Ser uma rede de apoio para as mães é uma forma de não deixar esquece-la de si mesma
Após a chegada da maternidade, a vida da mulher muda completamente, seja no primeiro, segundo ou terceiro filho. A única certeza que cada uma carrega é sobre os diferentes desafios enfrentados em cada situação e que nunca é igual de uma para a outra. Pensar sobre como viver uma maternidade plena é um conceito extremamente complexo. Afinal, o que cada uma espera da maternidade?
Uma coisa é certa: mães buscam e necessitam de uma rede de apoio. Mas você sabe exatamente o que é ou o que significa essa rede? Por que esse termo, tão discutido atualmente, não estava presente no passado, quando nossas mães ou avós estavam vivenciando a maternidade?
A resposta é que a mãe costumava receber atenção do conjunto de pessoas que viviam em seu redor. A avó fazia questão de ficar ao lado da filha por um período, familiares costumavam morar sempre perto, as vizinhas frequentavam as residências uma das outras e se ofereciam para ajudar nas tarefas. A mãe não ficava só, geralmente era cercada de pessoas que ofertavam segurança para passar pelo período, mesmo que muitas vezes os pais das crianças estavam atarefados pelo trabalho. Ou seja, a rede de apoio já existia, porém, não carregava o mesmo nome.
Atualmente, está cada vez mais comum as mães e os pais se revezando para cuidar do bebê, da casa e de outros filhos. A carga maior, na maioria das vezes, acaba caindo para a mãe, deixando-as em exaustão. A situação se agravou mais durante a pandemia, com mães solitárias, sem ajuda e com medo de receber visitas ou sair para ‘tomar um ar’. Com isso, não tinham com quem contar e, em muitos casos, usaram a internet como aliada para tirar dúvidas sobre o maternar.
Mulher passa a assumir o papel de cuidadora
Quando a maternidade chega, seja pela primeira, segunda ou terceira vez, contar com uma rede de apoio familiar e de amigos é importante. Reunir profissionais experientes também faz a diferença, trazendo segurança e alívio para que a mãe siga com os cuidados da criança que, em seus primeiros anos de vida, é tão frágil e não esquecendo que, mesmo com o papel de mãe, ela ainda é mulher com sonhos e objetivos a cumprir.
De acordo com a psicóloga Grasiela Suzin (mãe de Gregory, 15 anos e Erick, 12 anos), o pós-parto é um período de muitas transformações envolvendo mãe, pai e toda a família, para receber um novo membro. “Contudo, as maiores mudanças acontecem para a mulher, como as transformações hormonais e emocionais, ela deixa seu ‘eu mulher’ de lado e passa a ocupar o lugar de cuidadora, onde muitos sentimentos ambivalentes são gerados e novos comportamentos se fazem necessários”.
Grasiela explica ser importante a rede de apoio para a mulher, já que “uma mulher forte e bem amparada psicologicamente será uma mãe saudável, feliz e, automaticamente, uma base sólida para a construção deste maternar e o desenvolvimento do pequeno ser humano recém-nascido”.
Período de sensibilidade após o parto
Pouco comentado, porém, extremamente comum, é o período de tristeza chamado ‘baby blues’, que acomete muitas mulheres no período pós-parto, quando ela está em busca da adaptação para essa nova rotina.
Sem necessidade de tratamento, a relevância da rede de apoio é essencial para o período, que pode durar as primeiras semanas após o parto. “É o tempo das questões hormonais e adaptativas se estabelecerem e a mãe precisa ter ‘consciência’ que pode passar por isso, demandando maior atenção e cuidado de sua rede de apoio”, aponta Grasiela.
A psicóloga afirma que o provérbio ‘it takes a village to raise a child’, que em português significa ‘é necessário uma comunidade inteira para cuidar e educar uma criança’, “ou seja, esse pequeno ser humano não é apenas responsabilidade da mãe e é isso que a rede de apoio precisa lembrar, não apenas com palavras, mas com atitudes”.
Amparar uma mãe, segundo Suzin, é saber ouvir e estar presente. Entender que, mesmo com esse novo papel, ela ainda é uma mulher, com vida própria, vontades, sonhos e objetivos. “É essencial ajudar a lembrar a mulher disso, conversando não apenas sobre maternidade, mas também sobre as vontades dela”, conclui.
“Ninguém nasce mãe, nos tornamos”
A profissional em psicologia ainda aponta que, assim como a paternidade, o maternar também é um processo de aprendizado, descobertas, erros e acertos. Ela destaca que “uma mãe sem apoio pode desenvolver distúrbios psicológicos e isso não comprometerá apenas a saúde dela, mas a do seu filho também, que se tornará um adulto inserido na sociedade”.
“Tudo que nos acompanha além da vida tem base na nossa infância – ela é a fase mais importante do nosso viver, é onde aprendemos e desenvolvemos o afeto, o apego, é onde observamos, absorvemos e construímos nosso modo de se relacionar – na Terapia do Esquema falamos muito sobre isso”, comenta Grasiela, ao apontar que a principal ação é compreender que essa mãe precisa de apoio, pois está desenvolvendo seu modelo de maternar, “se conectando com o bebê para aprender a reconhecer suas necessidades, precisa de tempo, espaço e compreensão. A tristeza, medo e cansaço vão passar a medida em que a mãe se sentir segura”, conclui.
Confira algumas dicas da psicóloga Grasiela Suzin para dar apoio a uma mãe recém-nascida:
• Não faça comentários que possam desvalidar a ação da mãe em relação ao bebê.
Exemplo:
“Seu leite é fraco, por isso o bebê chora!”, ao invés disso, diga: “Tenha paciência… É assim mesmo… Com o tempo, o leite vai regular de acordo com necessidade do bebê”.
• Permita visitas que possam auxiliar a mãe e pessoas que ela queira por perto. É importante evitar pessoas que perturbem a relação mãe-bebê nesses primeiros dias.
• Auxilie nos cuidados da casa, com a comida e, quando a mãe der o sinal, com o bebê. Assim que a mãe se sentir segura, o processo seguirá naturalmente.
A psicóloga complementa falando que “pai e demais familiares são a rede de apoio e devem ficar atentos a modificações no comportamento da mãe, como: alteração do sono e apetite, baixa energia com o bebê, tristeza e raiva, pois essas alterações podem evoluir para uma depressão pós-parto”.
Para complementar a rede de apoio, Grasiela fala que vários grupos estão disponíveis para auxiliar a mulher no período. Os grupos de mães, psicólogos, psiquiatras, amamentação e educadores com o objetivo de ouvir, são altamente indicados para orientar e apoiar essas mulheres neste período tão importante e tão difícil que é o “tornar-se mãe”.