Apenas em Nova Délhi, 25,5 mil novos casos foram registrados no domingo. “Se não impusermos um lockdown agora, enfrentaremos um grande desastre”, anunciou o chefe do governo local, Arvind Kejriwal. “Foi uma decisão difícil de tomar, mas não havia alternativa. O sistema de saúde da capital está prestes a entrar em colapso. A situação é crítica.”
O isolamento da capital começa a partir da meia-noite de hoje (15h30 de ontem em Brasília) e será válido por uma semana. Apenas farmácias e mercados ficarão abertos. Apenas 50 pessoas serão permitidas em casamentos e até 20 pessoas em funerais. Todas as reuniões sociais, políticas e religiosas foram proibidas – eventos esportivos, sem a presença de público, no entanto, estão liberados.
Os hospitais da capital se queixam da falta de leitos – a ocupação das vagas de UTI passa de 97%. Diante da escassez de medicamentos, o governo indiano limitou o uso industrial de oxigênio para redirecioná-lo ao uso médico.
Oferta e demanda
A Índia é o maior produtor mundial de medicamentos e vacinas. Sua campanha de imunização começou no dia 16 de janeiro e atualmente os indianos dispõem de duas vacinas feitas localmente: o laboratório Bharat Biotech é capaz de produzir 12 milhões de doses por mês da Covaxin e o Instituto Serum, o maior produtor de imunizantes do mundo, pode fabricar até 100 milhões de doses por mês da Covishield, a vacina da Oxford/AstraZeneca.
Mas, até agora, o país de 1,3 bilhão de habitantes já aplicou duas doses em apenas 15,5 milhões de pessoas e uma dose em 90 milhões. Alguns dados são preocupantes. Na semana entre 3 e 9 de abril, foram 22,6 milhões de doses aplicadas. Na semana seguinte, o número caiu para 18 milhões, indicando que a Índia estaria com problemas na oferta de imunizantes.
Por isso, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, suspendeu ontem as tarifas de importação e acertou a compra de novos lotes da Sputnik V, a vacina russa. O governo indiano fez ainda um pedido para que Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson vendam mais doses para a Índia.
Medidas radicais
Uma fonte do governo indiano, ouvida ontem pela agência Reuters, que pediu anonimato, afirmou que Modi analisa ainda a possibilidade de liberar a importação de vacinas por empresas privadas, sem a intervenção do governo. Para acelerar a imunização, autoridades indianas anunciaram que todas as pessoas acima de 18 anos estarão elegíveis para receber a vacina a partir de 1.º de maio.
Os fabricantes de vacinas também foram instruídos a fornecer 50% de suas doses mensais ao Laboratório Central de Medicamentos (CDL, na sigla em inglês), chefiado pelo governo da Índia, e oferecer o restante aos governos estaduais e ao mercado aberto.
A medida foi tomada porque muitos Estados vêm enfrentando escassez de imunizantes, sendo obrigados a suspender as campanhas de vacinação em várias regiões do país.
A situação da pandemia na Índia é importante para determinar a oferta de imunizantes em outras partes do mundo. Em março, o Instituto Serum avisou que atrasaria o envio de doses prontas da vacina de Oxford para a Fiocruz e alertou que deve atrasar as entregas de vacinas para o consórcio global Covax – uma coalizão de organizações internacionais apoiada pela OMS.
Mas o impacto vai além das vacinas. A Índia também proibiu a exportação do remdesivir, antiviral contra a covid-19, e de insumos farmacêuticos utilizados para a produção do medicamento. O remdesivir pode acelerar a recuperação de pacientes infectados com o coronavírus e é o único remédio recomendado para o tratamento no Brasil com aprovação da Anvisa. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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