Flori Tasca
Muitas vezes, é apenas com o auxílio de outras pessoas que a criança vítima de bullying consegue lidar com o problema e desenvolver o que se chama de “resiliência”, isto é, a capacidade de superar e ser fortalecido ou transformado por experiências adversas. Um estudo feito por Marília Justino Ramos Galdino e Sandra Patrícia Ataíde Ferreira em duas escolas públicas de Pernambuco tratou de identificar o papel desempenhado pelo apoio dessas pessoas. Sob o título de “O apoio das figuras significativas na superação do bullying no contexto escolar”, o estudo foi publicado na edição de dezembro de 2013 da revista “Psicologia da Educação”.
Considera-se que as “figuras significativas” são aquelas que estão genuinamente interessadas nas histórias de dificuldades que a vítima enfrenta e comprometidas com o seu bem-estar, compreendendo a situação, criando empatia com o sofrimento e também encorajando os seus esforços para superá-lo. O estudo avaliou quem as vítimas de bullying escolhiam para contar o seu problema, as relações afetivas estabelecidas entre vítima e figura significativa e ainda estratégias cognitivas para lidar com o bullying.
Entre essas estratégias, descobriu-se que os alunos costumavam silenciar, revidar, fingir gostar das “brincadeiras” ou buscar ajuda. O silêncio se justifica tanto pelo medo das represálias como por não acreditarem que, ao contar a alguém a situação sofrida, eles receberão ajuda e orientação para lidar com o problema. Revidar pode inflamar ainda mais a situação de violência e fingir não se importar pode servir de combustível para que os agressores perpetuem as agressões, considerando-as como “autorizadas”.
De toda forma, é significativo que a maior parte dos estudantes avaliados tenha dito que procura ajuda. Isso demonstra o desejo de sair da situação de agressão e a necessidade de se fazer ouvir, obtendo apoio do outro. Foi constatado que normalmente as vítimas procuram alguém do âmbito familiar, sobretudo a mãe, para relatar as agressões. Mas houve também casos de alunos que afirmaram recorrer a outros alunos. O que quase não apareceu foi menção às figuras da escola, sugerindo que elas não oferecem a devida atenção aos alunos que relatam bullying e pouco intervêm para resolver o problema.
As autoras observaram que as vítimas que conseguiam suporte familiar para lidar com o problema, baseando-se em uma relação de confiança, não se encaixam em nenhuma das categorias geralmente previstas às vítimas. Elas não são, afinal, vítimas agressoras e nem provocadoras, mas também não são as vítimas típicas. Demonstrou-se que quando há empatia, respeito, carinho, compreensão, solidariedade e apoio diante do problema sofrido pela criança, elas conseguem superar mais facilmente a situação de agressão.
Por outro lado, a dificuldade que algumas pessoas próximas da vítima têm de encarar o bullying como violência, e não como brincadeira, pode levantar uma barreira entre elas. As autoras destacaram ainda, em relação à escola, que geralmente é necessária uma comunicação dos pais a respeito das agressões para que ela intervenha. Ao que parece, há uma dificuldade dos docentes e da gestão escolar em identificar atos de bullying.
A conclusão do estudo foi que o ambiente escolar e a família são fundamentais para a promoção da resiliência em vítimas de bullying. O apoio afetivo foi visto como crucial para que elas consigam lidar de maneira positiva com as intimidações que sofrem. Esse fator merece ser considerado nas ações de enfrentamento à prática de agressões.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná. fa.tasca@tascaadvogados.adv.br
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