Nessa longa e frutífera trajetória, Igor mostrou sua versatilidade em compor seus personagens, não se fixando em um gênero nem em um estilo de interpretação. Entre os trabalhos de maior destaque, certamente, um dos mais marcantes foi no filme Elvis & Madona (2011), de Marcelo Laffitte, no qual divide cena com a Simone Spoladore. Em entrevista ao Estadão, Igor Cotrim revela o que tem feito nesse momento de pandemia, fala dos projetos recentes e lembra passagens de sua carreira.
Quem é o Miguel, de Amor de 4+ 1?
O Miguel agora, depois de ter conseguido sair daquela larva do final da primeira temporada, quando finalmente tinha conseguido um momento do que sempre almejou, desde a infância, que é esse amor perdido com a Elisa (Branca Messina). Agora, depois de toda a situação com o pai e da morte da mãe, ele voltou para perto do padrasto, Ricardo -, interpretado maravilhosamente pelo Antonio Pitanga. Foi uma honra trabalhar com ele. E essa figura paterna, que era tão complicada pro Miguel, ele faz as pazes com isso, tendo essa convivência com o Ricardo. E isso é o que o ajuda a se entender melhor para tentar ficar com a Elisa.
O que representou o Boca, do seriado Sandy & Junior, para você?
“O que é que tá pegando, galerinha mais ou menos?”. O Boca foi um personagem tão querido que as pessoas até hoje falam pra mim esse bordão. Uma professora, certa vez, no Festival de Gramado, disse: “eu chamo os meus alunos de ‘galerinha mais ou menos’ há 10 anos!”. Então tem esse carinho. Foi uma oportunidade ter trabalhado com o texto maravilhoso da Maria Carmem Barbosa e toda a sua equipe de roteiristas. Eu era do núcleo do Carlos Manga que, uma vez foi na gravação. Ele me olhou e falou: “veio fazer dois episódios e está aqui até hoje”. Eu tive a oportunidade de conhecer os irmãos Sandy e Junior e eles são muito queridos. Na série, o Douglas Aguilar interpretou o Mau na atração, e foi ele quem o documentário é o Sandy & Júnior – Nossa História, que está passando na Globo aos domingos. Esse foi o meu começo na televisão, do qual me orgulho muito. Guardo com muito carinho.
Elvis & Madona foi um marco em sua carreira?
Elvis & Madona é de uma importância imensa, mesmo para a minha carreira. Foi uma oportunidade que o Marcelo Laffitte, diretor e roteirista, me deu. Para o filme, foram feitos testes com atrizes trans, mas eu fui chamado no final. O Bayard Tonelli, do Dzi Croquets, por causa do meu trabalho de poesia nos saraus no Rio de Janeiro, me indicou pro Marcelo e eu cheguei aos 49 do segundo tempo. Bateu a química com a Simone Spoladore e a gente fez um filme muito bonito, falando sobre amor de alma. E eu tive uma alegria muito grande: ganhei seis prêmios. Entre eles, o da ACIE (Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira). Foi muito importante, pois estava concorrendo com Wagner Moura, com Selton Mello, e eu venci – foi o único festival que Simone e eu vencemos juntos. Outro muito especial pra mim foi o da AstraRio, a associação das travestis do Rio de Janeiro. Por causa dele, conheci a Jane de Castro, a Rogéria. É interessante que, no Elvis & Madona, o meu cabelo quando muda, quando dá uma repaginada, não é o cabelo da Madonna, quando e eu falo “Who’s that girl?”, o meu cabelo é de Astolfo, de Rogéria. Curioso que, a última cena do filme foi gravada em um bar. Terminamos de filmar e, quem mora em cima do bar? Rogéria! Ela chegou, a gente se olhou com aqueles cabelos, a gente riu, se abraçou.
Está gravando a novela ‘Gênesis’? Como é seu personagem?
É um grupo muito grande, eu fui o último a me juntar, eu tô agora fazendo o trabalho de preparação, mas acho que a gente começa a gravar no dia 19. Eu faço o Simeão, o segundo filho de Jacó, que é o mais virulento. E, para poder começar a trabalhar fiz o PCR e fiquei isolado esperando pra receber a confirmação da negatividade para só ai estar andando normalmente, mas claro, sempre com a máscara, álcool em gel, está sendo desse jeito.
Você não tem receio de se arriscar, não é mesmo?
Nunca! Nunca, nunca! Para arriscar, experimentar, vivenciar, e assim me municiar de ferramentas para poder contar a história. E eu tenho muita sorte mesmo de chegarem para mim personagens que podem me levar para esse lugar, como em Elvis & Madona. Eu recebi um presente de poder fazer aquilo. Em contrapartida, também fiz Os Príncipes, do Luiz Rosemberg, que ganhou seis prêmios no Cine PE, em 2018. Mas era um personagem muito complicado, um filme duro, sobre a banalização da violência. O intérprete precisa se doar para o personagem mas também se despedir dele. Não há necessidade de vivenciar e ficar com essa carga. E essa coisa de personagens que chegam, eu estou tendo a oportunidade maravilhosa de tocar um projeto depois da novela. Eu vou fazer O Martelo e a Coroa, do Bruno Souza. É uma história de um suposto encontro, uma ficção de como teria sido uma viagem de trem com Dom Pedro II e Friedrich Nietzsche. Werner Schunneman vai fazer o Dom Pedro e eu, o filósofo alemão. Ou seja: é um eterno retorno, tudo voltando. As coisas acontecendo novamente mas você tem que entender o presente pra você se desviar das coisas ruins e aceitar as boas.
Tem se mantido em isolamento? Como foi começar um relacionamento nessa fase?
Eu estava isolado desde o começo e aí, no meio do ano passado, recebi um convite do Rony Guilherme Deus para fazer, no meio da pandemia, o Rally – Paixão e Fúria no Sertão do Brasil, um filme policial que tem como pano de fundo a competição. Com Jarbas Homem de Mello, Cacau Mello, Mariana Reis e a Adriana Lessa. A Adriana eu conheço desde os 9 anos, mas fazia uns 17 que a gente não se via, é como se a gente tivesse passado num portal. Estamos morando juntos já há alguns meses, a gente tem um jardim em casa, na avenida Pompeia (em São Paulo), felizes, participando de almoços de família – da família dela porque os meus pais ainda estão esperando a segunda dose.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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