A investigação da imprensa aponta que o spyware de nível militar de propriedade da empresa NSO Group, de Israel, foi usado na Hungria para se infiltrar nos dispositivos digitais de uma série de alvos, incluindo pelo menos 10 advogados, um político da oposição e pelo menos cinco jornalistas. Os resultados da investigação levaram três parlamentares do comitê parlamentar de segurança nacional da Hungria a convocar uma sessão de emergência para questionar as agências governamentais sobre seu potencial envolvimento na espionagem.
Janos Stummer, presidente do comitê e legislador do partido de oposição de direita Jobbik, disse à Associated Press que a vigilância descrita pela investigação “não é permitida em um estado governado pelo Estado de Direito”. O comitê questionará a segurança nacional da Hungria e as agências de inteligência sobre as alegações, disse o presidente, acrescentando que a maioria dos assentos é ocupada por legisladores do partido governante, que poderiam bloquear a investigação boicotando a sessão.
“Nossa perspectiva é que ficar calado seria essencialmente um reconhecimento de que o governo está de fato envolvido nisso”, disse Stummer.
Peter Ungar, membro do comitê de segurança nacional da Hungria pelo partido verde da oposição, LMP, disse que o comitê tentaria determinar se os indivíduos identificados pela investigação estavam de fato sob vigilância. Também investigaria quem autorizou a vigilância e com que fundamento, e o que foi feito com os dados coletados. “Se alguma parte disso for verdade, mesmo a metade, é um dos mais profundos escândalos de segurança nacional que já vi”, disse Ungar.
Em resposta a um questionamento do The Washington Post, o gabinete do primeiro-ministro Viktor Orbán não negou ter patrocinado a atividade de espionagem divulgada pelo consórcio. A nota do gabinete se limitou a dizer que “sempre agiu e continua a agir de acordo com a lei em vigor” e que “os órgãos estatais autorizados a usar instrumentos secretos são monitorados regularmente por instituições governamentais e não governamentais”.
“Você já fez as mesmas perguntas aos governos dos Estados Unidos da América, do Reino Unido, da Alemanha ou da França? No caso de você ter respondido, quanto tempo eles demoraram para responder e como eles responderam? Houve algum serviço de inteligência para ajudá-lo a formular as perguntas?”, completa a nota do governo Orbán.
A investigação, elaborada a partir de uma lista de mais de 50.000 números de telefones celulares obtida pelo Forbidden Stories e pelo grupo de direitos humanos Anistia Internacional, identificou mais de 1.000 indivíduos em 50 países que foram supostamente selecionados por clientes da NSO para vigilância potencial. O malware, Pegasus, se infiltra em telefones para aspirar dados pessoais e de localização e controla os microfones e câmeras do smartphone. No caso de jornalistas, isso permite que os hackers espionem as comunicações dos repórteres com as fontes.
O The Guardian relatou que uma análise forense revelou que os telefones de dois jornalistas do órgão investigativo húngaro Direkt36 foram repetidamente infectados pelo Malware.
O Grupo NSO negou, em uma resposta por e-mail à Associated Press, que alguma vez tenha mantido “uma lista de alvos potenciais, passados ou existentes”. Em uma declaração separada, chamou o relatório Forbidden Stories de “cheio de suposições erradas e teorias não corroboradas”.
As alegações de espionagem governamental ocorrem em meio a uma rápida deterioração da liberdade de imprensa e da pluralidade na Hungria. Desde que o primeiro-ministro Viktor Orbán e seu partido, Fidesz, assumiram o poder em 2010, o país caiu da 23ª para 92ª posição no ranking do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa.
No início deste mês, a agência de notícias Repórteres Sem Fronteiras colocou Orban em sua lista de “predadores”, a primeira vez que um líder da Europa Ocidental apareceu na lista de chefes de estado ou governo que “reprimem maciçamente” a liberdade de imprensa. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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