isso, gestantes diagnosticadas com HTLV-1 são orientadas a não amamentar.

O Sistema Único de Saúde (SUS) garante fórmulas lácteas gratuitas para bebês expostos. Mesmo com essa medida, ainda existe risco residual de transmissão (aproximadamente 5%), que também pode ocorrer durante a gestação ou o parto. O teste para HTLV-1 tornou-se obrigatório no pré-natal do Brasil somente em 2024, assim como a notificação compulsória de casos para alimentar políticas públicas de prevenção. Saiba mais sobre a iniciativa do Ministério da Saúde e Fiocruz Bahia, que conduz um estudo com 516 mães portadoras do HTLV visando a redução da transmissão vertical por meio de antirretrovirais. O objetivo é eliminar o contágio de mãe para filho até 2030.

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Diagnóstico e abordagem terapêutica do HTLV

O diagnóstico do HTLV ocorre em dois passos. Primeiro, realiza-se um exame de sangue de triagem para identificar anticorpos. Depois, uma análise detalha o subtipo infectante. Esses exames estão disponíveis em bancos de sangue e centros de referência, com triagem obrigatória desde 1993.

Atualmente, não existe terapia antiviral capaz de eliminar o HTLV, ainda que estudos recentes indiquem avanços em testes com animais. Um estudo publicado na revista Cell envolveu pesquisadores da Austrália, que conseguiram bloquear a transmissão em camundongos de forma semelhante ao HIV, criando esperança para o futuro. Até que novos protocolos se tornem realidade, o tratamento se concentra no manejo das complicações, com corticosteroides e fisioterapia para doenças neurológicas e quimioterapia ou transplante de medula óssea em casos hematológicos.

Fonte: Agência Einstein.